quinta-feira, setembro 30, 2010

as sutilezas

da voz em um telefonema, de longe, não-longo. Olhos marejados, de repente faz um ano já, e mais. Merecem uma pausa esses acontecimentos, nem pra refletir, só pra sentir: saudades, o som da voz, a chuva fraca, um cansaço bom. E quando dormir, sonhar sonhos que amanhã nem lembro.

segunda-feira, setembro 27, 2010

nem tudo tem nomes.

Há coisas que não se explicam, não se traduzem, são latentes só por dentro. Por fora não têm existência, só na nossa cabeça.
E ainda bem.

sexta-feira, setembro 24, 2010

"twenty ways to see the world".

paciência, pra não esbarrar nos muitos conceitos de justiça e agir correto - "Twenty-nine different attributes; only seven that you like". Porque tudo é passageiro, dá essa sensação de que não valem a pena os sentimentos ruins, preocupações, descrenças, decepções - quem sabe o que será da vida daqui alguns anos, ou mesmo daqui algumas horas? Isso consola, mas também impõe indiscutivelmente um vazio, uma quebra, e no fundo não adianta tentar colar os pratos depois..."I'm standing in the wind...But I never wave bye-bye".

quinta-feira, setembro 23, 2010

A razão quase enlouquecida.

De fato, alguns dias são mais Willie Dixon que Muddy Waters, i. é., mais melódicos e menos vibrantes. E nem por isso menos interessantes.

Óculos sujos, conversas em idiomas outros. A gente resolve o que pode, e da maneira como pode, cortando aquilo que, ao que tudo indica, nos corta, ou que induz à perda: de ânimo e de sossego. Ou que induz ao ganho: de tempo ocioso. Entendo nada: as conversas, as intenções, as vontades, os livros na estante. Só sei que toda vontade só é livre quando quer a si mesma, e não a algum objeto outro, algum conteúdo dado, seja de fora, seja pelos próprios impulsos. Deve-se purificá-los, não excluí-los, ou, em outro registro, aprender a lidar com isso e reconciliar os instintos com a razão.

Chocolate, café e blues. Alemães, Hegel era um grande sujeito, cheio de ideias difíceis de entrar na cabeça, mas fascinantes. Quando o mistério é grande demais, a gente não ousa desconfiar.

sábado, setembro 18, 2010

Muito café, e põe Muddy Waters pra tocar.

olhou feito flor no vaso. Feito flor no vaso, que está ali, olhando através de tudo, mas sem se deter em nada. Pensou vago, como onda que vai e vem sem se deter; pensou em coisas sem se decidir sobre elas, se iria ou ficaria. Mas um senso moral lhe dava o norte...pensou que épocas atrás era tudo tão simples. O problema é que já lhe tinham cantado a bola, mesmo que ele não acreditasse.
Pôs a mão sobre a testa como quem psicografa, anotando no verso da propaganda da festa o seu verso sobre tantas festas passadas. Olhou sem direção - de novo, feito flor no vaso. E quando pensou que uma hora isto haveria de se resolver, sentiu o frio na barriga, medo - de saber verdades, de nunca descobrir as mentiras. Passara uns dias atormentados, embora às vezes até conseguisse se concentrar. Noutros, era o mar, indo e vindo, vagaroso.

Anotou sensações no verso das contas, pensando no conto que era sua vida - indefinido, irônico, mas gostoso de se viver. Se aquele momento tivesse trilha sonora, Strokes tocaria ao fundo, não duvide. E concluiu: estou ficando louco.

[Muito café, por favor, amargo e quente. E põe depois Muddy Waters pra tocar, porque pra desligar o pensamento, só com algo que o preencha e faça esquecer tantas vontades contraditórias.]

quarta-feira, setembro 15, 2010

Da pertinência da paciência.

É bom, também, ter que esperar, pensar com calma, analisar os fatos com mais frieza. Nada é tão impossível de suportar, nada que uns dias não resolvam; ou que contar até dez, até cem, até amanhã, ou até à próxima semana, não traga à luz umas verdades inconvenientes, incomodamente necessárias. Há jeitos e jeitos de resolver as coisas, e cada um busca aquilo de que precisa.

Esqueço, esforço-me por esquecer os pensamentos da hora da ave-maria. Penso Tyler Durden, e incrivelmente me acalmo. Ouço internamente Muddy Waters, e acalmo mais. Escrevo, paro, corro, como, café água e suco, leio [leio...leio...leio], escrevo mais, tomo decisões, perco tempo, desperdiço-o em pensamentos vãos. Mas sei do movimento que ocorre às costas, isto é, as coisas que não sabemos se e como foram, como ou se aconteceram, e que continuam a correr enquanto durmo, ou olho pela janela. E então disparo, mergulho em considerações, retorno aos livros, fujo de mim, ou fujo do mundo entrando em mim. As conversas têm sido produtivas no sentido de aclarar perspectivas futuras, ainda que desencantadoras...mas uma hora é preciso pensar no que se há de fazer.

O retorno foi importante, ainda que tenha me posto tão acuado, andando como que de cabeça baixa, olhar furtivo, não de quem deve algo, mas de quem posterga: decisões, encontros, compra de opiniões e ideias, tomada de posições. É preciso saber o que postergar, e acatar com paciência o tempo, aceitar a calma. Distraído, as pequenas-bobagens do mundo me surpreendem, os detalhes. As grandezas, por sua vez, me rodeiam e engolem. O que não tem remédio, remediado está, é o que se diz.

terça-feira, setembro 14, 2010

A canção dos passos e começos.

Um passo à frente - um rumo traçado. Podia ter-se dirigido para o outro lado, mas seguiu por aquele rumo. E então, como sempre acontecia de as pessoas lhe caírem na vida - e então, por ter-se dirigido para o lado, houve um sorriso e o contato inicial foi travado.
Se houvesse esperado um minuto, ou escolhido a outra fila, ou parado um instante em outra posição, não se teriam reconhecido como iguais. E indo um em frente, o outro em seguida aproveitou o caminho deixado aberto, pôs-se perto de longe, num diálogo minucioso, sorvendo detalhes - das unhas, do óculos, do maxilar, do modo idêntico de comer, quase como se mirasse um espelho. E ditas as coisas necessárias, sem prezar conforto fingido, sem se incomodarem com silêncios eventuais, eram sensações e impressões de um filme que ficaram engasgadas, sem serem efetivamente ditas.
E como nunca vira antes, não foi preciso um ponto fixo, algo para depois. Seria o que houvesse - ou não - de ser.
De detalhes se fazem diálogos.

sábado, setembro 11, 2010

blues e o gosto do café:

o que me move a escrever é Muddy Waters e o gosto do café frio e doce, amargando a garganta, à diferença de como costumo ser, mas às vezes é preciso por-se do outro lado, pra descobrir como agir, pra decidir entre ir ou ficar.

domingo, setembro 05, 2010

"I don't see it that way',

eu não vejo isto desta forma, não mais. Porque tudo muda, a vida põe a gente em situações engraçadas, põe a gente aqui e do outro lado, vilã e mocinha. Mas no fundo é tudo tão pequeno face a quão grande se chega a ser quando se age sem pedras, mas na intenção boa, na intenção de somar pra todos. Acho que é pensando nisso que tenho tentado - e aprendido, até - a deixar tanto orgulho de lado, deixando aquelas misérias se perderem no passado que, ocorreu, não se nega, mas com tanto futuro pela frente...a gente pode escolher ser melhor, ou persistir na velha opinião de um "ser assim mesmo" que, ao negar a mudança, impossibilita a melhora.
Tá, tudo bem que o nome do filme nem veio ao caso. Eu sei que ninguém perguntou sobre amanhã ou algum dia, mas acho que é exatamente por isso que tudo ficou bem. Eu não sei o que se segue a isso agora, ou se algo sucederá; eu sei é que eu dei um passo que parece ser um passo atrás, mas pra mim foi o máximo que se poderia ir à frente agora. Fiquei tão em calma, tão em calma, comigo mesmo. Afinal, ninguém é mesmo tão linear.

sexta-feira, setembro 03, 2010

sem porquê.

há coisas sem porquê no mundo, coisas que a gente faz sem porquê. De repente foram horas gastas lendo coisa-à-toa, nem me diz respeito - nem diz mais, algum dia achei que dissesse. Pois o que passou não se apaga, e pode ser que no fundo seja só uma tentativa de entender o que aconteceu. Não só comigo, mas com qualquer um...explicações são alívios, o não-saber é tão angustiante, tem horas. As horas, as horas correndo, passando, escorrendo, literalmente; eu ando tão confusa. Não preciso de análise, preciso de concentração - não pensar no passado, no futuro, nem no presente, mas em algo além, algo que atravessa e une tudo isto, acima e por dentro; substância que explique, complique, mas envolvendo. Filosofia, a Filosofia, o que ela engendra, quem ela prende e torna livre, autônomo e submisso aos seus clássicos. Estou aqui e transporto-me para lá, e nas noites em que todos estão ali e escapam também, tenho às vezes meus momentos sublimes: queria tudo tão em paz pra todos, mesmo pensando "quem diria, eu amigo", somando em vez de subtrair. Há que se aprender a lidar com as mudanças de configurações, mas todos são possíveis, todos são capazes, todos são passíveis de se ajeitar.
Essas metáforas todas talvez indiquem minha incapacidade de me pôr de frente nas situações, buscando sempre subterfúgios. Mas talvez apenas indiquem um jeito diferente de lidar com as coisas, um olhar torto, mas nem certo nem errado: só diferente. Vem um feriado: uma pausa? Não sei, faz tempo que sei nada. Acredito no devir, no porvir, sem determiná-lo, nem querer determinar. Surpreenda-me.

HELP!

foi engraçado, até, chegar em casa e ver os cômodos tomados pelos bichinhos esvoaçantes. Na minha terra a gente chama de Aleluia, mas pode ser siriri também em alguns outros lugares. Daí que o caso era que havia um milhão desses bichinhos a voar pelo quarto, aproveitando o calor e a madeira podre pra qual eu não dera muita atenção. Eu, só pânico; eles, acasalando, explicou um amigo. E meu quarto virou motel então?
Ficou difícil até estudar quando lembrava daquela cena. Nunca fui nojenta, mas parecia que a todo instante me assaltava a sensação das asas caindo em mim, cupinzinhos andando nos cabelos, nas pernas, como pequenas larvas desesperadas. Caramba, pensei, o que fazer? Deixei o quarto aberto e saí fora, com o tempo consegui me concentrar um pouco. "Eles vão embora", me disseram. E até que foram mesmo. O problema foi que deixaram um milhão de asas também, ou dois milhões, dado que cada bicho tinha um par delas.
Conclusões: comprar inseticida. Comprar um criado-mudo novo, porque esse deu cupim e agora já era, tá bichado mesmo. E é preciso comprar um ventilador também. Cacete, que vontade de fugir de casa. Esses bichos entram até no teclado do computador! Antigamente eu escrevia sobre coisas mais interessantes, mas essas agruras deixam a gente irritado. Vou é fazer um café e estudar um pouco, acatando: "despreocupa-se, pensa no essencial"...

quinta-feira, setembro 02, 2010

pausa para -

para o quê? Para o café, para a sensação de vazio pós-compromissos, pra pensar e avaliar o quanto se perdeu e se ganhou. Não sei, dessas histórias todas, se algo foi jogada pela janela, ou se há tempos estava morto, morrendo mesmo. Por outro lado, não sei ainda o que as novas atitudes engendram, os novos passos - fato é, porém, que nada passa incólume, há responsabilidades em cada ato. E que bom, penso também: é sinal do quanto estamos no mundo.
estes tempos são bons, correndo de manhã, e com banhos que renovam. Cumprir algumas coisas faz da gente um pouco mais forte...ouvindo Strokes.