sexta-feira, dezembro 31, 2010

feliz ano velho:

o título é do Rubens Paiva, mas a história é domínio popular, dominó de acontecimentos ao longo do ano que fazem com que se queira se despedir dele. Eu, de minha parte, só aceito um ano novo se ele for realmente novo. Penso tanto, essas datas são propícias; lembro tanto, esse tempo é propício. Mas como começar algo novo preso às velharias?

Wir sind helden.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

o que eu também não entendo.

Tanta gente, tanta gente. Tanta coisa, tudo. Muita rua, muito pano, roupa, riso, palavra, desejos bons, é fim de ano, natal e não-sei-o-quê. É muito tudo, quando a gente descobre que precisa de pouco, um pouco que a gente nem sabe mais o que é, ou como medir - se é o pouco de uma presença, presença por telefone, por pensamento, ou ao vivo, a cores, naquelas cores de musical dos anos trinta. Parecia personagem de uma história surreal. Metade de mim é saudade...
Quase perdi o que acabo de escrever, da mesma forma que parece que vou perdendo outras coisas. E me perdendo por aí, como diz o médico, como quem está lutando, tentando. Foi impossível não rir de uma definição tão correta, no fundo, e sem se saber.

Saudade, daquela de romance. Saudade do que se quiser: tanta gente legal que eu conheci e me faz falta. Deveria ser um tempo de reflexão, introspecção, mas quando eu estou sozinha, agora, me assaltam tantos pensamentos que não deveriam, que não tem porquê...Eu vou aprendendo um bocado, não canso de repetir, mas a duras penas. Não achava que viver fosse tão duro, mas é o preço do mundo. sei lá. Sei lá, como em outras épocas, só sei dizer "sei lá", "não sei", em diversas línguas. Diagnóstico de uma época perdida: meus vinte e poucos anos.

terça-feira, dezembro 21, 2010

dezembro.

Vou marcando os tempos, marcando à tinta na pele. Algumas coisas se vão, e tá meio difícil escrever...falta de...sei lá. Sinto tantas saudades. Como isso é possível? E como é que se faz pra isso passar?

Tinha melhorado. Não que agora não esteja bom, mas tem uma dor, dorzinha besta lá no fundo, como sem ter porque.


sexta-feira, dezembro 17, 2010

arrumar as malas;

é como se diz: depois de tanto viajar, será que existe um porto?
Eu não sei. Não gosto de fazer as malas; dá um trabalho, sensação de que algo será esquecido. A velha sensação ruim ao saber que algo vai ser inevitavelmente deixado pra trás...tão difícil lidar com isso, ainda que todos sejam mais hora, menos hora, deixados pra trás. É que ninguém quer lidar com isso deste jeito, tão seco, tão cru - mas eu sou seco, tomo decisões abruptas...ao mesmo tempo que as histórias ternas me tornam triste e calmo e sentimental.

São Paulo fica tão bonita à noite, e mesmo quando chove. Dias há que tudo convém na hora exata, o terrível é que esta imprevisibilidade faz dos mesmos dias um ponto de retomada de lembranças. Aos poucos cada cena do filme, cada cena da rua, foram me deixando vulnerável, queria voltar pra casa, me refugiar com meus livros no pequeno apartamento e espantar qualquer possibilidade de cruzar com os velhos fantasmas que, algo me dizia, voltam a rondar. Indiretamente, warning sign; mas se há um mês e mais isso fazia sentido e preenchia expectativa, hoje me dá o impulso pra ir pra longe, onde não haja encontro, fora desta esfera na qual acho sinais o tempo todo.

Sabe, queria tanto um café, mas não tem água aqui hoje. Deveria eu dormir? Cheguei no limite do esgotamento mental e saí dele, mas estou prestes a retornar.
Pensando bem, estamos todos a buscar a excelência - tentando acertar o ponto exato. Há uma progressão nas tentativas, se isto consola....
E pensando mais ainda, esses tempos foram construtivos. Aprendi um bocado a me virar, segurando a barra mais sozinho. Caio F., venha a meu auxílio, porque o cansaço começa a impedir de pensar.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

um dia, e outro dia, e mais outro.

E essa São Paulo assim, no meio da chuva. Tão cinza, tão abafada, um calor no vento fresco. Absurdo um bicho voando no meio dessa chuva, sabe? Nunca parei pra pensar no que os insetos fazem durante a tempestade - onde se escondem, se abrigam. Eu, pequeno grande inseto, me abrigo no quarto do apartamento pequeno e quente e tão claro hoje. Tenho os ombros queimados e a cara de quem acaba de se livrar de umas lembranças amargas. Tá, elas vão se libertando aos poucos. Mas eu, sinceramente, não encontrei ainda coisa melhor que deixar que o acaso nos traga de volta as pessoas queridas. Risos, sinceridade, companheirismo, vontade de dividir uma vida assim, meio que pela metade, porque cada um a vive de um jeito, mas é sempre bom estar por perto.
"Tenho amigos tão bonitos. Ninguém suspeita, mas sou uma pessoa muito rica".

Às vezes a gente sofre, mas depois descobre que cada um passa um cortado por esses mesmos dias. E dá tanta vontade de ajudar, de tirar a dor do outro como que com a mão. Porque ninguém que a gente gosta merece sofrer - e eu sei aqui por dentro, internamente, que passa, fui aprendendo, mas quando vejo um amigo assim, a vontade é de parar o mundo e fazer tudo, qualquer coisa, que possa aliviar um pouco a dor. Paciência e tempo pra nós, eu peço, e espero, e confio.

sábado, dezembro 11, 2010

Dominique,

Tangerine, Freiheit. Palavras dispersas me vêm à cabeça. E se por um golpe de sorte se encontra aquilo que procura, mesmo sem saber o nome? Um nome, que podia ser mais simples. Olha, sei lá.
Chove fraco, como se o mundo fosse se esvair em água, correndo pro oceano e depois. E depois a gente nunca sabe, né? Se soubesse era até mais fácil, ou não, talvez.
Precisava mesmo disso, de andar por lugares que não conhecia, em que ninguém me conhecia. E lidar com coisas que me acalmam e que não pedem nada em troca, e de repente ver a chuva chegar e lavar o tempo quente, e ver a chuva ir embora e entender que era minha a hora também. E compartilhar de gostos doces, partir sem dizer o nome a ninguém. Quem sabe deu pra ajudar um pouco, vai saber. Uma vez lançada, a pedra é do diabo. Sei é que deixei coisas positivas.
E era um lugar com ruas tipo BH, mas eu era tão diferente um pouco mais de um mês atrás. Envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Tô precisando tanto viajar de novo, nesses tempos que deixam marcas em sua superação. Me diz, que blues você tá escutando agora? Me diz, será verdade a história do Robert Johnson, sabe, o pacto com o diabo na encruzilhada? Talvez eu devesse ir pra Chicago. Back to the land of California, to his sweet home Chicago. Durmo agora, e acordo enquanto todos dormem, escrevo meu livro e mil considerações, refaço minha vida, minha vida. E não quero mais saber de Outro por ora.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

It's over.

Eu sei, eu sei. Eu sei que na dificuldade de tirar algo que é substancial e interior, a gente acaba dando jeito no ser-aí exterior mesmo, mas já é uma primeira determinação.

"Estou desistindo de você, abrindo mão, renunciando, deixando pra lá, tentando esquecer".

Repito: "Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como 'estou contente outra vez'”. Me dizem isso, com ar entre deboche e é-assim-mesmo. E eu sei, porque a gente sempre sabe que alguma hora tem que fazer um esforço sobre-humano pra resolver o que não faz bem.

"Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais".

Hora de uma nova partida, então.

que chova pra carregar embora

o passado. "Declaramos o fim de uma era em que sempre sentimos as nossas vidas morrerem através das janelas". Dou passos à frente, poucos, aos poucos - essas são coisas que eu já disse, mas agora têm um significado tão especial. E é tão pouco - uma peça de teatro tão leve e tão densa, Édipo, Tebas, Destino, mas tão suficiente pra despertar o lirismo que eu precisava.

E como chove...a água despenca junto a Willie Dixon, boy, Caio F., todos estão aqui. Hegel. Todos estão aqui, tudo está aqui. Trago boas novas: de dentro. Decidi deixar de lado os velhos medos, as velhas lembranças, tudo ficará guardado com sabor de...sabor de "um dia", "when we were young, oh man, did we have fun...always". Mas agora é um novo tempo, a new brand start.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

é apenas um período

dentre vários: a dialética não é um método, é a própria ontologia, me disseram hoje. E eu fui aprendendo a ouvir; pensando em quantas coisas já me disseram tempos atrás. Hoje eu sei, mas nem sei se é vontade de rememorar isso.
"De tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa [...], uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros".

sábado, dezembro 04, 2010

pelo avesso,

como se só fosse possível me ver assim, pelo avesso. Na calada da noite, quando nada há a ser esperado ou desesperado - eu só consigo me concentrar aí. Onde está, onde andará, não sei, nem ligo mais. Parecem momentos decisivos, mas o que são eles face à roda eterna da vida, em que nada pára nem é estático?
Olhei ao redor, tudo espalhado, tudo espalhado. Sem sentido, repito: preciso achar um sentido, todo esse papo que sempre achei tão demodè. Nunca achei que olharia pro próprio quarto e veria nele mais que eu. De instante em instante assaltam-me emoções, lembrando, assistindo aquele velho e belo filme. "Sem você, a emoção de hoje seria pele morta da emoção do passado". Estou passando por momentos novos, é isso; nem difíceis, nem fáceis, mas novos, coisa que nunca senti antes: pureza simples de gostar, o baque seco de saber o que não é, não deve ser. Talvez tenha me precipitado, nunca saberei: hoje, cochilando após o banho, o cabelo todo molhado escorrendo no lençol que ainda não lavei, tive um dejavù tão forte, de que enquanto a notícia era dada na TV, eu cogitaria se você ia ligar. Mas da outra vez que pensei isso eu agi e dei o primeiro passo. Dessa vez, nem que eu quisesse.

Vou ficar cheia de cicatrizes, penso. Preciso viajar, penso. Ir pra qualquer lugar, pôr a mim mesmo em ordem. Estes sentimentos todos escorrem e molham o peito, ressecam o rosto, e o resto. Descobri uma coisa que lhe é tão cara: e por esta coisa, lembrança que você insiste em mobilizar, foi que eu percebi o quanto somos diferentes, e que nada há a fazer. As dores da vida...me deixa assim quieta, comigo, não sei buscar ajuda pra esse gosto salgado, inchaços. O corpo responde uma hora, e vira um ciclo vicioso entre o psicológico e o corporal - tudo errado, tudo torto, desconexo, desconcentrado. Achei tão bonito teu ombro salpicado de sardas pequenininhas. E de repente tudo isso não é mais aqui: se não é, é porque nunca foi, dizem; mas será que o que não mais é não é exatamente porque um dia foi? E como algo que foi deixa de ser então? Mas como tentar esquecer algo que nunca existiu: pra esquecer tem que ter existido.

A roda da vida não pára, e isso me serve de inspiração pra escrever. Porém, o que escrevo está como eu: cheio de marcas, meio seco, ou transbordando emoção contida, parece choro de uma vida inteira. Mas na roda viva da vida, nada é eterno, e tudo vira do avesso, e o avesso do avesso.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

when the truth is...

o que eu percebo é que tenho de aprender uma porção de coisas ainda. Uma porção mesmo. Eu nunca escolho resolver problemas quando percebo que vou sair perdendo, mas depois desperto: não é um jogo, não há de ser; é vida. Talvez por isso doa tanto, e os dias ficam meio vazios, momentaneamente preenchidos por coisas que a gente não imagina que possa: estímulos de onde menos se espera que dão uma força pra ficar tranquilo, um pouco ao menos.
Mas toda vez que eu volto pra casa, que eu chego em casa, revejo uma cena como nunca pensei que fosse acontecer. Como nas literaturas e ficções, aquilo tudo: a dor, uma saudade irracional como a de Caio F. Não é questão de voltar atrás - e nem se voltasse, não sei se aceitaria - mas a questão é como as coisas são. É como as coisas são, o indivíduo moderno dividido: entre o que quer o que pode, o que quer e o que deve querer. Parece bobagem-clichê, mas pra mim soava como insistir não no erro, porque nada é errado, mas em algo que dava sinais de não dar certo.
Tá tudo tão em graça, tão sem perspectiva agora. Eu sei que essa ausência é abertura, como nos dias em que nada há pra se esperar, de modo que tudo pode ser esperado. Não precisava de muita coisa, só do que não dá pra ser: que fosse um pouco diferente.

domingo, novembro 28, 2010

o que eu disse

foi pra mim mesmo, ninguém mais tem a ver com nada. O que eu disse é que diria nada que não fosse necessário, enquanto tomasse as decisões justas comigo mesmo.

quinta-feira, novembro 25, 2010

sei lá, ás vezes a gente percebe que precisa

de mais lirismo na vida. De ocupar o tempo com algo que peça tempo no instante exato - mas que peça atenção de verdade, e não algo que a gente ache que merece ser pensado, pesado. Esses méritos são tão relativos.

Mas aí, boy, como diria Caio F - mas aí, boy, quando a gente percebe que precisa do lirismo e tal, de repente aparece uma surpresa. Um presente, uma presença ressurge, o dia fica leve, as palavras pulsam, lirismo, lirismo. E a gente lembra de umas palavras ditas, de um amanhecer e acordar leve, e saca que se tudo for uma grande mentira, o problema não é mais nosso, a insensatez é do outro, se a sinceridade era verdadeira e nossa.

Bancos têm sido tão presentes em minha vida. Foi engraçado ver ali algo que eu intuía há algum tempo, mas não sabia quando seria. Porque se a gente sabe sempre quando acaba, sabe também quando há de voltar. Ah, boy, tô tão Caio F hoje, em estado de graça, leve. Entendo nada, não. Só sei do que é fato por hoje, do que vi-re-vi, na calma de um quase-britânico, eu sempre soube que era assim, diferente. E hoje o dia ficou tão calmo e limpinho, boy. "E ninguém dirá que é tarde demais; que é tão diferente assim..."

E sobre o que não vir, o que escolher se volatilizar, a gente nunca pode mesmo com o que vai dentro dos outros. Se eles se vão, eu continuo meu passo.

terça-feira, novembro 23, 2010

entre propósito e intenção há uma grande distância:

"quem diria que viver ia dar nisso?"
Parecia só um seguir calmo. Aí vieram os contratempos, aí vieram as novidades, os inesperados, as descobertas e resoluções - porque todo retorno leve, toda retomada breve me soa uma resolução de pendências. O engraçado é que agora "estou tão tranquilo e tão contente", sem esperar algo, mas com todas as janelas e portas abertas para acolher as surpresas. Ou o que me surpreenderia mais ainda: a constância.

domingo, novembro 21, 2010

sabia quais palavras

a gente nunca diz porque não as encontra exatamente? São aquelas do despertar, do dia de manhã, ou do dia-depois, do abraço calmo e do olhar. E depois tanta coisa se fez pensar, uns porquês, natureza - sabe quando se atinge um ponto da vida a partir do qual não há volta? Nem sei, nem há música, nem frase do Caio F. pra hoje. Ver a vida se realizando é coisa intraduzível em nossa pequena língua, para nossos pequenos-grandes corações.

sexta-feira, novembro 19, 2010

um trecho sem nada meu:

"Acho que esta é minha última tentativa. Gosto muito de você gosto muito de você gosto muito de você sem pausas. Aos caminhos, entrego o nosso encontro e se tiver que ser, como tem que ser, do jeito que tiver que ser, a gente volta um dia. Da maior importância, meu bem. That’s it! Esteja bem. Queira estar bem. Como se fosse verdade. Se tiver que ser, vai ser."

mas que me exprime pra valer. Hoje, hoje.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Mr. Hyde mode on

engraçado rever Dance of Days. Dança dos dias, mais irônico ainda. Mas eu sei - porque a gente sempre sabe - eu sei o peso desses mesmos dias, no começo de meus 21 anos. E hoje é aniversário de minha mãe.
Fiquei pensando nisso ontem o dia inteiro, faz tempo que ando tão perdido, e ela é sempre um referencial que tinha tudo pra estar perdida também. Ah, sei lá, ultimamente nada tem sido muito fácil de se falar se não as frases diretas. E já é suficiente, não?
Um dia tão cansativo como esse merecia um fim mais bonitinho, pensei...Mas estamos aprendendo a lidar com a dança dos dias.

quarta-feira, novembro 17, 2010

o tempo

que nós temos - suficiente? exato quando bem empregado? Sei lá, só sei do tempo depois que cliquei sem querer no botão errado e lá se foi meu texto inteiro embora, tão bonitinho, tão influenciado pelos últimos acontecimentos, últimos Caio F. Acho que percebo o tempo assim: depois que a festa acaba e vem o dia, e lembro da música que arrepiou. Mas aquelas pessoas todas, não estão comigo no fundo, elas e eu, todos sem parada. Percebo o tempo quando vejo longe pessoas que me são tão caras, e por perto as que já não mais o são - e o que se dirá, senão que as coisas são mesmo assim, e que depois de uma fisgada a dor passa, mas a explicação fisiológica diz que o cérebro guarda o que doeu como mecanismo de defesa. Tão belo: a razão sobrepondo-se às emoções; tão injusto com quem nos faz bem. E ficou tudo por aí.
Percebo o tempo quando percebo que posso dizer as palavras que no fundo gostaria de ouvir, e que não me custariam nada dizer, no fundo, no fundo. Essa "maneira torcida não se tratava de estilo, mas uma profunda dificuldade de expressão" pode aos poucos ser mudada, a cada riso pelas pequenas bobagens que despertam o horário do almoço, com gosto de expectativa, e como sempre Caio F torna claro um monte de coisas que eu tava pensando e sentindo.
Mas pôxa, o tributo é ficar então nessa corda bamba, ora-besta-ora-brava-ora-boba. Vai, porque escrever é coisa que me acalma como nada neste mundo.

sexta-feira, novembro 12, 2010

um nada branco,

calmo, meio vazio, bem quieto - ou com sons de domingo de manhã? Ou com sons que se ouve à noite, quando se desperta na madrugada de terça-feira, na hora em que os carros dormem e os homens sonham sonhos dos quais não se lembrarão...Hoje acordei e não tinha luz, lembrei que precisei fechar a janela pra dormir. Saí cedo, mastigando a maçã quase congelada, e no elevador as conversas triviais eram agradáveis, e no ônibus as pessoas eram simpáticas, e nas lojas os produtos eram bonitinhos, tudo tão meigo, tão friozinho, tão véspera-de-aniversário. Mas eu nunca gostei muito de aniversários, sempre são dias que me deixam encabulada - porque algumas pessoas lembram, porque algumas pessoas não lembram, sabe, mas não é pra ser assim, uma lembrança é coisa que vem espontaneamente. Mas isso tudo é bobagem, conclui enquanto queimava a língua no matemaltine. E olhei de leve pro céu meio nublado, pensei em tanta coisa, em tanta gente, acho que só um agradecimento interior é que exprime o que senti.
Sigo acreditando nas boas intenções, aprendendo a expressar sentimentos, cultivando aos poucos uns jardins que me fazem sorrir e me surpreender, até comigo mesmo. [Last Niiiiight, canta Strokes] Então é isso, penso? Simples assim, calma, paz, gostar - de quê? Tudo tem um objeto, mas às vezes o gostar tem como objeto tudo, porque é de dentro pra fora. Há algumas preferências, eu sei - uns gostos específicos, cheiro, tato, essas coisas. Sei não, acho tão difícil falar. Sabe, nem acho direito alguém que possa falar por mim - nem o Caio Fernando Abreu, nem as musiquinhas de sempre, porque é tudo tão distante...Enquanto a dor nas costas me mata, eu sei o quanto há a fazer, porque a vida não pára...mas quero uns instantes assim, em silêncio bonito, pra admirar e contemplar as pequenas coisas, pequenas frases, pequenos gestos, que me deixam sem palavras. esse é meu jeito de estar feliz.

quinta-feira, novembro 11, 2010

a vida é aqui dentro,

antes de tudo, primeiro de tudo. Antes do julgamento pelas frases que a gente não gosta de ler, pela dúvida entre acreditar ou não no que parece, mas pode não ser...

Vamos arrumar a casa por dentro. O resto vem depois: as músicas, o sentido, o que tiver de ser.

terça-feira, novembro 09, 2010

sem beleza ou novidade alguma,

só com a verdade mais pura e doída na escrita. Anotei as primeiras linhas que vieram à cabeça e pus-me a ler novamente, sobre-alerta o tempo todo, mantido no café, molhando o rosto pra não adormecer no meio da tarde, um algo mais pra despertar, lendo contos do Caio Fernando Abreu até voltar pro Hegel, faculdade, biblioteca - e vazio, espera.
Pausa. Sem o barulho esperado.
Vontade de ir lá, mas sem saber onde é esse "lá". Mentira tudo isso.
Mentira que queria ir ao encontro, pois remoía tudo aquilo que não conseguia entender. O texto calculado da mensagem, pra quê?
Mentira que haveria outras. Pois sequer havia Uma, e se houvesse, não era ela.
Tudo fere, mas alguns são felizes, outros o serão potencialmente. Porquê não? Besteira qualquer, vontade de voltar no tempo. Até nos gestos mais simples se equivoca: pra quê tudo isso?
Muitas perguntas, nem me importo mais de dizer: um pouco do que sinto, e o quanto não sei. Porque tudo vai passar, vai passar.

domingo, novembro 07, 2010

buscando um equilíbrio,

bastante forte pra sair das situações em que entrei, mas fraco o bastante por ter entrado, é mais ou menos assim que Caio Fernando Abreu diz. E comenta também que depois de tanto viajar sem parada, a gente se sente meio estrangeiro em todos os lugares - será que não há um Porto?
Meu porto hoje foram suas frases - cheias de mim mesmo, como é possível? E quando ele diz que "tenho dias lindos, mesmo quietinhos", foi de uma ternura tão grande ler isso, como se alguém me visse de dentro e codificasse algumas sensações.

"Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir o nãos que a vida te enfia goela abaixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezado-como-um-cão, e tudo bem, acordar, escovar os dentes, tomar café e continuar."

"Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas."

Sinto muitas coisas, com intensidades marcantes, nos mais altos tons, - "I’ve gotta tell you in my loudest tones". Expectativas, raivas, gostares, mas tudo isso meio que ficou pela metade, porque as expectativas se quebraram, as raivas estou tentando curar, os gostares se perderam quase, estão por um fio: 'tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação". Nada mais está inteiro, mas hoje quando acordei e andava pelas ruas calmas, era tão de manhã e nem café eu tinha, só tinha tido um sonho bem estranho que me indicou um caminho, uma saída, espero que não seja apenas uma fuga fácil, mas algo concreto. Me canso das superficialidades, odeio joguinhos de espera, de quem aguenta mais: quero resolver tudo o que for possível, se não a vida não caminha. Quanto é que custa ser sincero? Se dói, ao menos passa, e ponto.

Quero só um blues, melódico ou não. Willie Dixon, chocolate, café. E não consigo dizer mais nada.

sábado, novembro 06, 2010

depois que as coisas acontecem,

como é que a gente se sente?
Por pior que seja, é sempre uma sensação de "passou". Depois do pior, não há o que vir, e a gente se sente numa paz estranha, numa garantia de que o gosto ruim na garganta vai passar. Quase uma espécie de libertação...soltar as amarras, deixar ver o que vier. Me olhei no espelho e estava tudo bem, inteiro: e é o que basta para seguir em frente, ou mesmo pra recomeçar.

quinta-feira, novembro 04, 2010

silêncio é beleza;

a beleza da espera, da dispersão, da atenção a outras coisas. O mundo é grande, no fim das contas, mesmo que a gente o tente reduzir ao mero espaço de...nós mesmos, de nosso conhecimento, do nosso alcance. Há sempre algo que nos escapa, eis a graça - bela, beleza.
Depois que se começa a andar, não se quer parar. Em cada passo é uma descoberta, um pouquinho de gosto de divisão entre o ir e o ficar, e nesse meio-termo é que surge o inesperado. E tão logo o inesperado vem, a gente se vê agindo de modo impensável, mas é bom mudar...
Muitas seriam as músicas. Já cantei a saudade - "When the truth is, I miss you"...mas a canção de hoje seria maior, com um quê de coisa que não se explica, mas só se sente.
[...]

segunda-feira, outubro 25, 2010

"vou lá, andar;

que andar é reconhecer, olhar...
Eu preciso andar, um caminho só...vou buscar alguém, que eu nem sei quem sou.

Eu escrevo e te conto o que eu vi, e me mostro de lá pra você...guarde um sonho bom pra mim"

Los é a trilha da trilha. Viajando um pouco desde já, mas lá é que a estrada começa, e eu começo também: a descobrir uma porção de coisas, dentre as quais me acho, me perco, desdobrando em múltiplos.

sábado, outubro 23, 2010

eu tô tentando

aprender a lidar com um bocado de coisas, enquanto me divirto com as surpresas. E gosto das frases sem pretensão, e gosto do que me faz bem. Vontade autônoma é vontade livre para ir ou ficar, descobrir outros pontos. E é uma calma tão boa que nem dá pra contar; vou percebendo o quanto tenho dificuldade pra externar o que penso e as sensações, essas coisas. Gestos simples e sinceros me ganham ultimamente - eu não quero um futuro ou algo que o valha. O presente é que me presenteia.
Retorno, algumas repetições, algumas introduções de novos elementos, como quem planta em certos aspectos sem se importar com o que vai nascer, porque planta de boa-fé.
"O presente é que me presenteia; não quero ainda saber do futuro".

quinta-feira, outubro 21, 2010

Depuração.

Como na filosofia kantiana, a vida vai se depurando. Fico feliz porque consegui resolver muitas coisas hoje; por outro lado, outras se resolveram por mim. Aprendi um bocado, parece, mas às custas de que é outra história. E nem sei, nem sei quais palavras exprimem, nem sei o que causou; fui duma compaixão espontânea à constatação de que há uma passagem da psicologia racional/doutrina da alma, que põe o sujeito pensante no centro, para uma cosmologia, isto é, uma modificação que põe o mundo no centro. E o mundo, em suas cervejinhas com linguiçinha, em suas pequenas alegrias, pequenos sustos, grandes supresas.

"Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido"

"Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo"

Eu começo um novo rumo por onde a estrada vai, sereníssima. Coisas, elas passam. O que fica sou eu, eu comigo, por isso prezo um egoísmo não em sentido negativo; é só que depois de um tempo a gente descobre o que é que realmente importa. Se perdi algo, não sei; nada é meu, a não ser umas saudades. Recebi um email providencial, uma espécie de acaso que veio me dizer o que qualquer um dirá.

"Sabe o que é filósofo, Visconde?"

terça-feira, outubro 19, 2010

'Sabe o que é filósofo, Visconde?

É um bicho sujinho, caspento, que diz coisas elevadas que os outros julgam que entendem e ficam de olho parado, pensando, pensando".
[...]
"A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu".
O Visconde ficou novamente pensativo, de olhos no teto.
Emília riu-se: - Está vendo como é filosófica a minha idéia?

Pensamento é o essencial.

segunda-feira, outubro 18, 2010

não dava pra não ver;

mas alguma coisa aconteceu. Quando alguém se sente ferido a ponto de tornar isso tão externo, é porque algo machucou muito. Vi aquelas palavras, foi difícil não pensar - ou não pesar - nas atitudes que engendram mágoas: de onde vêm, e se alguém as quer de volta. Surge a releitura do agir de acordo com que tua máxima possa ser tornada legislação universal, ou seja, do respeito ao dever. Pôxa vida, por mais bobo que pareça, e por mais que as causas da mágoa possam não ser nada do que se imagina, uma duvidazinha não vai embora...E se....Eu tenho medo, porque no fim das contas nem vale a pena. Calma, peço calma.

sábado, outubro 16, 2010

a escrita nunca é estanque;

porque quem pensa não fica no mesmo, o pensamento corre. Escrevo, leio, reescrevo, e no meio disso outros pontos me interpelam: situações que não são finitas mesmo quando a gente pensa que acabou. A repercussão não deixa os fatos morrerem, descansarem em paz, e causa graça, porque a vida é movimento. Talvez seja melhor assim: fato morto é só lembrança, e sobre o que está vivo, há possibilidade de modificar, moldar ao próprio gosto. Eu sei que talvez fosse necessário um pouco de paz e silêncio, mas se a calma interna é suficiente, a concentração me puxa de volta do mundo empírico e me põe numa esfera só minha pra escrever, pra ficar comigo.
Penso brevemente: há outros fatos a serem reavivados, talvez. E talvez sejam os que eu mais aguardo. Percebe a indecisão pairando - nas palavras, declarações, nos pensamentos? Quem me navega é o mar.

quinta-feira, outubro 14, 2010

O mundo é do tamanho da disposição,

do tamanho dos sorrisos que a gente consegue distribuir sem nem esperar algo em troca - distribuir apenas pelo prazer individual. É do tamanho das boas energias que a gente transmite, do tamanho das coisas boas que a gente deseja. É do tamanho das coisas simples, não duma felicidade de fora, mas da que brota da nossa própria satisfação: com uma noite de sono, com uma aula bacana, com novas palavras, novo olhar.

quarta-feira, outubro 06, 2010

o cuidado da palavra

é saber que ela transmite algo, vai além de si mesma. Quero dizer: o que se diz nem sempre é o que os outros ouvem, ou entendem. A sensação de estar no meio de uma configuração planejada, uma esfera pré-concebida exatamente com o intuito de envolver é tão engraçada! Dá um gostinho de importância, que logo é levado ao chão pela mediocridade desse sentimento - que importa o tamanho de uma importância, se é que ? Justificaria isto atitudes que escondem propósitos? Propósitos que nem sempre se efetivam, e tem-se mudanças de intenções no tempo de uma fala, do primeiro pensamento, do primeiro "porquê". Quanta bobagem: era mais fácil dizer o que se tem a dizer, esses jogos sempre me cansam. Nada neste mundo é prêmio que valha o trabalho da manipulação.

Meu vício agora, é o passar do tempo. É o vento, movimento, é voar. É a beleza que não se acha nas frases-feitas, lugares comuns que dão um prazer fugidio. Pro inferno com as perfeições, belezas prontas: eu acredito no que é verdadeiro, no que quando quebrado, machuca, e se cortar, sangra. O real não é a perfeição: é a aproximação desta.

terça-feira, outubro 05, 2010

olhar dúbio,

mas de que adianta palavras bonitas pra expressar uma raivinha incontida? Raiva pelo que pode ter sido, mas que nunca se saberá...os espaços de tempo são tão curtos, que a dúvida é a última coisa que auxilia. Deixar passar, abrir portas para um tempo que soterre o passado...

"já senti saudades; já fiz muita coisa errada. Já dormi na rua, já pedi ajuda....
Mas lendo atingi o bom-senso"

domingo, outubro 03, 2010

o seu caso é o tempo passar.

Depois de tanto tempo, ouvindo Los Hermanos...Decisões, transgressões, distrações. Passos dados sob pés vacilantes, descobrindo o quão firme se pode tocar o chão sem afundar, enterrar pernas, tronco, braços, cabeça. Muitas decisões configuram uma transgressão ao próprio destino, que não raro dizia algo outro, apontava para algo outro. Mas as vontades estão aí, só precisam ser reconciliadas com a razão novamente. Unidade originária, mas uma paz tão calma povoa a mente.

sexta-feira, outubro 01, 2010

entre estratégias.

Passei o dia pensando menos no que fazer, mas em quando fazer ou como fazer. O tempo é um negócio engraçado, parece longo, parece controlado, e de repente um período inteiro - manhã, tarde, noite - se foi. Mas as aulas foram boas, e a correria corrida tão boa também, com os músculos latejando no compasso da respiração...Vou lendo Nenê Altro sobre o outro lado do cão, mas não consigo lembrar da fonte duma citação que me veio à mente agora, Fight Club, talvez. Ou não.
E nessa brincadeira se foram minutos voados. Caramba, caramba. Minhas estratégias nunca dão certo, os horários fogem. E nada disso importa no fim do dia, quando a gente tem vontade de escrever, enfim...ao som de Muddy Waters, um cheiro de halls toma o quarto e meu café. Há lugar pra tudo neste mundo.

quinta-feira, setembro 30, 2010

as sutilezas

da voz em um telefonema, de longe, não-longo. Olhos marejados, de repente faz um ano já, e mais. Merecem uma pausa esses acontecimentos, nem pra refletir, só pra sentir: saudades, o som da voz, a chuva fraca, um cansaço bom. E quando dormir, sonhar sonhos que amanhã nem lembro.

segunda-feira, setembro 27, 2010

nem tudo tem nomes.

Há coisas que não se explicam, não se traduzem, são latentes só por dentro. Por fora não têm existência, só na nossa cabeça.
E ainda bem.

sexta-feira, setembro 24, 2010

"twenty ways to see the world".

paciência, pra não esbarrar nos muitos conceitos de justiça e agir correto - "Twenty-nine different attributes; only seven that you like". Porque tudo é passageiro, dá essa sensação de que não valem a pena os sentimentos ruins, preocupações, descrenças, decepções - quem sabe o que será da vida daqui alguns anos, ou mesmo daqui algumas horas? Isso consola, mas também impõe indiscutivelmente um vazio, uma quebra, e no fundo não adianta tentar colar os pratos depois..."I'm standing in the wind...But I never wave bye-bye".

quinta-feira, setembro 23, 2010

A razão quase enlouquecida.

De fato, alguns dias são mais Willie Dixon que Muddy Waters, i. é., mais melódicos e menos vibrantes. E nem por isso menos interessantes.

Óculos sujos, conversas em idiomas outros. A gente resolve o que pode, e da maneira como pode, cortando aquilo que, ao que tudo indica, nos corta, ou que induz à perda: de ânimo e de sossego. Ou que induz ao ganho: de tempo ocioso. Entendo nada: as conversas, as intenções, as vontades, os livros na estante. Só sei que toda vontade só é livre quando quer a si mesma, e não a algum objeto outro, algum conteúdo dado, seja de fora, seja pelos próprios impulsos. Deve-se purificá-los, não excluí-los, ou, em outro registro, aprender a lidar com isso e reconciliar os instintos com a razão.

Chocolate, café e blues. Alemães, Hegel era um grande sujeito, cheio de ideias difíceis de entrar na cabeça, mas fascinantes. Quando o mistério é grande demais, a gente não ousa desconfiar.

sábado, setembro 18, 2010

Muito café, e põe Muddy Waters pra tocar.

olhou feito flor no vaso. Feito flor no vaso, que está ali, olhando através de tudo, mas sem se deter em nada. Pensou vago, como onda que vai e vem sem se deter; pensou em coisas sem se decidir sobre elas, se iria ou ficaria. Mas um senso moral lhe dava o norte...pensou que épocas atrás era tudo tão simples. O problema é que já lhe tinham cantado a bola, mesmo que ele não acreditasse.
Pôs a mão sobre a testa como quem psicografa, anotando no verso da propaganda da festa o seu verso sobre tantas festas passadas. Olhou sem direção - de novo, feito flor no vaso. E quando pensou que uma hora isto haveria de se resolver, sentiu o frio na barriga, medo - de saber verdades, de nunca descobrir as mentiras. Passara uns dias atormentados, embora às vezes até conseguisse se concentrar. Noutros, era o mar, indo e vindo, vagaroso.

Anotou sensações no verso das contas, pensando no conto que era sua vida - indefinido, irônico, mas gostoso de se viver. Se aquele momento tivesse trilha sonora, Strokes tocaria ao fundo, não duvide. E concluiu: estou ficando louco.

[Muito café, por favor, amargo e quente. E põe depois Muddy Waters pra tocar, porque pra desligar o pensamento, só com algo que o preencha e faça esquecer tantas vontades contraditórias.]

quarta-feira, setembro 15, 2010

Da pertinência da paciência.

É bom, também, ter que esperar, pensar com calma, analisar os fatos com mais frieza. Nada é tão impossível de suportar, nada que uns dias não resolvam; ou que contar até dez, até cem, até amanhã, ou até à próxima semana, não traga à luz umas verdades inconvenientes, incomodamente necessárias. Há jeitos e jeitos de resolver as coisas, e cada um busca aquilo de que precisa.

Esqueço, esforço-me por esquecer os pensamentos da hora da ave-maria. Penso Tyler Durden, e incrivelmente me acalmo. Ouço internamente Muddy Waters, e acalmo mais. Escrevo, paro, corro, como, café água e suco, leio [leio...leio...leio], escrevo mais, tomo decisões, perco tempo, desperdiço-o em pensamentos vãos. Mas sei do movimento que ocorre às costas, isto é, as coisas que não sabemos se e como foram, como ou se aconteceram, e que continuam a correr enquanto durmo, ou olho pela janela. E então disparo, mergulho em considerações, retorno aos livros, fujo de mim, ou fujo do mundo entrando em mim. As conversas têm sido produtivas no sentido de aclarar perspectivas futuras, ainda que desencantadoras...mas uma hora é preciso pensar no que se há de fazer.

O retorno foi importante, ainda que tenha me posto tão acuado, andando como que de cabeça baixa, olhar furtivo, não de quem deve algo, mas de quem posterga: decisões, encontros, compra de opiniões e ideias, tomada de posições. É preciso saber o que postergar, e acatar com paciência o tempo, aceitar a calma. Distraído, as pequenas-bobagens do mundo me surpreendem, os detalhes. As grandezas, por sua vez, me rodeiam e engolem. O que não tem remédio, remediado está, é o que se diz.

terça-feira, setembro 14, 2010

A canção dos passos e começos.

Um passo à frente - um rumo traçado. Podia ter-se dirigido para o outro lado, mas seguiu por aquele rumo. E então, como sempre acontecia de as pessoas lhe caírem na vida - e então, por ter-se dirigido para o lado, houve um sorriso e o contato inicial foi travado.
Se houvesse esperado um minuto, ou escolhido a outra fila, ou parado um instante em outra posição, não se teriam reconhecido como iguais. E indo um em frente, o outro em seguida aproveitou o caminho deixado aberto, pôs-se perto de longe, num diálogo minucioso, sorvendo detalhes - das unhas, do óculos, do maxilar, do modo idêntico de comer, quase como se mirasse um espelho. E ditas as coisas necessárias, sem prezar conforto fingido, sem se incomodarem com silêncios eventuais, eram sensações e impressões de um filme que ficaram engasgadas, sem serem efetivamente ditas.
E como nunca vira antes, não foi preciso um ponto fixo, algo para depois. Seria o que houvesse - ou não - de ser.
De detalhes se fazem diálogos.

sábado, setembro 11, 2010

blues e o gosto do café:

o que me move a escrever é Muddy Waters e o gosto do café frio e doce, amargando a garganta, à diferença de como costumo ser, mas às vezes é preciso por-se do outro lado, pra descobrir como agir, pra decidir entre ir ou ficar.

domingo, setembro 05, 2010

"I don't see it that way',

eu não vejo isto desta forma, não mais. Porque tudo muda, a vida põe a gente em situações engraçadas, põe a gente aqui e do outro lado, vilã e mocinha. Mas no fundo é tudo tão pequeno face a quão grande se chega a ser quando se age sem pedras, mas na intenção boa, na intenção de somar pra todos. Acho que é pensando nisso que tenho tentado - e aprendido, até - a deixar tanto orgulho de lado, deixando aquelas misérias se perderem no passado que, ocorreu, não se nega, mas com tanto futuro pela frente...a gente pode escolher ser melhor, ou persistir na velha opinião de um "ser assim mesmo" que, ao negar a mudança, impossibilita a melhora.
Tá, tudo bem que o nome do filme nem veio ao caso. Eu sei que ninguém perguntou sobre amanhã ou algum dia, mas acho que é exatamente por isso que tudo ficou bem. Eu não sei o que se segue a isso agora, ou se algo sucederá; eu sei é que eu dei um passo que parece ser um passo atrás, mas pra mim foi o máximo que se poderia ir à frente agora. Fiquei tão em calma, tão em calma, comigo mesmo. Afinal, ninguém é mesmo tão linear.

sexta-feira, setembro 03, 2010

sem porquê.

há coisas sem porquê no mundo, coisas que a gente faz sem porquê. De repente foram horas gastas lendo coisa-à-toa, nem me diz respeito - nem diz mais, algum dia achei que dissesse. Pois o que passou não se apaga, e pode ser que no fundo seja só uma tentativa de entender o que aconteceu. Não só comigo, mas com qualquer um...explicações são alívios, o não-saber é tão angustiante, tem horas. As horas, as horas correndo, passando, escorrendo, literalmente; eu ando tão confusa. Não preciso de análise, preciso de concentração - não pensar no passado, no futuro, nem no presente, mas em algo além, algo que atravessa e une tudo isto, acima e por dentro; substância que explique, complique, mas envolvendo. Filosofia, a Filosofia, o que ela engendra, quem ela prende e torna livre, autônomo e submisso aos seus clássicos. Estou aqui e transporto-me para lá, e nas noites em que todos estão ali e escapam também, tenho às vezes meus momentos sublimes: queria tudo tão em paz pra todos, mesmo pensando "quem diria, eu amigo", somando em vez de subtrair. Há que se aprender a lidar com as mudanças de configurações, mas todos são possíveis, todos são capazes, todos são passíveis de se ajeitar.
Essas metáforas todas talvez indiquem minha incapacidade de me pôr de frente nas situações, buscando sempre subterfúgios. Mas talvez apenas indiquem um jeito diferente de lidar com as coisas, um olhar torto, mas nem certo nem errado: só diferente. Vem um feriado: uma pausa? Não sei, faz tempo que sei nada. Acredito no devir, no porvir, sem determiná-lo, nem querer determinar. Surpreenda-me.

HELP!

foi engraçado, até, chegar em casa e ver os cômodos tomados pelos bichinhos esvoaçantes. Na minha terra a gente chama de Aleluia, mas pode ser siriri também em alguns outros lugares. Daí que o caso era que havia um milhão desses bichinhos a voar pelo quarto, aproveitando o calor e a madeira podre pra qual eu não dera muita atenção. Eu, só pânico; eles, acasalando, explicou um amigo. E meu quarto virou motel então?
Ficou difícil até estudar quando lembrava daquela cena. Nunca fui nojenta, mas parecia que a todo instante me assaltava a sensação das asas caindo em mim, cupinzinhos andando nos cabelos, nas pernas, como pequenas larvas desesperadas. Caramba, pensei, o que fazer? Deixei o quarto aberto e saí fora, com o tempo consegui me concentrar um pouco. "Eles vão embora", me disseram. E até que foram mesmo. O problema foi que deixaram um milhão de asas também, ou dois milhões, dado que cada bicho tinha um par delas.
Conclusões: comprar inseticida. Comprar um criado-mudo novo, porque esse deu cupim e agora já era, tá bichado mesmo. E é preciso comprar um ventilador também. Cacete, que vontade de fugir de casa. Esses bichos entram até no teclado do computador! Antigamente eu escrevia sobre coisas mais interessantes, mas essas agruras deixam a gente irritado. Vou é fazer um café e estudar um pouco, acatando: "despreocupa-se, pensa no essencial"...

quinta-feira, setembro 02, 2010

pausa para -

para o quê? Para o café, para a sensação de vazio pós-compromissos, pra pensar e avaliar o quanto se perdeu e se ganhou. Não sei, dessas histórias todas, se algo foi jogada pela janela, ou se há tempos estava morto, morrendo mesmo. Por outro lado, não sei ainda o que as novas atitudes engendram, os novos passos - fato é, porém, que nada passa incólume, há responsabilidades em cada ato. E que bom, penso também: é sinal do quanto estamos no mundo.
estes tempos são bons, correndo de manhã, e com banhos que renovam. Cumprir algumas coisas faz da gente um pouco mais forte...ouvindo Strokes.

domingo, agosto 29, 2010

arbítrio, escolhas, liberdade.

a gente aprende a lidar com isso, mais hora ou menos hora, bem a como a diferenciar uma coisa da outra. Daí os aprendizados que se tira são dos mais diversos, mas o mais importante - creio eu - é o agir de boa-fé. As distorções vêm depois, mas de início era tudo tão simples e de intenção boa, e até nos deslizes se realizou a proposta: atingir o conhecimento. Disso não reclamo: descobertas demoram, mas não tardam, e mostram o que se precisa ver em cada momento, e nada mais.

Fiquei pensando, dormi, acordei, caminhei e passei pelo sol e pelo vento, ou eles passaram por mim, tanto faz. Pensei tanto, boquiaberta com os rumos e surpresas, com as menores ações que nos levam pra lugares inimagináveis, aproximando o lado oposto que, no fundo é nada mais que espelho. Uma situação me põe em estado de alerta, outra em estado de calma e graça, mas sobre nenhuma das duas sei de fato onde vão dar. Pra uns foi tempo perdido, mas na urgência do momento e da realização da vontade livre não parecia desperdício algum, parecia o desfecho ideal. Vai saber...

A base das relações é o reconhecimento. Me reconheci ali cumprindo um desenvolvimento necessário, mesmo cultivando uma coleção de "erros", dos quais não se diz então erros, mas tentativas, algumas esgotadas, outras não. Engraçado é o retorno ao ponto de início do ciclo, como se isto estivesse fadado a ocorrer desde sempre, esperando a situação e o acúmulo de diferenças, de modo que o retorno traz uma sensação ainda mais forte. Que seja soma, e não subtração, mas acredito que tudo se resolve na nossa responsabilidade e na boa disposição de ânimo, agindo a fim do melhor pra todos. Eu vou ou fico de acordo com o gosto do café, sempre. E agora não acredito mais é no café extra-forte, grão queimado, mas continuo negando em todo caso o açúcar, quero o gosto de verdade. Aceito o doce do chocolate só, e me encaminho para o fim da noite vendo um horizonte meio embaçado e uma lua bela, meia, rumando para sumir e retornar, sumir e retornar.

quinta-feira, agosto 26, 2010

calma.

preciso de calma, porque lembrança titubeia, depois de tanto tempo sem ver. Traz de volta o cheiro fraco e limpo, os olhos diferentes, o olhar diferente. Será possível que o tempo apaga o que não se marcou assim, de fato? Preciso de concentração. Preciso de mais tempo. Preciso de acreditar nos caminhos bons, e não nos que acho que são bons. Nas pessoas boas, não no que me convém. E preciso de desprendimento pra deixar passar o que é livre; forjando asas nos pés - meus, de quem há de as ter - porque nada nesse mundo pertence a um só lugar, mas tudo move, caminha, segue rumos necessariamente. De que adianta estar parado?
Se eu quero liberdade, tenho também de assumir isso como o que posso oferecer. A gente só dá o que tem.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Somas

acontecimentos são como somas: uma vez ocorridos, é sempre um passo à frente e nada pode apagá-los. Nesses passos da vida traço, ora com beleza, ora com brutalidade, meus caminhos. Indico a mim mesmo um rumo, persigo metas, e se me convém, abandono planos vãos então.
É pensando nisso que, apoiada na grade mas sem segurança alguma, vislumbrei o alcance daquele contato. Mas não é a segurança, por assim dizer, que eu quero - quem quer garantia, compra eletrodoméstico. Porque o que eu quero é autêntica liberdade, não o Arbítrio de escolher entre dois ou três caminhos feito produto na prateleira do mercado. Quero a liberdade que é estar comigo mesmo, conciliando as várias faces, lado racional e estético, a sensibilidade que desperta a razão e a razão que engendra a sensibilidade, unidade vivente. O tato vazio perde o cheiro, o gosto, se não há...bem, ainda não sei o que falta ali, mas não carece de buscar. No meu desejo de liberdade já não cabe essa incompletude, essa falta; não descarto, mas deixo no canto da mesa.
Pensando bem, completo por ora: o tato vazio perde seu cheiro e gosto se não há significado. Tem-nos faltado entendimento e sobrado sentidos. Mas todos buscamos a excelência.

terça-feira, agosto 17, 2010

Jorge Ben Jor,

Jorge Ben Jor, Jorge Ben Jor...até dar overdose.

quinta-feira, agosto 12, 2010

a canção do dia confuso,

das presenças inesperadas, do mundo que se fecha e que se resume às pessoas tão importantes quanto difíceis de lidar, que exigem atitudes e decisões, evocam passados breves ou quase soterrados. Esta seria também a canção do dia em que, mais que presenças perturbadoras, a ausência perturbava ao indicar a iminência. Disto tudo começa a repetição num novo nível do ciclo, e outras presenças passam a figurar. Que fazer com tudo isto? Quisera eu guardar num armário bem fechado para de lá tirar só quando me conviesse, de acordo com o gosto do café ou o cheiro da lembrança, contato, com tato.
Mas não. As pessoas se movem, tomam rumos, às vezes até nos levam com elas. Pensando nisto é que deixei o livro aberto, o parágrafo lido pela metade, olhando ao redor sem horizonte fixo, apenas porque a atenção vagava. Não sei mais como os grandes homens conseguem resolver seus problemas, separando trabalho e afetos, aqui e lá. Eu misturo tudo e qualquer dia acabo extraindo do Hegel uma espécie de filosofia dos relacionamentos, pra fazer o chão do cemitério de Berlim tremer com tal "blasfêmia". E depois disto, vem a morte na fogueira.
Mas por maior que seja a confusão, a saudade, a revolta com as pequenas injustiças cotidianas alheias e ao mesmo tempo adjacentes, além de um pouquinho de descrença, ainda me fio à capacidade diária de nos surpreendermos. E até quando a surpresa falhar, quem é que disse que o cotidiano não pode ser extraordinário? Nada mais fantástico que pensar em perfeitas repetições.
[Depois de tudo isto, Nenê Altro me seguir no twitter é bobeira pouca]

domingo, agosto 08, 2010

Meu mundo não é pose congelada: é vida.

A foto, o tempo, o dia foi ficando mais embaçado até as árvores lá fora desaparecerem. Me salve, Nick Cave. Não sou Nenê Altro nem algo que o valha, enfim.
O fato é que as considerações surgiram desse negócio chamado tempo: porque a gente nunca vê essa coisa passando, minutos escorrendo, só tem uma leve - bem leve - noção de ser impelido sempre à frente. Não sei se insistir depois que passou, que a viagem foi feita, ainda adianta. A vida está de volta, a música e palavras, além das sensações que remetem não só ao passado, mas incrivelmente ao futuro, certeza única. Bom ou não, certeza única, mas fico com a primeira opção. Esse frio até então não existia, mas aqui dentro a janela até embaça no contraste do fora frio e dentro quente; e as cores destes dias são fortes.
Eu sorrio quando penso no movimento, nos caminhos que fogem à compreensão e surpreendem. Novamente as surpresas, me ajeito no intervalo calmo do turbilhão, me ajeito até achar meu lugar, nem que pra isso tenha que mudar umas vezes. Afinal, nas mudanças o que foi feito ficou, algo escrito na história. É bom estar de volta; é bom estarmos de volta.

sexta-feira, agosto 06, 2010

a paciência do conceito.

Qual o tempo de nossas ações? Digo: qual a medida entre esperar e parar, ter a paciência necessária pra acontecer ou a perspicácia pra deixar de lado, não pra sempre, mas momentaneamente, numa vida que não para, mas há de andar sempre pra frente? Dizem que até o pontapé impele pra frente...
Mas isto não é o centro, a prioridade está em outros lugares, no fundo, dentro. De volta ao lugar em que o mundo é lá fora, e eu vejo com calma, paro pra pensar: sim, foi preciso um pouco de tempo pra definir rumos nesse retorno. E agora, sabido o primeiro passo do caminho, importa o caminho interior, pois o resto, o resto sempre se resolve. O que não pode passar é o agora urgente.

sexta-feira, julho 30, 2010

Serventia,

a curiosidade serve - me serve. Me serve o quê? Lembranças. Me serve de quê? De ponte para descobertas. E me serve pra quê? Pra ver que descobertas são também reencontros.
Vou relendo os escritos, partindo de uma ligação, um nome que despertou a tal curiosidade. E Nenê Altro ainda existe, fotolog é uma coisa que ainda existe, os festivais de hardcore ainda existem. Mas Nenê Altro tem uma filha moça, e põe fotos do filme do Curtis, e põe fotos de Smiths, e agora tem bigodes e o rosto marcado do tempo e das coisas, as coisas. Vai, e eu continuo com o msn ligado, sem estar. Quem dorme cedo já saiu, partiu, talvez sonhe sonhos intelectuais, cheios de informações interessantes. Eu, de minha parte, perco o sono lembrando trechos de Dance of Days. Sabia que o mundo tem um antes, um depois, um agora, e todos eles são ao mesmo tempo? Vai, de repente a serventia daquela curiosidade era me reconduzir a mim, pra depois sair de novo, em busca de algo que não sei.
Os personagens reaparecem, Alice, Coelho Branco e seus Funerais, ou então meus personagens, de alguns anos atrás, quando eu me questionava o que aconteceria. Mas me serviu pra chegar a Nick Cave e, ora, vejamos no que vai dar então.

afinal, é bom mudar de caminho

quando estamos sempre tão acostumados a medir os passos, seguindo os rumos de todos os dias. Mudança de caminho é também a modificação de perspectiva, que implica um novo ângulo de visão. É o fim e um começo, e lendo os escritos antigos, umas pendências ainda estão ali há tanto tempo: anos. E no fundo é um tapa na cara admitir que ninguém está livre de ter um pé no passado, passado breve, passado bem antigo, que seja: que tempo é esse? Estou calma e com boas expectativas: nada como pensar e se ver no outro, nos erros e caminhos, mesmo quando a gente muda os passos. Talvez a direção ao menos seja a mesma, ou a parada final. Ou não...quem precisa de garantias, compra eletrodoméstico.

terça-feira, julho 27, 2010

fazendo considerações,

quando nem tudo o que se diz ou faz soa exatamente do jeito que pensara; vale o que ouvi e repito: "if nothing ventured, nothing earned". Aprendizados: não deixar que as coisas tomem proporções tão grandes a ponto de não se saber como remediar ou explicar, e ter força pra acordar mais cedo. Uma boa corrida vale pelo sono que se pode recuperar depois, em outra hora.
Como estar sem estar? Umas dúvidas cutucam, mas não a ponto de tirar toda a atenção, quando de um bom trabalho pode surgir respostas ou ao menos indicações. Coisas que preciso fazer, coisas que se deve lembrar, mas cadê o lugar de tudo isso? Dentro da mente, memória, mas é meio sem graça se converter em agenda diária.
Por ora, por fim, faço descobertas legais, vendo tudo ficar bem: há partes nos problemas que, se bem observadas, estão mais claras que outras. O espreguiçar de gatos sempre me acalma, mas a parte ruim é que me dá sono também...moleza...dormindo no sofá como há tempos não fazia. Pessoas vêm e vão, mas o que fica - comigo, ou de mim - é garantia da existência. E eu queria um café que não fosse tão doce a ponto de amargar a boca.
Não acredito mais nesse café doce. Não quero açúcar, quero o que faz acordar.

quarta-feira, julho 21, 2010

e se não for uma boa ideia?

por via das dúvidas, fecho a janela. Sabe, nunca se sabe o que é que pode vir dali. Há notícias - as notícias correm, vão, mas voltam, vale lembrar...quem conta, reconta, essas coisas. Era pra conseguir separar aqui e lá, mas não dá mais, em ligações e vozes, escritos, retratos, canções, compromissos, prazos, pastas e folhas, assinaturas, promessas, dívidas, dúvidas, o livro e minhas próprias frases e fases, e vai virando uma coisa só, como dois mundos aproximados, preparando-se para uma fusão sabe-se-lá se bem sucedida ou não. E quando tudo acontecer, não sei mais o que sou: Play the Part, é assim que eles cantam; eu represento o papel, ou melhor, os papéis, e quando tiver de optar por um só, já não sei no que vai dar.

sábado, julho 17, 2010

por dia,

um milhão de pensamentos e imagens indo e voltando. E outro milhão de imagens a se formar a cada dia também, levando um pouco de ontem, contribuindo para o amanhã - no meio disso, o hoje, o agora. Pode ser um pouco mais do que se pode medir, mas o gosto do café e do chocolate, granulado, essas coisas, o som alto, uns compromissos, umas promessas, umas metas cumpridas, me trouxeram até aqui. Como num ninho, aqui a noite é mais escura, as janelas estão fechadas, vendo tevê e perdendo um tempo que só não é perdido porque é necessário. Algumas descobertas parecem inúteis, mas não deixam também de ser engraçadas, como quem diz: ali sou eu, estamos sempre no mesmo barco. A preocupação demonstra a medida que nem eu percebia, mas sob minha segurança, vendo a cama com quem lhe pertence, talvez meu controle seja a torcida para que tudo fique bem; leio Álvaro de Campos, e também estou ali. Também estou na representação do rumo perdido, no aroma que se desprende do coador e da xícara. Também estou no pensamento, vago, vagueando, vagabundo.

segunda-feira, julho 12, 2010

mais que um símbolo,

há coisas que representam internamente, para além das convenções. Esse tempo, ambiente atípico, algumas coisas tão importantes fizeram notar o valor desses dias - das perdas e dos ganhos. Bildung, há de ser isso, e daí veio a vontade-inspiração pra marcar mais que na memória esses momentos. Mas chega, pois nem sempre há necessidade de explicações mesmo.
Por ora, sigo passos em lentidão, conquistas que chegam sem avisar. Quando não me preocupo, as coisas fluem, sempre foi assim, e nunca aprendi a deixar a água correr, tento prender com os dedos inúteis então. E diferença nenhuma isso faz, porque os dias continuam a me surpreender, trazendo sorrisos no fim da madrugada, quando perco o sono na boca da noite e penso, satisfeita inconscientemente: nem que eu quisesse e planejasse, esses dias seriam tão surpreendentes. Bons não é a palavra exata, porque as surpresas às vezes transitam entre beleza e dor, modificando-se, mostrando-se, abrindo-se em diferenças sutis: a mansidão esconde uma vida que nunca se imagina, escorre, toma rumos e formas diferentes, em caminhos que nos formam.

domingo, julho 04, 2010

as palavras e as coisas -

é bem assim que começa, e deve começar mesmo: madrugada, ouvindo notícias, vem a pegada pra escrever, transmissão quase que direta da mente pras teclas. A mente bombardeada enquanto isso: que será que está acontecendo agora ao redor do mundo? E as pessoas que somem, dormirão em paz no conforto do lar? "Ela está cercando por todos os lados", penso. E está lá há tanto tempo, que só pode dizer algumas coisas: que tem um espaço cativo, ou que não conseguiu conquistar esse espaço, e permanecendo tal vaga, eu rondo por ali. E pra quê? Pra ir aonde? Mais um banco e manhãs que me testam?...
Ai, caramba...essas noites não me deixam dormir, ideias que se balançam. Mas tudo vai passar, porque daqui, nada me atinge - o quarto em tons de roxo zela pelo sono cheio de sonhos malucos, e interpretações; mas, caramba, faz pouco tempo, e é tanta coisa. Será - tanta coisa - pergunto? Não sei responder.
Hora de desligar. Dormir. Café, chocolate, falta o cappucino. Essas faltas...Preparar pra marcar algo além das lembranças.

quinta-feira, julho 01, 2010

as sensações têm peso, cor, gosto

e determinações fortes. Os caminhos são melhores quando percorridos ao lado de quem tem disposição pra vida, nas menores coisas, nos lugares mais distantes, recarregando energias ao modo de quem está em stand by. E o tempo aqui é um negócio diferente, o sol reflete fraco, resolvo algumas coisas e fico em paz, sem medida pra essa calma, na mansidão do céu azul claro. Mansidão, o que quer dizer essa palavra recorrente nos últimos dias, com mil significações, atribuídas a tantos? Que seja, há de ser assim mesmo, e vou me haver só com o destino. Enquanto isso, não poderia ser outro lugar nem outra pessoa, nem eu deveria estar lá. Eu desligo por esses dias, quer saber, e com muito gosto pelo gosto de um lugar que não é mais meu, mas ao qual estou ligada. Meu lugar é sempre só comigo...

segunda-feira, junho 28, 2010

lá fora, fogos

aqui dentro, tudo aquietou, mansidão, calma demorada experimentando-se em cada passo, em cada gesto, de olhos e sons baixos. Mas esses dias nos trazem uma vida, impulso novo. Tudo se modifica tanto, inesperadamente; em imprevistos caóticos se constrói um novo mundo. É por isso que tenho urgência de escrever, enquanto a sensação é presente.

segunda-feira, junho 21, 2010

passada a sensação

quero só: família, amigo, gato e cachorro, música e livro. Filosofia é um hospital. Voltei a escrever, e de pensar que saí tanto de mim, em dúvidas e dívidas, planos e preocupações, criei laços com canções e lugares, e ainda deixei de escrever. Mas esta é a saga da consciência que sai em busca do objeto: terminou por se reconhecer nele, tornou-se consciência de si, e agora tem sua verdade na certeza de si. Não se pode aniquilar este objeto por completo, pois as coisas se dão em relações - e agora a única possível é de dominação, no sentido de que a consciência deve se tornar independente. E o maior sintoma disso tudo, o que ficou, é que o cheiro agora me enjoa.

quinta-feira, junho 17, 2010

apontamentos

sobre uns dias e umas noites - dias há em que a gente questiona tudo; o valor de umas surpresas, o cadenciamento de uns contratempos. Sabe que por esses dias aprendi um bocado sobre querer e efetivar o querer, sobre a distância entre esses pontos e entre o que a gente acha que quer, e o que quer de verdade, com toda força que seja possível, e não apenas na vontade fraca e passageira. Há as coisas que ficam, os planos para os quais nos direcionamos, mas no fundo não era sobre nada disso que eu queria falar, nesse modo de falar de coisas nossas, mas que são alheias. Conseguiria alguém se mostrar nesse falar do que é alheio; conseguiria eu enxergar algo além do exterior, da fala superficial até? As coisas vão sumindo.

sábado, junho 12, 2010

deixar assim como está, sereno;

que o resto vem. Mas é difícil, esperar nunca foi meu forte, ainda que o impulso seja pra algo bom. Mas...pôxa vida, a pergunta se repete: como é possível caber tanta coisa dentro da gente; sentir uma raiva - meio infundada, eu sei - que vai também à alegriazinha, e passa por um temor pequeno e por questionamentos; como é possível, volto a me perguntar? E não sei, não sei. Talvez se esperar mais alguns minutos e reescrever, eu saiba um pouco mais; porque não é ruim, só é demora.

sábado, junho 05, 2010

há beleza até na espera,

escrevo e perco; ademais, quando começo a sentir, deixo de escrever, como se em mim só coubesse uma coisa de cada vez. E tudo aquilo: olhos, mãos, manhã, calma, a bela sensação de se sentir em paz, o frio fraco no sol despontando, pequenas caminhadas, tudo isso já preenche por ora, se faz razão de uns sorrisos e da distração.

terça-feira, junho 01, 2010

a canção prum bom começo:

lembrança que vagueia entre vaga e forte, essas coisas; do interior, é começar uma espécie de contagem regressiva para o que vem depois. Quando começo a sentir, deixo um pouco de escrever, pode ser que seja isso.
[a canção dos bons começos]

domingo, maio 30, 2010

se é verdade que

a vida dá umas voltas e acaba refazendo um ciclo, o bom de tudo isso é que de certa forma a gente já viu esse filme, e pode tentar atuar de um modo melhor, ou ao menos mais coerente. Lembrando um tempo atrás, dá pra perceber umas mudanças internas que se manifestam face à repetição do ambiente externo. E, desta vez, ao menos os mesmos deslizes dá pra evitar um pouco.
Se é verdade que a gente sempre preza pelo bem-estar, porque é que tantas vezes deixa de reparar na calmaria do domingo de manhã? Sabe que hoje, caminhando pela praça aberta e vendo as pessoas - a criança brincando, bicicleta, uns atores a declamar sem muito talento, diga-se...hoje, caminhando, pus na balança essas pequenas belezas. Caramba, pensei, se é verdade que o que a gente quer é só ser feliz, estamos nos perdendo no meio do caminho, sem coerência: um pouco da felicidade não está fora, mas dentro, imanentemente dentro de nós. E se o resto estára fora, não sei: pra começar, estaria o fora tão fora mesmo?

terça-feira, maio 25, 2010

quero nada,

nada mais que a vida não possa me dar. O cansaço é daqueles de quem anda o dia todo no sol, com moleza e dificuldade de raciocínio. No fundo pode haver, sim, outras razões ao fundo, mas como saber quais?

segunda-feira, maio 17, 2010

c'est fini,

mas nada que uma espera não determine o fim. O fim, o fim. De vez em quando parece que as coisas estão todas erradas, que as ações foram todas erradas e vãs, que o mundo torto é resultado dum erro interno nosso. Sabe, isso não é vida, mas por dois minutos a gente sempre pensa como resolver, e porquê, o que se fez de errado, coisas assim: uma merda. O mundo é bom, as relações é que se deterioram; fato é que nem sempre estão elas em relação comigo, mas até saber se assim é o não, a dúvida perdura, permanece, nessas injustiças pequenas, nessas dores poucas, nessa potencialidade de ser feito de palhaço. Onde reside o problema, é a questão; se é possível fugir, se esquivar, é a dúvida-esperança, como se em algumas horas fosse melhor ficar de fora, sem se manifestar. Mas daí vem: quanta coisa errada, fruto de não saber falar o que se quer ou não quer. O que fazer então?

domingo, maio 16, 2010

maio.

ainda não está no final, mas trouxe aquela musiquinha de fundo. É bonitinha, singelinha, tudo no diminutivo, emoções tranquilas. Faz um pouco de sentido até, mas só um pouco, e de fato não haveria de ser de outro jeito, pois que toda coerência é suspeita: quem não muda de ideia, uma vez que se está no mundo para entrar em contato com o outro, que sendo outro, também é algo diferente, elemento surpresa; quem não mudaria de ideia então?
Eu sei, bem sei que há coisas com prazo de validade, mas se o prazo estourou é o que eu não sei. Mas não dá pra correr contra o tempo, dessa vez é melhor deixar que ele venha e leve (ou traga) o que tiver de ser, sem fatalismos, mas apenas com a vontade de ficar bem, comigo e com tudo, numas sensações que façam meus dias cooperarem com a ânsia de fazer tudo ao mesmo tempo; viver tudo, dormir e ler e estar desperto e mesmo desperto sonhar. E sonhar sem fechar os olhos, isto é, sem se desprender tanto da realidade: ela é tão bonita.
"despreocupa-se, pensa no essencial; dorme e acorda".

quarta-feira, maio 12, 2010

terça-feira, maio 04, 2010

"ela que descobriu o mundo e sabe vê-lo do ângulo mais bonito"

eu gosto do violão, do cappuccino, da luz clara, lembrança em branco e preto do que não aconteceu e nem é meu. De foto amarelada, cama perto da janela, pro sol bater de manhã ou no fim da tarde. Quase tarde, quase cedo, um pouco cansado, mas sem medo. Não gosto da demora, porque o silêncio é só meu, a procrastinação é só minha, e não para mim, comigo. Me sinto um pouco a garota do gerânio, palavra diferente, os dedos titubeiam para escrevê-la; as frases seguem na mesma cadência, pois que não consigo falar muito, menos ainda de uma vez só.
Essa calma é tão boa. Pensei por um momento em falar sobre uns tempos atrás, que refletem essa mesma época quanto à configuração - de fato, este primeiro dia trouxe até umas lembranças. E questionando-me sobre a validade - o dito "será que vale a pena?" - era nítido que nada vai voltar, de modo que o barco segue em frente; quem chega primeiro dá bandeira qualquer. E também porque busco uma beleza que não é essa beleza imóvel do passado, não adianta teorizar sobre aqueles caminhos escuros...importa mais a beleza que posso construir.

domingo, maio 02, 2010

oldsongs, no place,

algum lugar no mundo? Quanta beleza, pequena, e basta abrir a janela. Já é tarde ou então é cedo, mas sempre há algo a se descobrir, desapego do lugar-comum, da vida sempre vivida, daquilo que parece que tem que ser assim mesmo. Escolhas e caminhos, e aquele cheiro vai perdendo vida, perdendo o lugar cativo, como se não bastasse apenas cativar, mas fosse preciso cultivar. Pensei em escrever sobre outras coisas - brevemente - mas a formulação de meras hipóteses não conduz a lugar nenhum; falar sobre o que está além do campo sensível neste momento é dar-se à imaginação que, embora fecunda, não planta nada além de dúvidas e umas certas preocupações. Prefiro, então, aquilo que me faz melhor.

terça-feira, abril 27, 2010

o céu em faixas

porque quis ver as torres, subi ao alto
e daqui o céu era perto.
Em tonalidades tingidas de tristeza-pouca
daquelas que se tem de sábado, passada a festa,
a banda, a música, a dança,
o gosto, a chance, a vida que não volta.
Mas a vida vai em frente, em frente vai e segue
e os avisos, as faixas, apontam para frente;
deixando pra trás algumas palavras cheias de mágoas,
deixando pra trás a luz do fim da tarde caindo nas árvores
e deixando pra trás cinco, dez anos.
O que a gente era, o que a gente fez, o que a gente quis
pra onde foi tudo isso?
E onde está agora o que seremos e faremos e desejaremos no futuro,
se é verdade que tudo tem seu lugar no mundo?
E onde ficou tudo o que podia ter sido e não foi?
Mudo de posição; eu, mudo, frente às palavras,
eu mudo porque preciso - mudança e silêncio se imbricam.

domingo, abril 25, 2010

dance of days.

as horas, os dias, semana. Tempo, capaz de fazer ver as coisas como elas são, isto é, sempre diferentes. A luz da noite passada não era amarela-fraca como essa; o bom é que acho que vou dormir bastante, e bem...vai saber, até vou sonhar um sonho bonitinho, daqueles com jardinzinho e florzinhas, meio paisagem holandesa. Não é que amanhã é um dia melhor, mas sim que cada minuto é um minuto melhor, sob nosso próprio risco.

sábado, abril 24, 2010

uma má pessoa

me senti hoje uma má pessoa. Tipo de sujeito chato, sabe? Daqueles que quem atura é só por obrigação, que atrapalha, que magoa, não sabe ser doce, e de modo algum cativar. Nesse sentido, a gente colhe tudo o que planta mesmo.
Ainda que as circunstâncias não fossem adequadas, é bom saber que é assim. Ruim é ser assim. E pior ainda é a questão - como mudar? Se isso sou eu, o que vale mais: uma personalidade forjada ou o eu sincero, porém não muito amigável? É um dilema que me acompanha desde há muito tempo; não digo que me atormenta, mas me faz pensar. Enquanto voltava pelas ruas, me senti a pessoa mais sozinha do mundo, como se diz, mais solitário que um paulistano. E de novo vem: a gente só colhe o que planta.
Saindo do puro solipsismo, porém, as conquistas de quem quero bem me dão uma paz e uma alegria tão calma, como se alguém dissesse que todos no mundo têm sua vez. Entretanto, ainda acredito: viver é muito perigoso.

sexta-feira, abril 23, 2010

o que é que vem?

havia escrito tanta coisa, e sem querer apaguei tudo. E agora? Pra onde foram as palavrinhas tão bonitas e até singelas, pois que falavam de coisas tão banais e felizes?
Tudo se ajeita, no céu esbranquiçado, mas pouco azul. Cortinas amarelas, é quase um quadro. Toalha roxa, como a minha, é tudo um quadro. E chega de escrever, porque antes do amanhã e do depois, ainda tem hoje. E agora.

sábado, abril 17, 2010

um mundo onde as pessoas sempre vem e vão

Meu mundo é um mundo onde as pessoas sempre vem e vão. Sempre vem e vão, mas seria bom se fosse um mundo em que todos soubessem exatamente o que fazer a respeito do que se quer. Eu tive umas certezas a respeito do que fazer; tenho tido, e pensado. Do nada as surpresas brotam como flores em pequenas árvores; e uma dorzinha que se repete, besta, boba. Como um palhaço no meio do asfalto, o espetáculo da vida me impele sempre em frente.
"Eu te escrevo e te conto de lá"

quinta-feira, abril 15, 2010

a beleza perdida

dos olhos, da visão antiga. O solzinho fraco das quatro da tarde despertou aquela nostalgia brava. Acho que este monte de adjetivos que tenho usados são do aprendizado do alemão, só pode ser, pois que nunca fui de fazer isso. Às vezes a gente não é daqueles...
Sem parâmetros, são parcos os recursos de julgamento. O que você quer, me perguntei do alto do solipsismo idiota? O não saber quanto ao querer me tem sido familiar, embora numa análise mais acurada seja estranho - como assim, não saber o que se quer? Algumas coisas a gente sempre sabe que quer, um bom café e o silêncio interno. Engraçado como às vezes o próprio corpo denuncia a tempestuosidade interna, numa espécie de retomada da metáfora do mar: no mar a superfície se agita, enquanto por baixo é calma; na alma, tem-se o oposto.
essas culturas são diferentes: aqui, à noite todos os gatos são pardos. Na Alemanha, todas as vacas são pretas.
e se numa esquina qualquer...será que você vai fugir? E se você for, eu vou correr?
Isto tudo também se poderia chamar Sobre fugas e não-fugas. A gente corre daquilo que não pode enfrentar, não daquilo que não quer.

domingo, abril 11, 2010

pus nessas linhas o desalinho

deste sábado morto - cansado, mas pateticamente contente, como na foto sobre a mesa e na mente. Na cabeça um milhão de agradecimentos por tudo o que se quis que desse tão certo, num agradecimento que se espalha sem se esvair. É possível ser feliz de muitas maneiras, não é? Tantas são as coisas capazes de tornar um dia bom - e há aquelas capazes de tornar os dias subsequentes ainda melhores, porque são impulso ao trabalho, esforço contínuo. Todavia, sem julgar seu caráter de efetiva contribuição para a vida, fato é que diversas são as coisas que nos fazem sorrir. E sem perceber vamos trilhando nesse equilíbrio vacilante pelas linhas tortas, mas das quais não vemos o fim.

sexta-feira, abril 09, 2010

as melhores sensações

e as mais singelas envolvem as coisas mais naturais - no caso, a realização de algo que tanto se esperou. Mais do que tirar das costas o peso, o que vale é o sentimento de ser capaz de realizar algo a que se propôs; essas coisas nos jogam de frente a uma simplicidade besta e potente. E então é como se tudo fosse possível, uma força extrema...e mais esse ar que dá vontade de dormir, mas de ficar acordado pra não perder nada também.
Vi figuras quase familiares ao longo da semana, mas na maior parte eram apenas exteriorizações de vontades - mas, descobri, elas não são fundamentais para minha vida. Há outras coisas capazes de me fazer sorrir sem sequer perceber, coisas reais, como o simples som da voz, ecoando duas palavras - as palavras, potências.

sábado, abril 03, 2010

Boomerang Blues

e de repente já faz um ano, e de repente as pessoas estão longe. Algumas voltam, outras se afastam definitivamente (ou nós as afastamos?), por outras morremos de saudade, e há outras que morrem sem ser de saudades. Mas isto não é uma "canção" sobre tristeza ou dor pós-trauma, porque sequer é uma canção; há de ser apenas um desabafo, que não é triste nem alegre, mas que se presta a todas as emoções que nos atingem. Uma morte e seu choque - tudo parece sempre tão longe, e sobre o passado é como se não houvesse movimento; a vida e seu choque também - como negar que tantas coisas acontecendo o tempo todo sem parar, nunca há pausa, não nos choquem também? De repente faz um ano, é um choque o quanto a gente muda nesse tempo e o quanto as pessoas mudam neste tempo e o quanto as coisas, as circunstâncias mudam nesse tempo. Isto não é uma canção triste, é apenas realista, e talvez não queira dizer nada sobre algo que efetivamente aconteça, mas sobre como ME acontecem as coisas; puro egoísmo.
Com começo e fim, é assim que são as coisas. Ainda bem, porém. O efeito das coisas sobre mim é sempre atrasado: toda dor e alegria e cansaço e paz vêm com umas horas (ou dias) de atraso e reflexão, às vezes irrefletida. Aqui as coisas se movem naturalmente, surgindo novidades das mesmices, e começo a sentir falta (falta, mas não saudades) daqueles outros horizontes. Lá e aqui, eternamente dividido. O bom de não estar integralmente em lugar algum é saber que a gente se espalha sem se dividir de fato, mas só a se multiplicar.

quarta-feira, março 31, 2010

ao meu lado, uma flor branca

sobre a mesa. Arranjo bonito, faz tempo que está ali, mas nunca havia reparado bem. É que faz tempo, também, que não ficava aqui assim, de bobeira. Uma pausa na leitura e tudo volta, um monte de pensamentos. Um bocado de coisas que deveria resolver e não consigo, e agora está até difícil de falar, de escrever - quase um medo de me abandonar integralmente no escrito, e depois não me achar mais. Eu, eu, eu, eu.
O doutor diz que o problema de todo ansioso é viver no futuro demais. Eu nem sei direito, é como se não houvesse passado, presente, futuro. As últimas semanas e o que elas trouxeram ainda não me deixaram pensar devidamente, mas é preciso fazê-lo, frente a outra semana que será ao menos importante. Que coisa, todo dia é importante, no fim das contas. Aqueles aos quais a gente nada dá, nos dão surpresa. E aqui, tenho uma segurança interna que nada me tira, nem nada me dá. Tenho dormido bem, e sequer sonhado depois de uns sonhos tão malucos.
Suspensão...estamos em eterna suspensão. Cada um sabe o que te move a escrever, ou não. Há um bloqueio, mas faz tempo que não me sinto tão calma. A única coisa que me permiti fazer foi espantar para longe aquele pássaro que, após olhar calmamente, precisava voar em outros ares. Nossa arte é ter paciência por estes dias, respirando com calma; não gostei disso tudo que escrevi, mas é como se houvesse urgência de dar uma resposta ao mundo pelos acontecimentos. Ou talvez a urgência seja de uma resposta a mim mesmo.

sexta-feira, março 26, 2010

não é pra ninguém

ou é pra todo mundo? Será que a gente consegue distinguir bem mesmo - genau - em que a gente pensa, ou do que a gente fala?