quarta-feira, março 31, 2010

ao meu lado, uma flor branca

sobre a mesa. Arranjo bonito, faz tempo que está ali, mas nunca havia reparado bem. É que faz tempo, também, que não ficava aqui assim, de bobeira. Uma pausa na leitura e tudo volta, um monte de pensamentos. Um bocado de coisas que deveria resolver e não consigo, e agora está até difícil de falar, de escrever - quase um medo de me abandonar integralmente no escrito, e depois não me achar mais. Eu, eu, eu, eu.
O doutor diz que o problema de todo ansioso é viver no futuro demais. Eu nem sei direito, é como se não houvesse passado, presente, futuro. As últimas semanas e o que elas trouxeram ainda não me deixaram pensar devidamente, mas é preciso fazê-lo, frente a outra semana que será ao menos importante. Que coisa, todo dia é importante, no fim das contas. Aqueles aos quais a gente nada dá, nos dão surpresa. E aqui, tenho uma segurança interna que nada me tira, nem nada me dá. Tenho dormido bem, e sequer sonhado depois de uns sonhos tão malucos.
Suspensão...estamos em eterna suspensão. Cada um sabe o que te move a escrever, ou não. Há um bloqueio, mas faz tempo que não me sinto tão calma. A única coisa que me permiti fazer foi espantar para longe aquele pássaro que, após olhar calmamente, precisava voar em outros ares. Nossa arte é ter paciência por estes dias, respirando com calma; não gostei disso tudo que escrevi, mas é como se houvesse urgência de dar uma resposta ao mundo pelos acontecimentos. Ou talvez a urgência seja de uma resposta a mim mesmo.

sexta-feira, março 26, 2010

não é pra ninguém

ou é pra todo mundo? Será que a gente consegue distinguir bem mesmo - genau - em que a gente pensa, ou do que a gente fala?

quinta-feira, março 25, 2010

Gestern

ambas venceram, dispersão e persistência da memória, cada uma ao seu modo. Mas é bom pra ver até onde as coisas podem chegar - ou não chegar, melhor dizendo. É preciso ir até o fim, certas vezes, porque as pendências puxam a vida pra trás...ando refletindo sobre qual sensação é pior: a de nada fazer, ou a de tomar as rédeas da situação para dar em nada igualmente. O peso da vida nos condena, não obstante o céu fique tão bonito até na chuva, como uma cortina espessa e cinza que não se move, não se move. Choveu tanto que a única saída era dormir, mas a questão é quanto meus sonhos não têm me conduzido senão pra própria realidade, ainda que absurdos, ainda que assustadores. Os bons presságios caem um pouco - mas só um pouco; perguntarei a Candido, então, sobre o Otimismo. Por ora, neste aspecto determinado (na verdade, ainda indeterminado) fica-se em suspensão...só não posso lembrar daquilo que me despertou curiosidade e pensamentos desde o fatídico dia, que a serenidade passa a ser algo que não existe no meu pequeno mundo.
Eu vejo o mundo daqui e ele é bom até em seus percalços, eu sei. Vamos acreditar no tempo - mercúrio-cromo ou certeza de separação?

quarta-feira, março 24, 2010

Heute:

A Dispersão
X
A Persistência da Memória

domingo, março 21, 2010

shine on you diamond

remember all that I saw; against the wall...who cares?
If you can be here or not, if you can be something I would like...
É brincar de fazer riminhas em língua estrangeira, antes de iniciar uma jornada por aquilo que nunca se viu. Qual a sensação anterior à leitura dum texto nunca antes lido? É difícil saber, e o pior, é que é uma sensação que nunca mais teremos novamente.
Eu tive um sonho esta noite, engraçado como exprimia alguns pensamentos nem tão inconscientes, mas que andavam no mínimo adormecidos. Esse friozinho faz bem, porém, e muito da emoção é do próprio organismo, descobri...mas há uma parte que só é passível de ser despertada por uma espécie de mágica muito suficiente. Há algumas coisas inexplicáveis, olhares indecifráveis; eu fico a fazer conjecturas com a ajuda de quem vejo mais paciente, ou experiente; e tantas coisas que eu queria poder resolver; dentre todas, porém, esta eu prefiro deixar assim como está, sereno.

sábado, março 20, 2010

hoje, no ônibus

hoje, no ônibus, houve um momento de tanta emoção -
era o caráter bruto das coisas
era o cinza da cidade, em seus tons
eram as diversas e infinitas pessoas, indo para onde só elas sabem
ou nem elas sabem
o velho cego do ponto
as senhoras a andar lentamente olhando vitrines, pelas calçadas sujas
o gosto de mate na garganta, e essas impressões
essas viagens que duram tempo indeterminado.
Existências fragmentadas completam-se no Todo
sem que se saibam umas às outras;
como conceber que talvez encontremos
incontáveis vezes as mesmas pessoas pelas ruas sem perceber,
como se elas não estivessem ali, não fossem.
E a emoção entalada na garganta, descendo pro estômago
o caráter harmonicamente bruto das coisas é também uma das sutilezas do mundo.

terça-feira, março 16, 2010

Wittgenstein e os mecanismos da mentira

pode ser, pode não ser - agora se você realmente quer acabar com isso de uma vez, tem de saber separar as instâncias, e parar de buscar ou escutar os desdobramentos. Fato é que acontecem coisas, e quais dessas a gente vai querer carregar para o túmulo sem que seja por aprendizado? a vida tem coisas muito boas, e outras muito más, muitas causadas por nós mesmos, e como se eximir da culpa? Ossos do ofício; até que importa o que alheios acham que entreveem nas atitudes em que nós daríamos a conhecer, mas seu eu não sei o que é bom pra mim, quem é que vai saber?
De Wittgenstein chegamos ao mecanismo da mentira; é uma visão muito leve, esses dias andam tão bons, tão cheios de descoberta. Dizem que esta palavra motiva. Sou bem chata, mas tem sigo gostoso conviver comigo mesmo nas circunstâncias que eu não conhecia; muito divertido, dir-se-ia...estamos nos movendo e crescendo, todos, cada um a seu modo. Eu pensei em dar umas respostas àquilo que não concordo, ainda mais quando a questão é julgamento, mas - no fundo - há tanta urgência na vida, que deixa passar e por mim quando a história acaba o ponto final permite que outras começam, melhores ou, ao menos, mais experientes. O tempo é mercúrio-cromo; não me acanho em ver vaidade em mim...vou levando assim, que o acaso é amigo do meu coração.

domingo, março 14, 2010

Reconhecimento

as músicas na minha cabeça ainda são as mesmas, mas quantas são as coisas que podem mudar, ora abruptamente, ora na leveza. Nada como alguém para acreditar naquilo que se crê também. Nada como um trabalho em que alguém aposta, ainda que seja hesitando; os frutos brotam devagar, mas com tanto cuidado e carinho que dá aquele ciúme, quase, quase.
Cada um é feliz ao seu jeito; importa menos saber que jeito é esse, desde que se esteja bem consigo mesmo...Tenho umas lembranças engraçadas o tempo todo, são elas com retratos do ambiente em transfomação - interior e exterior. É bom, afinal, ver que as coisas mudam - seja por nossa causa, seja como causa de nossas transformações. Sobre o que você quer escrever hoje, me perguntei? Não sei; sobre tudo ou sobre nada. Às vezes é a mesma coisa; as coisas se delimitam entre si; tudo o que é, é algo que outro não é.

quinta-feira, março 11, 2010

brand new start [ou simultaneidade e causalidade]

em tempo, pra tudo há tempo. Até pra voltar a ler o Kant, e sacar no coletivo um negócio interessante: a vida pra nós parece simultaneidade, a vida em seus fenômenos (dir-se-ia, aparições) dá a entender que tudo sempre acontece de uma vez. Mas não, o que há por trás do turbilhão é causa e efeito: se a cabeça pousada no travesseiro parece o signo de um momento só, pense-se que a covinha feita no travesseiro é efeito do pousar da cabeça.
No limite, quando as coisas se imiscuem umas nas outras, por trás da pura percepção da confusão há a causalidade dos fatos.
Brand new start. A bagunça de agora é organizada, Kant me diz. Interiormente vou ouvindo aquela musiquinha do comercial do sonho de valsa, Amarante. Sabe que esses dias me ensinam uma porção de coisas, dos modos duros que a vida põe. Sabe que nós vamos nos despedaçando entre essas lembranças - aponta pra fé e rema. O grande problema é que a dor me instiga a não ficar parada - essas coisas não são tão indiferentes quanto se pensa (e o que é pior, quanto se julga), mas é que ninguém quer perguntar o porquê dos porquês, das escolhas das atitudes. O Destino não se decide só na tomada de ações; é fruto da escolha livre da omissão. E falar de covardia, submissão, sem olhar nos olhos é remédio que só encobre a verdadeira doença; resta-nos ver de onde vem, de fato, a dor.

terça-feira, março 09, 2010

mas o que é que a gente consegue resolver?

Não aprendemos ainda nem a lidar com nossos demônios, no fim das contas, com os absurdos pessoais, essas esperas malditas e expectativas. Tudo isto é um turbilhão. Certo era Wittgenstein ao dizer que sobre o que não se pode dizer, o melhor é se calar. Intenções, distrações, estragégias, e a enorme distância entre a prática e a teoria. Eu acreditava que falar era resolver, mas sequer sei o que quero falar. Eu preciso de espaço, de tempo, de Eu mesma; e por mais que diga que não, e por mais que sejam esferas distintas da vida, a vida é uma só, e eu fico pensando nessas madrugadas todas, desde aquele tempo...como é que a gente vai saber sobre o que não aconteceu?

domingo, março 07, 2010

pra eles, o outro lado;

há coisas que é preciso terminar. Mas há coisas que devem ser feitas na hora exata, não podem ser deixadas pra depois, sob o peso de perderem um pouco do encanto.
E após umas horas estava eu ainda pensando no que foi que se quebrou nessa história toda: novas chances implicam novas circunstâncias. Acho que é assim que se percebe o quanto se muda no curto espaço de uma vida fragmentada em momentos vagos - o de ontem não sou eu, o de antes já não é mais, ainda que se tente colocá-lo naquele lugar novamente.
Tudo é válido, todavia. Afinal, eu pensara tanto e conjecturara muito, tudo isso pra, por fim, ver que o Ser difere mesmo do Dever Ser. Me lembro de ter dormido aquele dia pensando ainda nos porquês dos afins e poréns...há coisas estranhas na vida; viver é muito perigoso.
Sabe, fazia tempo que eu não sentia o gosto do meu capuccino, como nos velhos tempos. O gosto...o gosto sempre traz tantas lembranças embutidas e empacadas, atravessadas no meio do caminho.

quarta-feira, março 03, 2010

a luz do sol na caneca de café

e nossas preocupações cotidianas. Tenho a impressão de que sempre começo do mesmo jeito, frases na mesma cadência. Constante, previsível, mas algumas coisas me surpreendem ultimamente, em especial a velocidade com que tudo passa. Mas tenho medo de deixar algumas coisas pra trás, não dar a devida atenção, ser injusto, insensível - muitos males vêm da distração dentro do próprio orgulho. Meu orgulho, pondo-me de frente a mim mesmo, me torna medíocre, parece que tenho só sido errado...mas por outro lado, são tantas coisas movendo-se com uma velocidade inacreditável, que nem sei; o impensável está em frente e ao lado, acima e além, em nossas escolhas e no que virá sem sabermos ao certo. É quase sempre uma expectativa de algo novo, expectativa que não se consome, só cresce, cresce, mesmo sabendo-se "frustrada".
E me sinto forte, me sinto prestes a superar cada vez mais novas barreiras, e objetivando-me em terceiros, conhecer-me mais. O outro é sempre o melhor modo de nos conhecer, como quem vai a tatear no escuro.
Vou escrevendo ansiosamente, e preciso ver, qualquer dia, o sol se pôr por entre esses prédios. A dor me fragiliza tanto, que um não é sempre uma porrada na cabeça. Contudo, a culpa é de quem?

segunda-feira, março 01, 2010

o que essa chuva te faz pensar -

que perdi uns escritos importantes, umas frases tão boas, cheias de silêncio e dúvida.
Mas sabe que, no fim das contas, a percepção da responsabilidade das ações e omissões conduz à outra descoberta - o que é que se tem a perder?