sábado, dezembro 19, 2015

Sujeito de sorte

Suspeito que a vida seja uma questão de sorte. 
Nem sempre o trabalho garante as contas pagas; não são poucas as pessoas que conheço que muito trabalham e têm pouca estabilidade financeira. A maioria não quer grandes coisas, sequer quer "coisas", assim, no plural; muitas eu sei que só gostariam de trabalhar menos e ter mais tempo, ou um cantinho próprio para descansar com a garantia de poder estar ali no próximo mês. 
Da mesma forma nem sempre gostar é suficiente para ficar juntos ou garante que tudo fique bem. Nem sempre a boa intenção garante uma recepção justa e positiva do sentimento; nem sempre demonstrar carinho garante que a pessoa ache importante recebê-lo.
Nem sempre o esforço assegura o sucesso, o que quer que isto signifique. 
Nem sempre se alimentar bem e fazer esportes garante a saúde.
E o bom tempero nem sempre garante um bom prato.
Penso um pouco e parece que: não acredito tampouco no acaso ou em deus como essa entidade que se usa para justificar as coisas que não nos são favoráveis. Em geral as coisas ocorrem como uma resposta às nossas ações, mas há fatores e fatores, e o conjunto destes fatores nos guia no presente. Não acho que exista finalidade regendo nossos dias, um destino. A sorte acontece ou não nos momentos. 26 anos atrás tive a sorte de nascer numa família maravilhosa; essa sorte ocorreu em outros momentos, quando fiz grandes amigos, conheci pessoas especiais, quando a filosofia entrou na minha vida. 
Se não há destino nem acaso nem deus nem o diabo nem bem nem mal, o que existe para além de nós? Suspeito que haja um grande nada e tudo pela frente. 

sexta-feira, dezembro 18, 2015

Fora de questão

Sinto um cansaço ancestral, o corpo se esgotou, a mente está num estágio de devaneio. Sigo entorpecida; tenho satisfações, lapsos de bom funcionamento, resultados recompensadores, mas desgostos profundos - o problema nem é a rejeição, mas a transformação da pessoa antes querida numa figura de arrogância e de reforço negativo. Me explico: não quero o que me faz mal, o que faz questionar o que sou, minha capacidade e meu valor; aceito de bom grado a crítica e a preferência por aquilo que não sou, mas quando isso colocado de modo a me fazer sentir pequena, boba, confusa, errada e feia, nada de bom isso me acrescenta. Por momentos o trabalho me forçou a ter lucidez enquanto mentalmente eu estava deitada em posição fetal, questionando todas as escolhas feitas há tanto tempo e concluindo que só cheguei a este ponto porque tenho me mantido num caminho que não é o meu e que deve ser mudado. 
Mas tenho andado pelas ruas atenta. Há vida, crianças, cachorros. Foi um ano bom. Alguém que não vejo há tanto tempo espera por mim. Jogo os dados, rimos todos enquanto ensino e aprendo; nunca aprendi tanto quanto agora, que ensino.