terça-feira, abril 27, 2010

o céu em faixas

porque quis ver as torres, subi ao alto
e daqui o céu era perto.
Em tonalidades tingidas de tristeza-pouca
daquelas que se tem de sábado, passada a festa,
a banda, a música, a dança,
o gosto, a chance, a vida que não volta.
Mas a vida vai em frente, em frente vai e segue
e os avisos, as faixas, apontam para frente;
deixando pra trás algumas palavras cheias de mágoas,
deixando pra trás a luz do fim da tarde caindo nas árvores
e deixando pra trás cinco, dez anos.
O que a gente era, o que a gente fez, o que a gente quis
pra onde foi tudo isso?
E onde está agora o que seremos e faremos e desejaremos no futuro,
se é verdade que tudo tem seu lugar no mundo?
E onde ficou tudo o que podia ter sido e não foi?
Mudo de posição; eu, mudo, frente às palavras,
eu mudo porque preciso - mudança e silêncio se imbricam.

domingo, abril 25, 2010

dance of days.

as horas, os dias, semana. Tempo, capaz de fazer ver as coisas como elas são, isto é, sempre diferentes. A luz da noite passada não era amarela-fraca como essa; o bom é que acho que vou dormir bastante, e bem...vai saber, até vou sonhar um sonho bonitinho, daqueles com jardinzinho e florzinhas, meio paisagem holandesa. Não é que amanhã é um dia melhor, mas sim que cada minuto é um minuto melhor, sob nosso próprio risco.

sábado, abril 24, 2010

uma má pessoa

me senti hoje uma má pessoa. Tipo de sujeito chato, sabe? Daqueles que quem atura é só por obrigação, que atrapalha, que magoa, não sabe ser doce, e de modo algum cativar. Nesse sentido, a gente colhe tudo o que planta mesmo.
Ainda que as circunstâncias não fossem adequadas, é bom saber que é assim. Ruim é ser assim. E pior ainda é a questão - como mudar? Se isso sou eu, o que vale mais: uma personalidade forjada ou o eu sincero, porém não muito amigável? É um dilema que me acompanha desde há muito tempo; não digo que me atormenta, mas me faz pensar. Enquanto voltava pelas ruas, me senti a pessoa mais sozinha do mundo, como se diz, mais solitário que um paulistano. E de novo vem: a gente só colhe o que planta.
Saindo do puro solipsismo, porém, as conquistas de quem quero bem me dão uma paz e uma alegria tão calma, como se alguém dissesse que todos no mundo têm sua vez. Entretanto, ainda acredito: viver é muito perigoso.

sexta-feira, abril 23, 2010

o que é que vem?

havia escrito tanta coisa, e sem querer apaguei tudo. E agora? Pra onde foram as palavrinhas tão bonitas e até singelas, pois que falavam de coisas tão banais e felizes?
Tudo se ajeita, no céu esbranquiçado, mas pouco azul. Cortinas amarelas, é quase um quadro. Toalha roxa, como a minha, é tudo um quadro. E chega de escrever, porque antes do amanhã e do depois, ainda tem hoje. E agora.

sábado, abril 17, 2010

um mundo onde as pessoas sempre vem e vão

Meu mundo é um mundo onde as pessoas sempre vem e vão. Sempre vem e vão, mas seria bom se fosse um mundo em que todos soubessem exatamente o que fazer a respeito do que se quer. Eu tive umas certezas a respeito do que fazer; tenho tido, e pensado. Do nada as surpresas brotam como flores em pequenas árvores; e uma dorzinha que se repete, besta, boba. Como um palhaço no meio do asfalto, o espetáculo da vida me impele sempre em frente.
"Eu te escrevo e te conto de lá"

quinta-feira, abril 15, 2010

a beleza perdida

dos olhos, da visão antiga. O solzinho fraco das quatro da tarde despertou aquela nostalgia brava. Acho que este monte de adjetivos que tenho usados são do aprendizado do alemão, só pode ser, pois que nunca fui de fazer isso. Às vezes a gente não é daqueles...
Sem parâmetros, são parcos os recursos de julgamento. O que você quer, me perguntei do alto do solipsismo idiota? O não saber quanto ao querer me tem sido familiar, embora numa análise mais acurada seja estranho - como assim, não saber o que se quer? Algumas coisas a gente sempre sabe que quer, um bom café e o silêncio interno. Engraçado como às vezes o próprio corpo denuncia a tempestuosidade interna, numa espécie de retomada da metáfora do mar: no mar a superfície se agita, enquanto por baixo é calma; na alma, tem-se o oposto.
essas culturas são diferentes: aqui, à noite todos os gatos são pardos. Na Alemanha, todas as vacas são pretas.
e se numa esquina qualquer...será que você vai fugir? E se você for, eu vou correr?
Isto tudo também se poderia chamar Sobre fugas e não-fugas. A gente corre daquilo que não pode enfrentar, não daquilo que não quer.

domingo, abril 11, 2010

pus nessas linhas o desalinho

deste sábado morto - cansado, mas pateticamente contente, como na foto sobre a mesa e na mente. Na cabeça um milhão de agradecimentos por tudo o que se quis que desse tão certo, num agradecimento que se espalha sem se esvair. É possível ser feliz de muitas maneiras, não é? Tantas são as coisas capazes de tornar um dia bom - e há aquelas capazes de tornar os dias subsequentes ainda melhores, porque são impulso ao trabalho, esforço contínuo. Todavia, sem julgar seu caráter de efetiva contribuição para a vida, fato é que diversas são as coisas que nos fazem sorrir. E sem perceber vamos trilhando nesse equilíbrio vacilante pelas linhas tortas, mas das quais não vemos o fim.

sexta-feira, abril 09, 2010

as melhores sensações

e as mais singelas envolvem as coisas mais naturais - no caso, a realização de algo que tanto se esperou. Mais do que tirar das costas o peso, o que vale é o sentimento de ser capaz de realizar algo a que se propôs; essas coisas nos jogam de frente a uma simplicidade besta e potente. E então é como se tudo fosse possível, uma força extrema...e mais esse ar que dá vontade de dormir, mas de ficar acordado pra não perder nada também.
Vi figuras quase familiares ao longo da semana, mas na maior parte eram apenas exteriorizações de vontades - mas, descobri, elas não são fundamentais para minha vida. Há outras coisas capazes de me fazer sorrir sem sequer perceber, coisas reais, como o simples som da voz, ecoando duas palavras - as palavras, potências.

sábado, abril 03, 2010

Boomerang Blues

e de repente já faz um ano, e de repente as pessoas estão longe. Algumas voltam, outras se afastam definitivamente (ou nós as afastamos?), por outras morremos de saudade, e há outras que morrem sem ser de saudades. Mas isto não é uma "canção" sobre tristeza ou dor pós-trauma, porque sequer é uma canção; há de ser apenas um desabafo, que não é triste nem alegre, mas que se presta a todas as emoções que nos atingem. Uma morte e seu choque - tudo parece sempre tão longe, e sobre o passado é como se não houvesse movimento; a vida e seu choque também - como negar que tantas coisas acontecendo o tempo todo sem parar, nunca há pausa, não nos choquem também? De repente faz um ano, é um choque o quanto a gente muda nesse tempo e o quanto as pessoas mudam neste tempo e o quanto as coisas, as circunstâncias mudam nesse tempo. Isto não é uma canção triste, é apenas realista, e talvez não queira dizer nada sobre algo que efetivamente aconteça, mas sobre como ME acontecem as coisas; puro egoísmo.
Com começo e fim, é assim que são as coisas. Ainda bem, porém. O efeito das coisas sobre mim é sempre atrasado: toda dor e alegria e cansaço e paz vêm com umas horas (ou dias) de atraso e reflexão, às vezes irrefletida. Aqui as coisas se movem naturalmente, surgindo novidades das mesmices, e começo a sentir falta (falta, mas não saudades) daqueles outros horizontes. Lá e aqui, eternamente dividido. O bom de não estar integralmente em lugar algum é saber que a gente se espalha sem se dividir de fato, mas só a se multiplicar.