terça-feira, setembro 10, 2019

Uma aprendizagem sobre entrega e sobre si mesmo

A frase de Loreley, que ainda não se sabia sereia, sai de supetão, transborda em urgência: "Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só"

domingo, agosto 25, 2019

Motivos

"Ich selber wirken? Nein, ich will verstehen. Und wenn andere Menschen verstehen; im selben Sinn, wie ich verstanden habe; dann gibt mir das eine Befriedigung wie ein Heimatgefühl".

sexta-feira, agosto 16, 2019

Íntimo

O mundo dos homens é uma armação construída de séculos: permissões estruturais, disposição interna, lugares que acolhem. Mas há vida em sua ampla totalidade fora disso; há beleza, mas mal entendidos; sol fraco nos dias de inverno, quando a razão retorna ao seu lugar de dor-de-cabeça, Palas Atena nascida da fronte de Zeus: sabedoria, consciência, lucidez, tudo isso tem seu preço. Eu penso que queria retroceder ao momento em que ainda não havia consciência do desejo, do olhar percorrendo o corpo que iniciou tudo (You're probably just having a mid-life crisis, eu pensei, repetindo o filme), do impacto da interlocução, de certas semelhanças e afinidades, da conversa relaxada no ambiente improvável e belo e calmo, algo rústico, algo ingênuo, quando a indiferença e dissimulações forçadas por circunstâncias não tinham razão de ser. Mas não somos seres do retorno:
A gente foi criado para criar
qualquer que seja o motor da criação.
Muitas das produções sobre e além da terra
não escapam às mãos humanas
que fazem casas, pães, textos,
desfechos de histórias, ao menos tentam, 
até que se eleve o incontrolável.
As boas surpresas me chegam quando estou distraída. Poético, mas uma mensagem também castradora: não tenho então o direito de desejar, de querer conscientemente as coisas?

quarta-feira, julho 10, 2019

Refúgio

Para me esconder das chateações e desagrados, daquilo tudo que não dá certo na hora, eu preservei um lugar. É físico e mental; é um destino sublime para onde ainda quero voltar, mas o território da lembrança tem sido mais acessível, uma pasárgada particular. 
Eu pensei muitas vezes durante os processos: quando passar o furacão, eu revisito como posso. As pessoas vão e o mundo é bom: são novos ares, novos impulsos. Mas particularmente sinto um medo danado quando o mundo se abre para mim, um medo de não dar conta, de fazer a escolha errada, queimar pontes e chances.
O que fica depois da tormenta, depois que tudo passa, é um alívio assim ressabiado, como se, subitamente, pudesse bater à porta - física ou eletrônica - um aviso qualquer de que ainda não acabou. Mas eu acho que é só desconfiança em relação à calma, pois o ritmo convulsivo criou certas ilusões de causa e consequência, como se resultados fossem sempre se suceder de modo imediato. Pode ser, porém, que eles sejam gestados lentamente, uma fermentação contida.

sexta-feira, maio 24, 2019

bucólica Geraes

Chão rangendo a cada passo no prédio histórico, janela para uma vista linda: casarões coloniais, morros verdinhos. Um homem tocando Clube da esquina numa ladeira de Ouro Preto numa noite gelada foi a experiência mais Minas Gerais possível. Todos esses cheiros, esses gostos, essas cores, esses sons, essas curvas das igrejas e subidas e descidas; sentar no alto do morro e olhar o sol caindo por trás das montanhas formaram uma sensação iniciada há sete anos, quando estive aqui e era tão outra, tudo tão diferente. Agora que sou quem eu queria ser, vejo bem o que quero me tornar; começo a desenhar os caminhos de execução e escolher os passos para trilhá-los. 


domingo, maio 19, 2019

Prosaico

Tão prosaico, vulgar, sem poesia: assim mesmo, desse jeitinho, é preciso lutar contra o medo e fazer daí uma obra consistente, trazer a público algo para elaboração, equilibrar valor e reconhecimento com modéstia. Estar calmo e aberto, respirar fundo e criar cenários positivos. Um passo de cada vez, é assim que se caminha. 

sexta-feira, abril 12, 2019

Propósitos para o futuro

Distraídos venceremos 
diz o poeta. Eu desacreditava um pouco pois acredito um tanto no trabalho e na consciência, e sequer sei se realmente concebo algo como uma vitória, uma batalha para se vencer.
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
diz o cantor, e sou confrontada com a necessidade de afrouxar o laço para deixar a ideia passar: 
Abelha fazendo o mel
Vale o tempo que não voou

domingo, março 31, 2019

A casa do coração

Uma coisa cruel e bonita é que os lugares ficam: os que percorremos, que pretendi conhecer com você, os que foram objeto de uma conversa. Ainda há duas pessoas ali naquela esquina, ou na frente do cinema, ou andando pela larga avenida, um homem tocando levemente uma mulher no antebraço, na parte da carne macia, ou puxando a mulher para si na sala da casa que visitaram, há uma mulher parada na banca de jornal, caminhando com o sol na cabeça, esperando com cautela o sinal abrir, há dois corpos na cama, uma conversa relaxada, gostosa, torta de legumes, cerveja, café, yakissoba, arroz com feijão, comida indiana. Há este homem e esta mulher no território da lembrança. Toda vez que sinto tristeza por tudo isso que se dissipou no tempo, nos encontros que foram se tornando mais escassos e mais curtos, eu tenho que conceder a mim mesmo o direito de pensar que há beleza no mundo. (02.07.2018)

Um texto pode precisar de meses, talvez anos, para vir à efetividade sem doer; uma lembrança pode carecer de muito tempo para despertar beleza sem reabrir um buraco no peito. 

quarta-feira, janeiro 09, 2019

Ornamento

Olho a igreja em seus detalhes. É preciso tempo, sentar-se confortavelmente, sossegar o espírito, minimizar os ruídos e diminuir os barulhos que adentram da praça da Sé até sentir, ouvir a atmosfera ondulando na fronte, passando entre os ouvidos. E então: levantar os olhos, mirar as pilastras, os feixes de colunas que conduzem os olhos sempre para cima, onde encontram os ornamentos. São repetições não exatamente geométricas, mas padrões vegetais, ramos com as folhas pequenas levemente descoladas da construção.


Fonte: http://www.imagens.usp.br/?attachment_id=8909

Mais acima está o teto de abóbadas de arestas, um céu pontudo sob a floresta de colunas. 

sábado, janeiro 05, 2019

As casas

O olho da maçaneta via por dentro e por fora - aqui, nesta casa pequena; na casa de meus antepassados; até nos cômodos insuspeitos de construções esquecidas. Meu pai nos dizia da casa antiga no sítio da minha avó, desenhava os cômodos como eram antes da reforma. Me lembro vagamente dessa casa de antes, pouca coisa das paredes com a pintura estufada e descascada, as janelas com tramela, as vigas de madeira do teto sem forro. Não conhecemos as casas anteriores da minha mãe. Eram mais pobres, especialmente as da roça paranaense, isoladas numa existência árida. Mas em todas estas casas havia o gérmen, o meu gérmen, o gérmen de nós que estamos presentes agora, pois tudo é e vem a ser através daquilo pelo qual se torna.