domingo, março 29, 2015

Uma década

De volta a 2004:
ouvíamos Dead Fish. Tão Iguais me fazia arrepiar desde aquela época; é engraçado como nos ciclos as sensações se repetem: esta música é atual? Ou atemporal?

sábado, março 28, 2015

Antídoto

Em todas vezes que se aproximam essas sensações sabidamente ruins, contraproducentes, eu busco conscientemente o que possa me fazer bem, me fazer feliz e forte. Reconheço a beleza e o erro, que me ajudam a equilibrar o tratamento e a humanizar o exagero. Eles escancaram: 
tudo vai passar!
Como sempre.
E no final, o que resta sou eu mesmo. Por isso me preservo tanto.

quarta-feira, março 25, 2015

Make it wit chu

Apoiei a cabeça nas mãos, os cotovelos sobre a mesa. Pensava muito. Ando cansada, ando correndo, corrida, mas forte. Tenho dificuldades com manhãs: o corpo quer a cama, sente frio, preguiça, sono, quer se espreguiçar mas também ficar inerte. Movimentos não respondem aos comandos, mas é preciso levantar, e partir. 

Faço uma tradução, penso verbos regulares. Preparo uma canção e pressinto o momento de apresentar uma beleza a quem menos espera. Ou reapresentar - que mania é essa de achar que mais ninguém conheceria uma musiquinha tão singela? 

Coço a cabeça, lembro de imagens. Frases soltas, pedidos. Again and again, anytime, anywhere. Me vejo nessas horas como uma Gibson girl fora de contexto, mas com algo daquela melancolia, daquele pensamento latente quase que pousado na pele e expresso em linhas. Uma figura confusa, um rascunho em branco e preto, pura sombra e traço.

terça-feira, março 24, 2015

O que fica depois da conversa

Sabe, fiquei pensando - como sempre acontece quando conversamos - nessa coisa de ser muito fechada e não gostar de falar de certas (nem de muitas) coisas. Me questiono um pouco: como as pessoas se relacionam? Elas falam mesmo de tudo? Falam de si, da vida, das incertezas, e das incertezas que nem se sabem verdadeiramente incertas? Minha vida não tem grandes coisas: você quer mesmo me ouvir falando do cotidiano, da aula, da musiquinha, de como fiquei feliz porque meu planejamento de aula deu certo, mas cansada no fim do dia? Quer me ouvir falando de mim, atribuindo importância a todas essas coisas que pra você devem ser entediantes, cansativas, todas iguais? Pode ser que eu não queira que você descubra que sou tão sem graça como todo mundo por aí. Pode ser que eu precise de tempo, confiança, espaço, ganhar terreno, preciso te conhecer, preciso que você me conheça e que eu me conheça com você.

domingo, março 22, 2015

Como te leio?

De vários diálogos vinha o aviso que, caso fosse escrito, surgiria em letras garrafais:
"É que sou chato!"
Particularidades não são chatices nem defeitos - são o que nos tornam os que nós somos. A chatice reside só no campo da obstinação, da manutenção das características que sabemos serem prejudiciais aos outros ou a nós mesmos. 
Faço uma figuração, vez ou outra, na sua vida. Nem sempre entendo o que você quer dizer porque seu raciocínio guarda mais do que você apresenta. Acho que você tem um cuidado meio apegado com suas palavras ou ideias. Por outro lado é reativo e nitidamente expressivo quando algo incomoda, se não acha lugar na cama, se está com vontade de ir embora. Já os sentimentos - considerando que os tenha em relação a mim - não expressa tanto, só quando instado a tal. 
Não sei se a gente se entende bem. Você me vê como as pessoas que me são próximas não me veem - mais fechada que aberta à interação. Acho que nem sempre você lê os gestos, como no abraço na esquina o pedido de um beijo e de "fica mais um pouco". Me sinto sempre tomando as iniciativas para não ficar no limbo do seu esquecimento, apesar de ser bem-recebida em minhas iniciativas.
Mas é fato que hoje, enquanto você estava aqui, te olhei de um jeito que não pensei ser mais possível: com cumplicidade, riso, silêncio, à vontade. Penso um pouco mais e edito: sejamos justos, sua sensibilidade não escapa a quem quer percebê-la. Seu cheiro me traz paz e eu que bem gostaria de passar mais algumas horas enrolando esse tanto de cabelo. Gosto da imagem, da fotografia mental composta pela minha mão fazendo carinho no seu rosto, nos seus traços fortes.

sábado, março 21, 2015

Que será isso?

Que será que quer dizer este sentimento pulsando no íntimo como aviso: medo? Insegurança? Reconhecimento de incompatibilidades? Adrenalina?
Jout Jout falava da "teoria da peneira" e de como somos levados a nos modificar - nossa personalidade para restar na peneira de outrem, ou nossa peneira para acolher quem queremos - para causar certos efeitos como engendrar um relacionamento em qualquer nível que seja. Por isso a necessidade de conhecer nossa peneira - em outros termos, conhecer nossas demandas, vontades, desejos, expectativas nas interações.
Levo isto realmente a sério. 
No fundo todo mundo gostaria de ser o primeiro a prever e a poder desistir do que fosse dar errado, não?

quinta-feira, março 19, 2015

Mais uma vez: o trabalho e os dias

Da criação e da criatividade, o ensino. Condicionados ao tempo, escolhemos as frases certas, exatas, pontuais, as explicações breves e funcionais. Apesar de tudo, a resposta positiva sempre me dá orgulho: ganhar dinheiro pode ser duro, mas não precisa ser leviano.

segunda-feira, março 16, 2015

O ovo da serpente

O tempo traz compreensão e experiência pro debate. Espero que ajude a diminuir o receio do futuro e das decisões coletivas. Um mal estar absurdo permeado pela sensação de não saber exatamente o tamanho do risco.
Ressaca energética, definiram.
Tudo muito errado de todos os lados.

sábado, março 14, 2015

Ingenuidades

No fim, meu resquício de crença na magia do mundo reside naquilo de que não suspeitei: nas promessas mais tolas e cheias de indício de mentiras. 
Mas do mundo e de outro me vem enfim um poema:

Eu sou o que rezo pra mim
Joguei fora todos os meus pertences
antes que eu já não os pertença
antes que eu adoeça de apego
antes que eu só viva o fora de mim
Fico com o que me é mais caro
Minha saúde
Minha disposição ao sorriso
Meu livro de escrever poemas
Minha mente livre
(ausente de dor)
e, é claro,
meus lânguidos amanheceres
que duram até o por do sol.
O segredo não é saber viver.
O segredo é viver sem saber sabendo que se sabe
e estando totalmente presente
no instante do nada que compõe o tudo em mim.
(via Negra Anastácia)

quinta-feira, março 12, 2015

Alvorada, o sonho de hoje

O sonho de hoje concerne ao sublime. 
Do alto do penhasco nós todos víamos as águas invadindo o campo e levando embora nossa guia da trilha. Foi carregada e jogada de um lado para o outro como se fosse uma pluma sob a força da correnteza até sumir na espuma. Nada fizemos - nem seria possível, ou?

Anna Bolenna

Pouco dinheiro, um tantico de rejeição, muita preocupação e tentativa, mas mais satisfação que frustrações, sejamos justos. 

terça-feira, março 10, 2015

"Você é a saudade de quem?"

Pixado na rua: 
"você é a saudade de quem?"
Aparentemente deve ser algo terrível, nesta perspectiva, não ter alguém ou não ser de alguém. Implicitamente se conduz à ideia de que se ninguém nutre por você uma paixão louca, doentia, dessas para toda a vida, você não deve ser lá grandes coisas. É como se o sentimento do outro em relação a você fosse um prêmio. 

segunda-feira, março 09, 2015

Não se faça

With no loving in our souls and no money in our coats,
you can't say we're satisfied.

Não se faça de interessado, este é o tipo de pergunta que não se deve fazer de volta sem querer verdadeiramente saber a resposta.

But you can't say we never tried.
Ou que eu não tentei.

terça-feira, março 03, 2015

Do cotidiano

Seis horas da tarde e o cheiro de incenso aparece não sei de onde - entra na casa pelas janelas ou ralos? Faz um pouco de frio e a cidade começa a ficar cinzenta nos fins de tarde sem horário de verão. Aos poucos resgatamos os agasalhos do baú e só o ritmo frenético dá uma pausa na nostalgia que sorrateiramente aparece e nos invade. 

domingo, março 01, 2015

Detalhe

Jeff Buckley e seus dentinhos, caninos salientes, aparecidos nas poucas vezes que ele sorria. Mas quando gritava, quando cantava invocando forças internas, fechava os olhos e contorcia o rosto numa careta que os deixava evidentes - os caninos.
Havia também a camiseta branca, larga, esgarçada. Vez ou outra a camisa xadrez, mas sempre as botas pretas pesadas.
E inexoravelmente o olhar perdido, angustiado, angustiante.

Fotografia

Quando você partiu, eu sentia dores físicas, no peito. Sufocamentos estranhos e vazios desconhecidos. Estive por dias irreconhecível. Mas, sobretudo as "dores não catalogadas no mundo físico".
E quando mal retornou, das primeiras coisas que me disse foi que sentia uma dor tão forte por ter deixado aos seus lá.
Eu te compreendo, neste ponto. Sei sim como é, mas não disse, pois não devo explicar certas coisas.
Conversamos amenidades e descrições de fotografia. Você me conta que tirou retratos, eu sou remetida imediatamente à leitura recém-acabada de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino: Cauby é fotógrafo e desperta para Lavínia por conta do retrato dela na loja do chinês - justo ela, que se interessava por fotografar tudo, menos retratos. Eu não saberia enunciar exatamente se era a luz, as feições, o olhar escuro ou o quê mais que o atraíam e que o levou a fotografá-la infinitas vezes, compondo o mural perfeito. Mas no final, da melhor fotografia, do derradeiro retrato, só faltou a prova material.