olhou feito flor no vaso. Feito flor no vaso, que está ali, olhando através de tudo, mas sem se deter em nada. Pensou vago, como onda que vai e vem sem se deter; pensou em coisas sem se decidir sobre elas, se iria ou ficaria. Mas um senso moral lhe dava o norte...pensou que épocas atrás era tudo tão simples. O problema é que já lhe tinham cantado a bola, mesmo que ele não acreditasse.
Pôs a mão sobre a testa como quem psicografa, anotando no verso da propaganda da festa o seu verso sobre tantas festas passadas. Olhou sem direção - de novo, feito flor no vaso. E quando pensou que uma hora isto haveria de se resolver, sentiu o frio na barriga, medo - de saber verdades, de nunca descobrir as mentiras. Passara uns dias atormentados, embora às vezes até conseguisse se concentrar. Noutros, era o mar, indo e vindo, vagaroso.
Anotou sensações no verso das contas, pensando no conto que era sua vida - indefinido, irônico, mas gostoso de se viver. Se aquele momento tivesse trilha sonora, Strokes tocaria ao fundo, não duvide. E concluiu: estou ficando louco.
[Muito café, por favor, amargo e quente. E põe depois Muddy Waters pra tocar, porque pra desligar o pensamento, só com algo que o preencha e faça esquecer tantas vontades contraditórias.]