sábado, novembro 29, 2014

Vida e morte

Ainda hoje dizia que deixar de lado certas tentações para dar conta do trabalho deveria ser sinal de que eu estava mesmo me tornando adulta-responsável. Mas depois repensei e ser adulta neste momento se relaciona intrinsecamente com a noção de ver morrer os personagens que habitaram a minha infância. Com a idade a gente aprendeu a reconhecer que eram os mesmos atores que se revezavam em personagens infantis e adultos nos cenários precariamente concebidos, mas que por vezes tinham elementos tão reais. Ou não?
Ou não é (passível de) verdade que todo mundo quando era criança fantasiava? Que o miado do gato no meio da noite parecia algo assustador? A gente não se sentia paralisado de medo? E não tinha uma pureza e uma ternura nas relações que sempre fazia reatar os laços depois de uma piada, de uma briga sem-querer-querendo? Que um colega sempre era o dono da bola e tinha os brinquedos legais, e que outro tinha os pais sempre fudidos, devendo o aluguel? 
Que não se pode dizer a uma criança que algo que ela inventou não existe? Que nós somos desiludidos ao longo da vida e deixamos de levar ao pé da letra as expressões que nos dizem e que soavam tão absurdas?
O barril dava um consolo, uma esperança de que o menino anti-heroi tinha onde dormir e se refugiar do mundo injusto. Eu tinha uma curiosidade grande de saber como era, o que havia dentro do barril. Imaginava uma casinha com mobília bem pequena, mas que reproduzia a dos outros personagens, só que em escala reduzida.

Eu ando sacando: ficar mais velha só vai me deixar mais sensível.