segunda-feira, dezembro 29, 2014

Liberdade e autonomia

Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção, esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja

A liberdade é questão fundamental e surge nos mais variados campos da vida. 
Alguém é autônomo se é autossuficiente, no sentido de que tem a si mesmo por referência, se relaciona apenas a si, ou seja, está consigo mesmo ou junto a si. Já para ser livre é preciso o estar consigo mesmo no outro, in seinem Anderen bei sich selbst zu sein, mas a alteridade exige reparos constantes até alcançar os breves acertos. 

Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente

E

Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão

sábado, dezembro 20, 2014

Cê sabe que a casa é sempre sua

Uma noite a vida me empurrou para o Bukowski. Depois de sofrer ridiculamente por alguns dias com direito à trilha sonora visceral de Maria Bethânia, eu começava a me recuperar de uma paixão precocemente interrompida quando Mulheres me saltou à mente e a cada parágrafo fui entendendo o hype, murmurando interiormente "Hank, seu puto!", até captar com surpresa o Hank sentimental e apaixonado. 

Amores serão sempre amáveis.

quinta-feira, dezembro 18, 2014

Heaven

Um grande indicativo do quão brega-emocional me tornei é a a paciência para assistir esta pérola dos anos 80 que é o videoclipe de Heaven, de Bryan Adams. 


É que de repente, e não menos ridiculamente, essa coisa de baby you're all that I want when you're lying here in my arms faz todo o sentido do mundo apesar do constrangimento gerado pelos mullets e as televisões rodeando Bryan Adams e de eu não entender, de modo algum, o conceito do clipe. Mas é que essa instituição da vida adulta que não pretendo nomear, mas que usaria alguns sinônimos para definir como "gostar de", "sentir uma saudade danada" e "sofrer pra caralho" começou a rondar minha vida num momento nada propício.
O conselho mais justo e que mais acalmou continua sendo não pensar sobre essas situações atuais que me deixaram com os nervos à flor da pele pois quem sabe ignorando-as, elas deixam de existir ou se resolvem sozinhas.  

quarta-feira, dezembro 17, 2014

Um pedido de ajuda para as Hempstock no dia de hoje

Como o protagonista de O Oceano no fim do caminho, hoje eu só queria ter o dia recortado e costurado delicadamente. Talvez não só o dia, mas alguns dias, semanas, e de repente voltar ao momento exato no qual eu ainda não tinha sentido estas coisas todas, esta confusão, e o buraco no peito ainda não existia, e eu não tinha falado coisas que não devia. O buraco no coração se tornou a morada de um monstro a ser combatido apenas, veja bem, pela confiança em si mesmo. Isso tem muito a me ensinar daqui pra frente, em todos os sentidos, em todos os campos. 
A discussão entre "só" e "bastante" é impossível de ser apaziguada e as perspectivas de tempo variam de acordo com quem está no centro: quem vai e quem fica. Isto sou eu, as cicatrizes falam e amadurecimento também significa entender as partes feias e frágeis do meu ser, e pensar como posso lapidá-las, torná-las inofensivas.

terça-feira, dezembro 16, 2014

O velho disco riscado

Nem inferno, nem cidade, sou nada. Não haverá Paris e mais uma vez nem todo esforço foi capaz de superar algo como uma sina. O tempo vai se encarregar de mostrar as coisas feias e ajudar, sim, a superar como nas tantas outras vezes e nos tantos outros desencantamentos. Persiste por enquanto a sensação de que a proximidade destruiu o interesse, mas tão logo a vida reengatar tudo isto vai fazer parte daquelas coisas que algum dia deixarão de ter sentido e representação. E algum dia me será muito claro que talvez ao se denominar um cretino em suas ações erradas, um adolescente, você no fundo nutria um orgulho de ser assim e achava bonito, como se isso o diferenciasse do resto das pessoas. Ou talvez algum dia me será claro que você não estava nem um pouquinho aí mesmo.
Um simulacro imbecil e torto de Casablanca, sem saber qual de nós arriscaria menos a cabeça pelos outros, porque no fundo, apesar de sentimentais, estamos todos em primeiro lugar.

sábado, dezembro 13, 2014

Yellow

Parece que foi ontem que eu entrei naquela papelaria ao lado do meu restaurante favorito pra comprar uma agenda pra 2014, porque não estava dando conta dos compromissos - não porque fossem muitos, mas porque eu me perdia e já não acompanhava o ritmo. Aí neste meio tempo essa agenda acompanhou muita viagem e mudança, ganhou muita anotação inútil, compromisso cumprido ou desmarcado, o tempo passou voando e de repente já era hora de comprar uma agenda pra 2015. Antes disso, porém, estivemos na mesma papelaria pra resolver algumas das suas questões práticas e uma parte da minha vida se abriu ali. Nos despedimos até-não-sei-quando (sei, mas não sei se) e o meu coração foi ficando pequenininho como se precisasse de muito tempo pra curá-lo. Porque as despedidas sempre acabam comigo, em especial neste caso, pois não sou eu quem parto, mas fico. É realmente difícil voltar pra casa e encontrar a comida pela metade (o bolo, que de cada pedaço que eu partia pra mim, você comia um pouquinho) e os fios de cabelo curtos e claros na minha cama sendo que a contagem regressiva ainda nem começou, na verdade. Faço a menor ideia de como vai ser ou se eu deveria esperar algo - na verdade: não, porque a sua visão romantizadora do mundo precisa de alimento real e não de ideias. De forma parecida, estes elementos materiais me legaram uma lembrança ao menos acolhedora daquele jeito de estarmos juntos do modo mais colado possível, deitados, abraçados, com as pernas entrelaçadas ou as minhas por cima das suas.
A sensibilidade que você diz, ela pode ser verdade. 

Boyhood é também sobre o tempo. Os 15 anos de Mason foram em algum tempo os 15 anos da filha de Ethan Hawke, celebrados com o Black Album. É bonito e essencial que os anos de Mason também sejam os de Samantha, dividindo o quarto, aprendendo juntos a atirar, indo a festas, iniciando os relacionamentos. Boyhood é sobre todas essas coisas que têm seu tempo, mas passam; todas essas coisas que têm sua beleza datada, estas coisas meio inevitáveis que a maioria de nós vai atravessar ou presenciar. Talvez por isso seja tão difícil falar sobre ele. 

terça-feira, dezembro 09, 2014

Uns dias em três atos

I. Você saiu e imediatamente eu percebi que deveria escrever pra guardar alguma coisa desse momento, do seu cheiro, do seu jeito de falar poesia logo de manhã, de abrir o jogo e ao mesmo tempo ser direto sobre os assuntos que não quer abordar. No fundo você é um pouco eu e eu só queria dizer ou ter dito o quanto adorei esse encontro que eu já nem esperava, e que talvez foi bom exatamente porque eu nem esperava. Eu vou levar um tempo até decifrar muitas referências e entender sobre as cidades; quem sabe eu até vou precisar de todo o tempo que você estiver fora domesticando umas cidades sob os seus pés. E vamos aprender a lidar com o impulso de falar o que pensamos sem que isso nos magoe. 

II. Justo hoje me chegam mais referências sobre o Boyhood e sua trilha sonora não-meramente-fictícia. O Black Album foi criação real do Ethan Hawke pro aniversário de 15 anos de sua filha. Assistir este filme se coloca pra mim como uma imposição, e urgente.

III. Eu li hoje Bruna Beber falando sobre o papel 40kg. Ela concluia: "diga a seus amigos, numa manhã comercial, que você está com saudades de algum item afetivo da sua infância e eles vão entender automaticamente que você tá com saudade deles". Fiquei pensando nesta ligação entre o material e o afetivo e é o tipo de coisa que faz muito sentido pra mim. A vitrola, os panos bordados, certas roupas de infância...E, mais que isso, o sensorial: o cheiro da vitrola, o cheiro da madeira do violão, o cheiro dos bancos do prédio de Letras, o cheiro da coberta velha, cheiro do pão francês com queijo e pepino na madrugada da viagem pro Rio.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Obliviousness

Não esqueço as chaves porque tem dias que não saio de casa.
As louças se empilham na pia, cozinho pouco, como com pressa. Esqueço como se diz aquela palavra, os trabalhos acumulam, as ideias brotam de modos desconcertantes.
Faço o que me disseram pra não fazer. Insisto, uma vez só, na ideia que me mandaram abortar. 

I like things that look like mistakes

A vantagem de andar assim esquecida é que, quem sabe, te esqueço logo, paro de perseguir as horas e de aguçar o ouvido esperando o chamado.

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Qual praia?

O que é do sonho: o perigo, o salto, o mar bravo, mas cristalino, cheio de pedras. A dúvida e a incerteza, mais que a insegurança, o achar-um-caminho, o me-perdi-dos-meus, o abandono. 

O sonho foi a dimensão do sentido atualíssimo da minha vida.

Comprei comida, providenciei carinho e proteção, esperei notícia, ligação. E na espera desaplaudida refleti sobre mim, meus limites, meus alcances. 

Me and You
What can we do
When the words we use
sometimes are misconstrued

Mas é que parece que em alguns momentos eu me perdi, me abandonei, quando não me pus em primeiro plano todas as vezes que deixei de fazer o alongamento de manhã, de estudar, de ir ao cinema.
Não posso descuidar do interno. Porque toda vez que essas situações ocorrem, dispara o mesmo processo de baixa auto-estima, de se sentir um lixo. Não me interessa satisfação, me interessa consideração de avisar.

Well I won't guess
What's coming next