segunda-feira, julho 02, 2018

Sobre a construção animal

A teia de uma aranha é, também, ela mesma - um processo que resulta numa fibra sintética que sai de si mesma, de seu ventre, e que se estende pelo ambiente. Vejo como se a aranha construísse algo que é uma continuidade de si, por meio do qual ela não só captura alimento (uma casa-caça), mas sente e pensa o ambiente. Esta é a hipótese com a qual filósofos e cientistas trabalham através do conceito de cognição estendida. Os experimentos provam que tipos diferentes de aranhas nem sempre seguem um procedimento automático na captura das presas, pois são capazes de improvisar novas técnicas de captura quando se interfere na estrutura da teia - inclusive nos raros casos de aranhas que vivem em colônias, numa espécie de cognição coletiva.
Para além da controvérsia da tese, de seus experimentos e críticas, é possível arriscar considerações: diferente de um joão-de-barro, o que é a aranha constrói é ela mesma, sai de seu próprio corpo e de seu próprio material. Fascina pensar na hipótese de uma construção que tenha tanto de você quanto você mesmo. 

Cf. ESTEVES, B. Teço, logo existo, in Revista Piauí, Edição 141, Junho 2018.