sábado, março 20, 2010

hoje, no ônibus

hoje, no ônibus, houve um momento de tanta emoção -
era o caráter bruto das coisas
era o cinza da cidade, em seus tons
eram as diversas e infinitas pessoas, indo para onde só elas sabem
ou nem elas sabem
o velho cego do ponto
as senhoras a andar lentamente olhando vitrines, pelas calçadas sujas
o gosto de mate na garganta, e essas impressões
essas viagens que duram tempo indeterminado.
Existências fragmentadas completam-se no Todo
sem que se saibam umas às outras;
como conceber que talvez encontremos
incontáveis vezes as mesmas pessoas pelas ruas sem perceber,
como se elas não estivessem ali, não fossem.
E a emoção entalada na garganta, descendo pro estômago
o caráter harmonicamente bruto das coisas é também uma das sutilezas do mundo.