segunda-feira, dezembro 29, 2014

Liberdade e autonomia

Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção, esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja

A liberdade é questão fundamental e surge nos mais variados campos da vida. 
Alguém é autônomo se é autossuficiente, no sentido de que tem a si mesmo por referência, se relaciona apenas a si, ou seja, está consigo mesmo ou junto a si. Já para ser livre é preciso o estar consigo mesmo no outro, in seinem Anderen bei sich selbst zu sein, mas a alteridade exige reparos constantes até alcançar os breves acertos. 

Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente

E

Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão

sábado, dezembro 20, 2014

Cê sabe que a casa é sempre sua

Uma noite a vida me empurrou para o Bukowski. Depois de sofrer ridiculamente por alguns dias com direito à trilha sonora visceral de Maria Bethânia, eu começava a me recuperar de uma paixão precocemente interrompida quando Mulheres me saltou à mente e a cada parágrafo fui entendendo o hype, murmurando interiormente "Hank, seu puto!", até captar com surpresa o Hank sentimental e apaixonado. 

Amores serão sempre amáveis.

quinta-feira, dezembro 18, 2014

Heaven

Um grande indicativo do quão brega-emocional me tornei é a a paciência para assistir esta pérola dos anos 80 que é o videoclipe de Heaven, de Bryan Adams. 


É que de repente, e não menos ridiculamente, essa coisa de baby you're all that I want when you're lying here in my arms faz todo o sentido do mundo apesar do constrangimento gerado pelos mullets e as televisões rodeando Bryan Adams e de eu não entender, de modo algum, o conceito do clipe. Mas é que essa instituição da vida adulta que não pretendo nomear, mas que usaria alguns sinônimos para definir como "gostar de", "sentir uma saudade danada" e "sofrer pra caralho" começou a rondar minha vida num momento nada propício.
O conselho mais justo e que mais acalmou continua sendo não pensar sobre essas situações atuais que me deixaram com os nervos à flor da pele pois quem sabe ignorando-as, elas deixam de existir ou se resolvem sozinhas.  

quarta-feira, dezembro 17, 2014

Um pedido de ajuda para as Hempstock no dia de hoje

Como o protagonista de O Oceano no fim do caminho, hoje eu só queria ter o dia recortado e costurado delicadamente. Talvez não só o dia, mas alguns dias, semanas, e de repente voltar ao momento exato no qual eu ainda não tinha sentido estas coisas todas, esta confusão, e o buraco no peito ainda não existia, e eu não tinha falado coisas que não devia. O buraco no coração se tornou a morada de um monstro a ser combatido apenas, veja bem, pela confiança em si mesmo. Isso tem muito a me ensinar daqui pra frente, em todos os sentidos, em todos os campos. 
A discussão entre "só" e "bastante" é impossível de ser apaziguada e as perspectivas de tempo variam de acordo com quem está no centro: quem vai e quem fica. Isto sou eu, as cicatrizes falam e amadurecimento também significa entender as partes feias e frágeis do meu ser, e pensar como posso lapidá-las, torná-las inofensivas.

terça-feira, dezembro 16, 2014

O velho disco riscado

Nem inferno, nem cidade, sou nada. Não haverá Paris e mais uma vez nem todo esforço foi capaz de superar algo como uma sina. O tempo vai se encarregar de mostrar as coisas feias e ajudar, sim, a superar como nas tantas outras vezes e nos tantos outros desencantamentos. Persiste por enquanto a sensação de que a proximidade destruiu o interesse, mas tão logo a vida reengatar tudo isto vai fazer parte daquelas coisas que algum dia deixarão de ter sentido e representação. E algum dia me será muito claro que talvez ao se denominar um cretino em suas ações erradas, um adolescente, você no fundo nutria um orgulho de ser assim e achava bonito, como se isso o diferenciasse do resto das pessoas. Ou talvez algum dia me será claro que você não estava nem um pouquinho aí mesmo.
Um simulacro imbecil e torto de Casablanca, sem saber qual de nós arriscaria menos a cabeça pelos outros, porque no fundo, apesar de sentimentais, estamos todos em primeiro lugar.

sábado, dezembro 13, 2014

Yellow

Parece que foi ontem que eu entrei naquela papelaria ao lado do meu restaurante favorito pra comprar uma agenda pra 2014, porque não estava dando conta dos compromissos - não porque fossem muitos, mas porque eu me perdia e já não acompanhava o ritmo. Aí neste meio tempo essa agenda acompanhou muita viagem e mudança, ganhou muita anotação inútil, compromisso cumprido ou desmarcado, o tempo passou voando e de repente já era hora de comprar uma agenda pra 2015. Antes disso, porém, estivemos na mesma papelaria pra resolver algumas das suas questões práticas e uma parte da minha vida se abriu ali. Nos despedimos até-não-sei-quando (sei, mas não sei se) e o meu coração foi ficando pequenininho como se precisasse de muito tempo pra curá-lo. Porque as despedidas sempre acabam comigo, em especial neste caso, pois não sou eu quem parto, mas fico. É realmente difícil voltar pra casa e encontrar a comida pela metade (o bolo, que de cada pedaço que eu partia pra mim, você comia um pouquinho) e os fios de cabelo curtos e claros na minha cama sendo que a contagem regressiva ainda nem começou, na verdade. Faço a menor ideia de como vai ser ou se eu deveria esperar algo - na verdade: não, porque a sua visão romantizadora do mundo precisa de alimento real e não de ideias. De forma parecida, estes elementos materiais me legaram uma lembrança ao menos acolhedora daquele jeito de estarmos juntos do modo mais colado possível, deitados, abraçados, com as pernas entrelaçadas ou as minhas por cima das suas.
A sensibilidade que você diz, ela pode ser verdade. 

Boyhood é também sobre o tempo. Os 15 anos de Mason foram em algum tempo os 15 anos da filha de Ethan Hawke, celebrados com o Black Album. É bonito e essencial que os anos de Mason também sejam os de Samantha, dividindo o quarto, aprendendo juntos a atirar, indo a festas, iniciando os relacionamentos. Boyhood é sobre todas essas coisas que têm seu tempo, mas passam; todas essas coisas que têm sua beleza datada, estas coisas meio inevitáveis que a maioria de nós vai atravessar ou presenciar. Talvez por isso seja tão difícil falar sobre ele. 

terça-feira, dezembro 09, 2014

Uns dias em três atos

I. Você saiu e imediatamente eu percebi que deveria escrever pra guardar alguma coisa desse momento, do seu cheiro, do seu jeito de falar poesia logo de manhã, de abrir o jogo e ao mesmo tempo ser direto sobre os assuntos que não quer abordar. No fundo você é um pouco eu e eu só queria dizer ou ter dito o quanto adorei esse encontro que eu já nem esperava, e que talvez foi bom exatamente porque eu nem esperava. Eu vou levar um tempo até decifrar muitas referências e entender sobre as cidades; quem sabe eu até vou precisar de todo o tempo que você estiver fora domesticando umas cidades sob os seus pés. E vamos aprender a lidar com o impulso de falar o que pensamos sem que isso nos magoe. 

II. Justo hoje me chegam mais referências sobre o Boyhood e sua trilha sonora não-meramente-fictícia. O Black Album foi criação real do Ethan Hawke pro aniversário de 15 anos de sua filha. Assistir este filme se coloca pra mim como uma imposição, e urgente.

III. Eu li hoje Bruna Beber falando sobre o papel 40kg. Ela concluia: "diga a seus amigos, numa manhã comercial, que você está com saudades de algum item afetivo da sua infância e eles vão entender automaticamente que você tá com saudade deles". Fiquei pensando nesta ligação entre o material e o afetivo e é o tipo de coisa que faz muito sentido pra mim. A vitrola, os panos bordados, certas roupas de infância...E, mais que isso, o sensorial: o cheiro da vitrola, o cheiro da madeira do violão, o cheiro dos bancos do prédio de Letras, o cheiro da coberta velha, cheiro do pão francês com queijo e pepino na madrugada da viagem pro Rio.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Obliviousness

Não esqueço as chaves porque tem dias que não saio de casa.
As louças se empilham na pia, cozinho pouco, como com pressa. Esqueço como se diz aquela palavra, os trabalhos acumulam, as ideias brotam de modos desconcertantes.
Faço o que me disseram pra não fazer. Insisto, uma vez só, na ideia que me mandaram abortar. 

I like things that look like mistakes

A vantagem de andar assim esquecida é que, quem sabe, te esqueço logo, paro de perseguir as horas e de aguçar o ouvido esperando o chamado.

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Qual praia?

O que é do sonho: o perigo, o salto, o mar bravo, mas cristalino, cheio de pedras. A dúvida e a incerteza, mais que a insegurança, o achar-um-caminho, o me-perdi-dos-meus, o abandono. 

O sonho foi a dimensão do sentido atualíssimo da minha vida.

Comprei comida, providenciei carinho e proteção, esperei notícia, ligação. E na espera desaplaudida refleti sobre mim, meus limites, meus alcances. 

Me and You
What can we do
When the words we use
sometimes are misconstrued

Mas é que parece que em alguns momentos eu me perdi, me abandonei, quando não me pus em primeiro plano todas as vezes que deixei de fazer o alongamento de manhã, de estudar, de ir ao cinema.
Não posso descuidar do interno. Porque toda vez que essas situações ocorrem, dispara o mesmo processo de baixa auto-estima, de se sentir um lixo. Não me interessa satisfação, me interessa consideração de avisar.

Well I won't guess
What's coming next

sábado, novembro 29, 2014

Vida e morte

Ainda hoje dizia que deixar de lado certas tentações para dar conta do trabalho deveria ser sinal de que eu estava mesmo me tornando adulta-responsável. Mas depois repensei e ser adulta neste momento se relaciona intrinsecamente com a noção de ver morrer os personagens que habitaram a minha infância. Com a idade a gente aprendeu a reconhecer que eram os mesmos atores que se revezavam em personagens infantis e adultos nos cenários precariamente concebidos, mas que por vezes tinham elementos tão reais. Ou não?
Ou não é (passível de) verdade que todo mundo quando era criança fantasiava? Que o miado do gato no meio da noite parecia algo assustador? A gente não se sentia paralisado de medo? E não tinha uma pureza e uma ternura nas relações que sempre fazia reatar os laços depois de uma piada, de uma briga sem-querer-querendo? Que um colega sempre era o dono da bola e tinha os brinquedos legais, e que outro tinha os pais sempre fudidos, devendo o aluguel? 
Que não se pode dizer a uma criança que algo que ela inventou não existe? Que nós somos desiludidos ao longo da vida e deixamos de levar ao pé da letra as expressões que nos dizem e que soavam tão absurdas?
O barril dava um consolo, uma esperança de que o menino anti-heroi tinha onde dormir e se refugiar do mundo injusto. Eu tinha uma curiosidade grande de saber como era, o que havia dentro do barril. Imaginava uma casinha com mobília bem pequena, mas que reproduzia a dos outros personagens, só que em escala reduzida.

Eu ando sacando: ficar mais velha só vai me deixar mais sensível.

quinta-feira, novembro 27, 2014

Das curiosidades que movem a mente na madrugada

A rádio mental me despertou com Tigresa de Caetano e eu corri pro violão num lamento, e a manhã nasceu azul. 

Ando distraída e curiosa, penso uma tarde e meia "e se". Antes do café eu faço ioga e comecei a reparar no espelho os meus cabelos desbotados, mas estamos em paz, abandonei o secador e deixo agora que se moldem como queiram. 

Você acredita em química entre pessoas em quais níveis? A química vocal é uma coisa dos infernos. Difícil conceber qualquer coisa sem saber a voz, um possível sotaque, as palavras mais bonitinhas pronunciadas no seu tom. Vejo fotos e simulo as vozes, projeto alguns trejeitos lendo o que me escreve. E a curiosidade me assalta e me distrai irremediavelmente.

quarta-feira, novembro 26, 2014

Pessoas perfeitas, pessoas normais

Genuinamente disposta, mas sem entender bem os mecanismos. Um pouco divertido o agir nestes termos, mas é bom descobrir pessoas normais, que são mais que as fotos beijando golfinhos ou ao lado dos carros do ano. As pessoas normais - na minha concepção - têm um ângulo bom, mas muito além disso; elas têm algo que desperta interesse e sua diversão é verdadeira, não apenas programada.
Aquelas fotos são "só para parecer bonito", sim, neste contexto essencialmente visual, mas transportam para uma dimensão peculiar e especial: a das suas histórias.

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Claro que nem sempre elas vão querer ou conseguir enxergar essa mesma dimensão em mim, mas isso faz parte da vida, e na dúvida, por mais demodê que seja, prefiro sempre agir como se eu estivesse do outro lado. 
Mas - primeiro de tudo - agir.

domingo, novembro 23, 2014

Botando a vida nos eixos

Nem toda beleza é visual. Tem uma idade que nos leva a entender um monte de coisa - antes eu achava que o tempo me endureceria, mas hoje penso que amadurecimento, no meu caso, teve a ver justamente com sensibilidade. 

terça-feira, novembro 18, 2014

Espelho

Bem, era perceptível no seu modo de falar e de introduzir a questão que algo havia acontecido. Este puto fim de semana que não nos deixou quietos. Talvez sejamos tão parecidos até na hora de sair para o mundo e conhecer pessoas.
Eu sei que não devia me importar com isso, mas a pontada no peito existiu independentemente de minha vontade, a voz ficou rouca de repente e os pensamentos embaralharam. Logo construí uma figura a partir das poucas informações e já me parece ser alguém que é exatamente o que eu não sou.

segunda-feira, novembro 17, 2014

Algumas cidades domesticadas sob nossos pés

Antônio Prata bem disse que não tem como saber se vai dar certo antes de dar o salto. Mas tem coisa que a gente vivencia e não sabe bem se é verdade quando acontece desse jeito, sem ninguém além de nós a testemunhar o nascimento de algo que pode ser.
[But maybe i'm just too young to keep good love from going wrong]
Estive à vontade, falando o que vinha à cabeça, mas me deliciando sobretudo com as histórias, com a calma dos que não têm muito a esperar porque até ali já era demais e já era bom. Tem dias que a paz e a felicidade nos empurram para os lugares.
Eu gostaria de ver as cenas de fora, para saber o que um fazia enquanto o outro entrava no bar, pegava uma cerveja e encontrava o lugar exato para ver a banda. Gostaria de ver de fora para saber a configuração dos corpos no primeiro Oi, para ver o olho fitando o nariz fino cada vez mais perto e o sorriso meio encabulado, o primeiro olhar sobre os desenhos e as feições e expressões ao sentir o perfume.
[My kingdom for a kiss upon her shoulder]
Mas nem por mil promessas eu gostaria de saber o que vai acontecer. Pode ser que algumas histórias mereçam ficar nesse lugar indeterminado entre a realidade noturna de um dia feliz e o sonho cansado, a conversa solitária.

segunda-feira, novembro 10, 2014

Forever young

E se aos 25, em vez de grandes resoluções pra vida, aprendesse enfim a assobiar? Tocar gaita? Odeon no violão? Descobrisse Bukowski? Atravessasse o Fausto? Aprendesse a desenhar? Transformasse rascunho em livro?

domingo, novembro 09, 2014

Para amigos distantes

A vida, bem como se encarrega de colocar as pessoas no caminho, às vezes se encarrega também de afastá-las. Acho que ela identifica uma diferença de sintonias e por isso a conversa e o interesse já não se sustentam. 
E nada pior a oferecer para uma amizade outrora sincera que a obrigação e a falsidade.
Tenho lembranças boas de nossos momentos felizes e penso em você sempre com carinho e desejando que encontre um bom caminho. Ainda não li o livro que me deu de presente ano passado nesta época, no meu aniversário, mas sei que quando ler vou manter um fio de contato aceso através deste interesse que compartilhávamos.

sábado, novembro 08, 2014

Narrativas

De um impulso eu li o Meu pé de laranja lima e terminei o livro aos prantos. Não seria mentira se dissesse que já na página 02 tive a sensação de que seria um livro especial, uma sensação parecida com a que tive ao iniciar o 1933 foi um ano ruim. Os dois romances guardam muitas semelhanças que disparam minha sensibilidade: narrativas de família centradas em um membro do núcleo familiar - os protagonistas Zezé, no romance de José Mauro de Vasconcelos, e Dominic Molise, no de John Fante. Famílias pobres, de cotidiano duro, que também as torna pessoas duras, especialmente a figura do pai, que em ambos os romances representa a autoridade imposta, o ápice do conflito, a violência. Os protagonistas encarnam por vezes o erro, muito embora por dentro sejam pessoas sensíveis demais, precoces demais, mas não se furtam a tentar resolver os problemas sempre da pior maneira possível, como é comum às pessoas normais
Dominic tem n'O Braço a proteção e a projeção de um sonho que não é só um sonho individual, mas que poderia tirar a família da pobreza. Zezé, como criança, tem o refúgio na dimensão da fantasia, no seu Minguinho, Xuxuruca, o pé de laranja lima que é o melhor amigo. Por outro lado, o Portuga é o maior amigo, a figura paterna carinhosa, compreensiva mas que sabe repreender, e que abomina ao mesmo tempo os palavrões pelos quais Zezé expressa sua revolta e raiva e a violência crônica com a qual Zezé é tratado em casa, além da violência psicológica, ao ser levado a crer que não é uma boa criança e que tem o diabo como padrinho. 

Zezé conhece cedo a dor e a descreve com a simplicidade de quem vê as coisas pela primeira vez. Dominic é levado a compreender que o orgulho de ser o que se é ultrapassa mesmo os maiores sonho. 

quinta-feira, novembro 06, 2014

Hipocrisia imperceptível ou disfarçada?

Já me deram a dica antes: por vezes o desapego material é muito fácil pra quem tem a possibilidade de ter. 
De repente todo mundo passou a cultuar o minimalismo material sem pensar que, pra muita gente, conquistas materiais são coisas importantes e representam, em certa medida, sonhos realizados. No registro particular posso achar supérfluas um milhão de coisas, mas devo reconhecer que muitas vezes para mim foi ao menos concebível tê-las. Um carro, um celular, uma roupa cara, todas essas coisas prescindíveis não são significativas na minha vida, mas podem representar muito na de outras pessoas, que trabalham muito para conquistá-las. Quem sou eu para julgar o seu esforço, seu trabalho, suas opções? Por mais que a ideia workaholic não me atraia, que diferença faz na minha vida que outras pessoas sejam assim? Por que suas atitudes devem me parecer então condenáveis?
Eu tenho o meu campo de consumo. Os livros não me deixam mentir, o guarda-roupa por vezes pensado para soar "desencanado" tem roupas que eu quis comprar. Eu escolhi empregar meu dinheiro nisso. É meu nível de consumo - qual o problema que cada pessoa tenha o seu?
Quem determina o limite? Eu? Elas? Você? O limite de quem?
Quão bom eu sou se limito meu consumo para, dois passos depois, bater no peito e falar com desprezo sobre as pessoas que decidem onde usar o dinheiro delas, fruto do trabalho e do tempo delas?
Você precisa de algo assim, uma fundamentação exterior para sua bondade? De uma religião, de uma crença, de um ideal, de uma vida posterior, de um motivo para ser bom, justo e correto?

quarta-feira, novembro 05, 2014

A dança

Cajuína é música de tocar em filme nacional. Eu fecho os olhos e imagino a cena: uma sala de reboco com gente dançando devagar, a câmera vai também devagar mostrando, à meia-luz os cantos empoeirados, as cinturas rodando, uma mesa de canto com bebida, sandália velha no chão sujo.

Ato de carinho é e sempre vai ser mostrar minhas músicas preferidas, introduzindo os artistas e meus contextos de arrebatamento com as canções. 

segunda-feira, novembro 03, 2014

Dos recentes passados

Precisava de um remédio que me curasse a dor da rejeição, mas não queria anular o sentimento bom que sinto surgir quando penso que, para além de mim, você está feliz com alguém. Talvez porque essas coisas todas estejam fadadas a acabar, a sumir, desaparecer no nada das coisas não-materiais não-ditas e não-vividas.

No presente a mente, o corpo é diferente. E o passado é uma roupa que não nos serve mais.

domingo, novembro 02, 2014

Incômodos

Por que preciso da aprovação de pessoas que não se importam em ser legais comigo?
O assunto me incomodou e não minto. Me fez pensar e não disfarço - por que eu devo beleza a alguém? Por que as pessoas têm o direito de me julgar por minha aparência física?

Eu fiquei pensando nisso porque magicamente comecei a me sentir inadequada em meu próprio corpo. O meu corpo, através do qual faço coisas incríveis, começou a parecer errado e inadequado. Então eu fui encarar o problema de frente, porque não é mudando o meu corpo que vou aprender a lidar com a sensação de que certos corpos parecem inadequados. Eu tenho de atacar o problema na raiz, ou seja, superar a ideia de que corpo algum, em qualquer configuração, seja inadequado.

Fiquei feliz pois falando com amigas percebi que muitas aprenderam a superar os comentários alheios e a imposição de beleza. É sempre bom e inspirador estar ao lado de pessoas que nos tornam melhores. Cada uma deu um conselho e uma experiência, que vou adequar à minha.

sexta-feira, outubro 31, 2014

A beleza dos outros

Gosto de gente que escreve e me inspira a ser melhor, mais sereno e mais aberto.
Não gosto de gente que me põe pra baixo e me deixa desconfiado, sem jeito. Gente que, sem notar, mas inconvenientemente, quer reforçar a ideia de que o que eu sou não é suficiente. - "Ah, porque não é o perfil". Perfil é o caralho. Ninguém deve nada a ninguém. Mulher não deve beleza aos homens. Eu não devo ser bonita, isso não entra no campo das obrigações ou ocupações da minha vida. Especialmente: eu não devo ser bonita pra você.
O que eu sou me é suficiente. 

segunda-feira, outubro 27, 2014

Alívio dos dias

Eu tava preocupada com muitas coisas, inclusive com as que não diziam respeito só à minha vida. Mas os resultados preliminares são positivos, ou ao menos dão abertura para uma situação melhor. 

quarta-feira, outubro 22, 2014

Que erro

Não confunda os discursos.
Não leve para o lado político suas frustrações pessoais.
Talvez as mulheres te evitem não porque busquem os "machões", mas simplesmente porque você é um babaca que, até mesmo quando fala de feminismo, só sabe ver o seu lado e bradar que "homens também sofrem" porque "mulheres também são machistas" (sic).
Feminismo não é sobre você. 

sábado, outubro 18, 2014

Metralhadora cheia de mágoas

Eu sou muito sensível às amizades. Me entristece o afastamento de pessoas bacanas, seja pelo tempo e por rotinas diferentes, seja por vacilo meu, mas nesse caso ao menos o carinho, as boas lembranças e os bons desejos persistem para mim.
Já as pessoas de quem escolho me afastar, é porque não quero contato mesmo. É porque o contato não me acrescenta nada, ou só acrescenta coisas ruins. Tem presenças que não são importantes - não são importantes, no sentido positivo, mas no sentido negativo despertam coisas muito, muito ruins. Pessoas que em público colam do teu lado pra constranger, mas que quando te encontram sozinhas abaixam a cabeça, porque não têm coragem de olhar no olho. Pessoas que acham mais fácil escrever dizendo que sentem falta da amizade depois do vacilo, em vez de efetivamente mudar o que fazem de errado. Amizade é coisa séria e perder a confiança não tem volta.
Dá um pouco de pena porque são pessoas que tiveram certas carências afetivas e históricos de vida tristes, por isso precisaram construir uma imagem para superar tristezas e para, quem sabe, passar a acreditar nessa imagem e ser feliz. 
Mas isso não justifica o comportamento falso e maldoso 
¯\_(ツ)_/¯ 
Então eu fico descaralhada das ideias quando vejo gente falsa e maldosa cercada de gente legal. Porque por um lado me dá vontade de levantar a plaquinha de "é uma cilada, Bino", mas por outro me entristece ver que nem mesmo um monte de pessoas legais ao redor foram/são capazes de transformar uma má pessoa em alguém "razoável".
¯\_(ツ)_/¯ 
Meu autoconhecimento em construção já me mostrou que não preciso conviver com estas presenças negativas para mostrar uma pretensa superioridade. Não há porque estar no mesmo ambiente de pessoas que me trataram mal para demonstrar "que não ligo". Eu não aceito e não passo pano pra quem me expõe a este tipo de situação sem a menor empatia.
Pode não ser meu melhor momento pra falar de empatia porque agi e respondi em tom egoísta, mas eu não sou da provocação, do marcar território de amizade.
¯\_(ツ)_/¯ 

terça-feira, outubro 14, 2014

Quando todos os dias se tornam madrugada-feira

O pensamento não se apreende pelos meios habituais, me parece. Ele faz seu percurso por entre os aprendizados, as memórias, as sensações; ele dá suas voltas e mergulhos e só se concentra na hora que quer. Hoje, enquanto o pensamento não se cansava de dispersar por aí, me conduziu às memórias um tico nostálgicas do ciclo começado, de forma consciente, ano passado, memórias de algo interrompido um pouco precocemente (na verdade já era tarde) no seu discurso pretensamente gentil e atencioso, mas que não correspondia cem-por-cento à ação. 

segunda-feira, outubro 13, 2014

A construção das coisas no tempo

Embarquei num projeto grandioso que me faz questionar todos os dias minha capacidade para levá-lo ao cabo e ao fim com precisão. É instigante e cansativo, sem previsão de término para além daquele formal, da entrega dos prazos, mas por dentro a revisão nunca termina, são ideias que precisariam de uma gaveta eterna para amadurecer.
É como a construção do poema do Leminski:

[um bom poema leva anos]
      um bom poema 
leva anos
      cinco jogando bola, 
mais cinco estudando sânscrito,
      seis carregando pedra, 
nove namorando a vizinha,
      sete levando porrada, 
quatro andando sozinho,
      três mudando de cidade, 
dez trocando de assunto,
      uma eternidade, eu e você, 
caminhando junto

quarta-feira, outubro 08, 2014

Do que tenho lido paralelamente.

O texto é ótimo e se chama "Sobre aquela mesma coisa de sempre disfarçada de amor-livre". E nos comentários, a conclusão fantástica: "Amar com liberdade não significa amar com indiferença".

quarta-feira, outubro 01, 2014

One way or another

Um começo é um começo e uma decisão, um passo à frente do fracasso, do atraso, da dúvida. É preciso começar de algum jeito, mesmo que sem as ferramentas; é preciso se motivar pelas possibilidades em aberto. Idealmente seria preciso fazer tudo de uma vez, porque o fluxo do pensamento não se interrompe, mas dadas as limitações, no outro dia se retoma a batalha do argumento.

segunda-feira, setembro 29, 2014

Ser forte e sentir-se forte.

Sinto que estamos (ou estou?) criando planos a longo prazo, construindo ideias e desenvolvendo um caminho sobre uma superfície ainda frágil e desconhecida. Seria possível que tudo se arruinasse apesar de toda boa vontade e carinho?

terça-feira, setembro 16, 2014

Soundtrack and polaroids

“Be awake enough to see where you are at any given time and how that is beautiful and has poetry inside”, Jeff Buckley em entrevista.

Algum dia hei de encarar, além dos projetos atuais, outros que incluam trilhas sonoras para filmes da minha cabeça. Dentre os primeiros estaria Tim Maia cantando Eu amo você ao fundo de um bailinho num fim de tarde, com as luzes do globo de discoteca refletindo no piso do salão, enquanto um casal desengonçado ensaia passos de dança fora do ritmo, ele alto e magro, de terno azul bebê e óculos de aro de tartaruga, ela de aparelhos nos dentes, vestido branco, tênis e meias até a canela.
A cena não precisa ter final. Interessa a repetição dos passos errados, desencontrados, mas que se encaixam por fim na música.

segunda-feira, setembro 15, 2014

Not if I could sing like a bird

Na dúvida sobre como agir, escolhia sempre agir com carinho. E quando não sabia como o outro reagiria, ocupava-se de si mesmo para sentir-se cada vez melhor. Mais à vontade, conhecendo-se mais, esperando menos de si mesmo.

sábado, setembro 13, 2014

We all fall in love sometimes

Pode ser que a gente sempre ouça as mesmas coisas porque nossas buscam nos conduzam para os mesmos caminhos e sejam feitas com os mesmos instrumentos.

Cozinhar à meia luz parecia o momento propício para se perguntar sobre sentidos de palavras, sentimentos e alcance das ações, propósito e intenção num campo intersubjetivo afetivo.

quarta-feira, setembro 10, 2014

As sirenes da madrugada

Uma lista de coincidências incríveis me fazem checar o tempo para sufocar certas desconfianças. 
Desconfianças que eu não deveria ter, não deveria nutrir.

Mas quem dera você ouvisse as músicas da minha cabeça. Despertaria as mesmas sensações do tipo cheiro de vitrola e do disco de vinil rodando.

Meus livros têm meu nome
gravado com data
na primeira página.
Uma aranha se esconde atrás da porta.
Como, escrevo, reflito,
como se lá fora,
não urgisse o mundo.

quinta-feira, setembro 04, 2014

Cartas modernas

Intuitivamente, faço tudo intuitivamente. As respostas, as palavras, a escrita, o cálculo do mercado, o descanso e o trabalho.


ap. 

Bruna Beber
na minha casa você pode flagrar alguém
se escondendo da rotina num quarto escuro
ou batendo a cinza do cigarro na janela
enquanto espia as roupas dançando em silêncio
no varal da área
às três da madrugada
você pode flagrar alguém preocupado
segurando uma caneca com vinho vagabundo
dormindo fora de hora
pensando demais na vida
e no tédio que é

essa falta de paixão.

sábado, agosto 30, 2014

Imediato

Com frequência se segue aos eventos sociais esse esgotamento do tipo quero-ver-ninguém-tão cedo. Preciso do silêncio e de estar só para cuidar de lugar que habito, casa e corpo: tempo para me alimentar direito, para limpar a casa, lavar as roupas, trocar os lençois após uma longa jornada interior.
Rascunhei os planos para a longínqua semana que vem e me preparo para dormir o sono recompensador. O amanhã eu vejo depois.

segunda-feira, agosto 04, 2014

Pequeno tratado da vontade

Os quereres são diversos e incluem abstenções. Neste ponto é difícil explicar porque parece razoável se afastar, deixar passar a ocasião sabidamente propícia.
Quais são os moveis da vontade afinal? 

Uma pequena revisão dos questionamentos só se dá partilhada ao som de Grateful Dead.

terça-feira, julho 29, 2014

All my little words

1. Inadequações aos montes, desajustes entre externo e interno. O gatilho vem de fora mas só expõe o que falta por dentro e a insegurança que corroi. 
Os olhos andam tristes e baixos.

2. Da entrevista de Andrew Solomon sobre depressão: às vezes a mente e o humor podem ficar mais significativos que a realidade.

3. Há muitas histórias aqui esperando para serem contadas, disseminadas inocentemente, na tentativa de que você preste atenção. Separei músicas de variados tempos verbais, sucessivamente abandonadas por suas mensagens, que não são senão o que gostaria de dizer. Existe um medo, mas a possibilidade de sua confusão também residir no mesmo bem-estar que sinto é tentadora.

segunda-feira, julho 21, 2014

Put a cloud on my single-mindedness

Muitas coisas fazem parte das novas determinações para para me tornar, cada vez mais, a pessoa que gostaria de conhecer.
Manter as boas pessoas e afastar as más foi urgente. Não aceitar o pouco, o raso, egoísmo e egocentrismo.

sábado, julho 19, 2014

Importância da lembrança

É preciso lembrar para impedir a repetição da barbárie.
É preciso lembrar dos nossos, dos bons, que cultivavam nossa língua e cultuavam nosso solo. 

Violonista no metrô, percebo pelo tamanho da unha do polegar. 
Sentados, dormíamos balançando a cabeça pra frente e pra trás, até despertar assustados com o som do aviso no vagão. Mas eu tinha um nó no peito típico dos gostares não-resolvidos, reticentes e que cavam na vida e na auto-estima um buraco. 
É preciso lembrar do que há de bom para não levar tão a sério essas situações de desentendimento.

terça-feira, julho 15, 2014

Música para os corações

Que estranho se sensibilizar assim, mas deve ser a hipótese de que não houve para alguns tempo de dizer o que se deveria e de que para outros o tudo se desmaterializou sem deixar, porém, de ser. 
São melancólicas as partidas e a capacidade de empatia com a dor e a admiração alheias não me desagradam, embora surpreendam.

sábado, julho 12, 2014

O seu lugar

O seu lugar é móvel, hiperativo, mas não é imperativo quando me pede com calma e doçura sob a forma do "por favor"; quando se aproxima demais com o rosto avermelhado.

segunda-feira, julho 07, 2014

Arte

Mahler é durativo e parece a trilha invisível da vida, um pouco sombria, mas sempre à espreita. Kusama é intrigante. Iberê Camargo me surge volta e meia com suas bicicletas de PoA.
O prédio colorido foi inundado pela multidão ávida por alguma-coisa-gratuita-no-domingo-à-tarde. Passavam apressados pelos quadros, olhando-os todos de uma só vez do centro da sala. Queriam as luzes, os falos, os lugares limitados sem notar
a trajetória do pincel
o acúmulo das tintas
a água nas bordas da instalação
esse nosso eu que já não se reconhece
o desequilíbrio inerente

sábado, junho 28, 2014

Retoque

Às vezes cansa, mas vale a pena pelos detalhes, pelas respostas, pelos retoques e sugestões.
Alguém pra dizer onde é preciso melhorar e aperfeiçoar, mas transmitindo confiança no seu trabalho.

terça-feira, junho 10, 2014

Cotidianos e personagens

Num insight tive a percepção de seu ser transparente, meio distraído e disperso, ingênuo mas genuíno.

Referirmo-nos de modo tão próximo a figuras tão distantes no tempo...Como ousamos tentar adivinhar em que pensavam eles?
Como ousamos crer na possibilidade de reconstruir seus passos, seus pensamentos, mediante cartas e papeis avulsos, fragmentos desconexos comparando a mudança da letra, a textura dos traços, os temas recorrentes, o papel usado?
Existirmos: a que será que se destina?

sábado, maio 17, 2014

Bargain

Tudo contribui para a consciência da vida adulta.

As roupas, a pergunta despretensiosa (você estava no trabalho?), o olhar cansado, a fome persistente, as contas para pagar, os amigos encerrando etapas com lágrimas nos olhos, grandes sorrisos, belos discursos.

I'm alive.

Cheguei cansada e ao ir embora estava mais ainda, mas as palavras e a percepção de que estamos caminhando - e sempre no bom caminho - valeram a pena.

quarta-feira, maio 14, 2014

"Sweet Nothing" oder "Eu devia saber"

Ou sempre soube? 
Eu deveria usar meu silêncio pra valer. Ouvir meu silêncio pra tentar me ouvir mais, ouvir mais a voz dizendo não faça, não acredite, pense. Aquela coisa, crer pra ver o quanto posso adivinhar, mas ao mesmo tempo ser racional. 

Me façam feliz/ feito esta vida não faz

Cada não, uma libertação. Da dúvida e do que poderia ser, agora não mais poderia-ter-sido. Mas eu tô quebrada em vários caquinhos, desmanchei a pose pra poder me expressar porque eu tinha raiva, porque eu não entendo que informações relevantes sejam ocultadas, não acredito que meu interesse não tinha sido notado. E não, não, não, não quero mais saber.

Eu me lembro que quando tinha uns quinze anos, ouvia A Tempestade inteira sem entender um pingo do que o Renato cantava. Eu hoje entendo e não sei se é bom compreender o que é a vida de trabalho, de saudade. 
Tenho coragem e sei quem eu sou; eu tenho um segredo e um(a) (c)oração.

[07.2013]

What's the color when black is burned?

Grandes questões da humanidade. 
Ou teenage wasteland.

Eu não vi onde me machuquei, onde deixei um pedaço da pele. Só percebi que sentia dor e achei normal enquanto não vi sangue. Há sempre uma sensação de alerta dizendo pra investigar melhor os incômodos, que no final, se mostram fundamentados. E nessa de serem bem fundamentados, ao menos me alivia saber que os motivos justificam.

quinta-feira, maio 08, 2014

Sinestesias

Você é tão calmo e transmite paz como se ouvisse incessantemente Alegria Alegria, nuns tons musicais meio Jesus and Mary Chain, mas eu estou sempre tão ocupada pensando nestes detalhes sinestéticos que nem percebo que você tem pressa e ocupações outras.


segunda-feira, abril 21, 2014

Nós, que sabemos ser duros quando é preciso (ou quando nem é tão preciso), que sabemos excluir os emails antigos, desnecessários e desagradáveis: nós precisamos aprender a ser menos inflexíveis. 
Me desfazer das roupas foi fácil, assim como dos emails e de certas lembranças; calei sem dó quem eu não queria ouvir. Mas com as músicas e os livros não. Escolho com muito cuidado o que vai pra lixeira, dou uma segunda chance, coisa que nem sempre faço na vida real.

terça-feira, abril 15, 2014

Pra tudo tem uma hora certa.
A da cerveja, já dizia o mestre, é antes do almoço pra ficar pensando melhor.
A do café é na pausa. Nem tão frio, pra não gelar a alma, nem tão quente, pra não doer o estômago.
A do trabalho é agora, mas sem pressa, sem afobação.

A hora pra se identificar com as pessoas é sempre.

sexta-feira, abril 04, 2014

São lindas essas garotas, as garotas italianas.
Têm um charme leve transbordando no sorriso sob as gotas de garoa paulistana.
A beleza de uma não impede a da outra, a atração por alguém não desmerece a por outrem.
Vamos verticalizar as relações, sem termos primários e secundários, e sim todos no mesmo nível.
Não há liberdade na hierarquia, aprendi.

E só assim é que pude ser verdadeiramente livre comigo mesmo.

quinta-feira, abril 03, 2014

Trânsito interno

em movimento: lento, mas dinâmico.

Espera-se ser uma dessas legendas desconhecidas que nunca deixam de lado suas raízes, trabalham duro, mas estão sempre em mudança. 
The Chrome and steels she rides 
collidin' with the very air she breathes

quarta-feira, abril 02, 2014

Prés e ocupações

Já quis muita coisa, dentre quereres vagos e passageiros e firmes e determinados. Olho alguns e pondero se ainda têm o mesmo significado que antes - sei que não, mas a lembrança me agrada. 
Hoje percebo que só queria mesmo tempo, uma trilha sonora permanente com Neil Young, meus trabalhos, viagem, carinho e família, contas pagas e cerveja antes do almoço pra ficar pensando melhor. 

terça-feira, abril 01, 2014

Ambulance blues

It's hard to say the meaning of this song.

As feridas ainda sangram, o desamparo ainda induz a sonhos ruins, pesadelos. 
Autonomia é preciso, mais que nunca.

domingo, março 30, 2014

A raiva move

A raiva move - ainda que seja pela imprudência, mas a raiva move. Atitudes não-recomendadas, mas a revolta move.
A raiva às vezes acalma a sensação de desamparo.

terça-feira, março 18, 2014

Da atividade da escrita

Escrever, em alguns casos, não dá prazer, mas só a sensação de dever cumprido, me explicava um amigo.
É algo como uma necessidade vital pra exorcizar frustrações e preocupações insolúveis.

O problema, diz ele, é que literatura não tem o poder de resolver estas questões na ordem prática.
Intelectual e racionalmente se encontram - até na poesia - as respostas e explicações para os diversos sentimentos da vida como as ausências de reciprocidade e a eterna inalcançada satisfação. Mas esta resolução não se transporta para a vida real e continuamos a sentir tristeza por pequenas coisas erradas, pequenas coisas que não dão certo.

quinta-feira, março 13, 2014

Disorder

Por aqui tá tudo bem. A casa nova me agrada tanto, a vida sozinha me completa.
Só me doi saber que os outros não vão bem.

Você vê no rosto o traço da angústia, no abraço apertado o pedido de carinho e proteção, no gesto desenfreado das mãos o desespero da vida querendo ir embora e, nos casos mais raros - e que nos deixam mais impotentes - as palavras sufocantes.
O "eu não sei" que cala qualquer resposta, qualquer conselho.

quarta-feira, março 05, 2014

Essa vida de adivinhar voz pela foto, pela composição das roupas e cores e sorrisos.

terça-feira, fevereiro 25, 2014

Presente do indicativo e autonomia afetiva.

Tenho umas lembranças antigas de quando ainda nos conhecíamos pouco: uma apresentação sua na mesma sala em que estive ontem. De pé, no ônibus, também me recordei da voz, do olhar e do seu sorriso escapando no rosto, naquele mesmo lugar. 
Vejo nossa história nas palavras de outras pessoas: reciprocidade mas impossibilidade.
Tento conciliar esta situação atual com as novas descobertas sentimentais e chego à conclusão - breve - de que é preciso relevar o passado e considerar no presente as pequenas demonstrações de carinho e admiração.

sábado, fevereiro 22, 2014

Under pressure

Seria eu realmente pessoa propícia a aguentar a pressão?
Estaria eu prestes a sucumbir ao peso de certos campos e mergulhar numa busca perniciosa pelo perfeccionismo que torna as pessoas malucas?
Por que agora? Espera eu me reorganizar, o mundo não vai cair por um pequeno deslize, um resultado mediano. Nem todas as pessoas são brilhantes no que fazem, nem todo mundo é gênio. É possível ter vida e felicidade e êxito sendo apenas como todo mundo.

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Just like honey

Um grande desafio chamado descrever as sensações mais intensas e contraditórias.

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Tanto

Tanta coisa a aprender, exercitar, criar domínio, desnaturalizar.
Old enough to repay, young enough to sell.
Talvez compersão seja o maior ensinamento destes meus novos tempos. Pode me ajudar a entender um monte de coisa e a melhorar muitas críticas internas.

sábado, fevereiro 15, 2014

Vivência

Morar num bloco, num prédio cheio de apartamentos, é não saber de onde vem o barulho. É aumentar o som no fone de ouvido pra diminuir esse ruído estranho que parece dizer que meu chuveiro vai explodir. A vida doméstica solitária me traz essas dúvidas e inseguranças, além de uma bolha no dedo, recente, de duas horas atrás, fruto da panela ainda quente. Pela terceira vez na semana.
Abro uma cerveja e seguro firme a lata, ajuda a esfriar a ardência do queimado.

Esqueço muitas coisas, mas há outras que permanecem aferradas na memória como o brilho no olho e as vozes. O sotaque, as expressões, o jeito meio mecânico de mover os braços. Até algumas roupas eu lembro, mas vendo fotos atuais, o cabelo mudou.
Você cresce a olhos vistos.
Quanto tempo já faz? Uns dois anos. Uma outra geração legal correu no meio destes eventos.

Sempre sinto vontade de escrever(-te), mas arranjo motivos para não fazer. Arranho justificativas.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

O trabalho e os dias

Conhecer o trabalho faz parte da admiração.
Querer saber em que consiste, querer ouvir os sons, notar os desenhos, os traços, ler os escritos mais despretensiosos. 
Mas eu recuso as vaidades, sejam elas naturais ou para alimentar egos feridos e problemas de auto estima. Não precisamos disso: o movimento é de dentro para fora. 
É preciso cultivar bem o interior.

sábado, fevereiro 08, 2014

Golden Years

A banda explode no palco e todo mundo pula junto. Sempre muito engraçado ver tanta gente séria, parecendo tão séria, brincando tão séria, sorrindo e chorando tão séria, se descabelar e dançar feio e desengonçado. 
Mas ser feliz.

Show me you're real

quinta-feira, janeiro 23, 2014

Now I'm ready to start

sempre repito isso, mas faz um efeito ótimo na minha vida: Ready to Start.

Como começar: negando o que não faz bem. Cultivando as boas companhias e sentimentos.


I guess I'll just begin again

sábado, janeiro 18, 2014

I'll never be royal

Sua resposta é delicada e tenta - me parece - aliviar o peso de algo que você julgou necessário e urgente explicar, avisar.
Não nego que por dentro senti uma dorzinha. As pessoas - elas dizem o tempo todo que vai acontecer, uma hora vai acontecer, uma hora vai rolar e eu só consigo pensar que querem manter os dissidentes sob controle de uma grande mentira, ilusão.
Aqui não tem shiny happy people.

Do I wanna know?

sexta-feira, janeiro 17, 2014

Quando me falam de você

Quando me falam de você em qualquer conversação simples sobre essas coisas banais como a vida dura a falta de dinheiro a injustiça do mundo etc, quando de repente surge seu nome, meu coração dá uma paradinha instantânea. 
Aí eu me refaço, lustro a cara e afirmo com ar blasè: acho que sei quem é. 

domingo, janeiro 12, 2014

Nunca falha

[Estou bem, estou saudável, estou feliz]

Recomendações de quem a gente gosta de ler nunca falham, e foi assim que cheguei no conto "O Salto", do Antonio Prata - a partir da crítica, de uma pequena resenha de seu livro novo por uma leitora-escritora que eu curto ler. E lendo "O Salto", curtinho, deu assim um nó na garganta querendo adivinhar o final, mas que coisa, ainda bem que não tem final, e tudo permanece no campo do "pode ser".
Porque pode ser tanta coisa!
Pode ser que a gente se surpreenda com a frase mais simples e inesperada, aquela que diz que "deve ser tão bom estudar só o que a gente gosta" e com isso a gente toma fôlego pra leitura difícil do Kant.
Pode ser que...agora vai? Literatura sempre me inspira a mais literatura.
Me sinto invencível e gigante frente à perspectiva de olhar a cidade do alto.

terça-feira, janeiro 07, 2014

Frances Ha, again

I’m so embarrassed, I’m not a real person yet.

segunda-feira, janeiro 06, 2014

As chaves de casa e simbolismos

Peguei as chaves de casa hoje e comi o primeiro lanche na padaria. Me senti adulta como nunca dantes, portando este símbolo material enquanto me adaptava à cidade, a fim de descobrir os pontos de ônibus e os melhores deslocamentos.
São Paulo pode ser linda numa segunda-feira à tarde quando se está feliz.
E mais: qualquer lugar pode ser lindo quando se está feliz consigo mesmo e com suas escolhas.