sexta-feira, dezembro 31, 2010

feliz ano velho:

o título é do Rubens Paiva, mas a história é domínio popular, dominó de acontecimentos ao longo do ano que fazem com que se queira se despedir dele. Eu, de minha parte, só aceito um ano novo se ele for realmente novo. Penso tanto, essas datas são propícias; lembro tanto, esse tempo é propício. Mas como começar algo novo preso às velharias?

Wir sind helden.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

o que eu também não entendo.

Tanta gente, tanta gente. Tanta coisa, tudo. Muita rua, muito pano, roupa, riso, palavra, desejos bons, é fim de ano, natal e não-sei-o-quê. É muito tudo, quando a gente descobre que precisa de pouco, um pouco que a gente nem sabe mais o que é, ou como medir - se é o pouco de uma presença, presença por telefone, por pensamento, ou ao vivo, a cores, naquelas cores de musical dos anos trinta. Parecia personagem de uma história surreal. Metade de mim é saudade...
Quase perdi o que acabo de escrever, da mesma forma que parece que vou perdendo outras coisas. E me perdendo por aí, como diz o médico, como quem está lutando, tentando. Foi impossível não rir de uma definição tão correta, no fundo, e sem se saber.

Saudade, daquela de romance. Saudade do que se quiser: tanta gente legal que eu conheci e me faz falta. Deveria ser um tempo de reflexão, introspecção, mas quando eu estou sozinha, agora, me assaltam tantos pensamentos que não deveriam, que não tem porquê...Eu vou aprendendo um bocado, não canso de repetir, mas a duras penas. Não achava que viver fosse tão duro, mas é o preço do mundo. sei lá. Sei lá, como em outras épocas, só sei dizer "sei lá", "não sei", em diversas línguas. Diagnóstico de uma época perdida: meus vinte e poucos anos.

terça-feira, dezembro 21, 2010

dezembro.

Vou marcando os tempos, marcando à tinta na pele. Algumas coisas se vão, e tá meio difícil escrever...falta de...sei lá. Sinto tantas saudades. Como isso é possível? E como é que se faz pra isso passar?

Tinha melhorado. Não que agora não esteja bom, mas tem uma dor, dorzinha besta lá no fundo, como sem ter porque.


sexta-feira, dezembro 17, 2010

arrumar as malas;

é como se diz: depois de tanto viajar, será que existe um porto?
Eu não sei. Não gosto de fazer as malas; dá um trabalho, sensação de que algo será esquecido. A velha sensação ruim ao saber que algo vai ser inevitavelmente deixado pra trás...tão difícil lidar com isso, ainda que todos sejam mais hora, menos hora, deixados pra trás. É que ninguém quer lidar com isso deste jeito, tão seco, tão cru - mas eu sou seco, tomo decisões abruptas...ao mesmo tempo que as histórias ternas me tornam triste e calmo e sentimental.

São Paulo fica tão bonita à noite, e mesmo quando chove. Dias há que tudo convém na hora exata, o terrível é que esta imprevisibilidade faz dos mesmos dias um ponto de retomada de lembranças. Aos poucos cada cena do filme, cada cena da rua, foram me deixando vulnerável, queria voltar pra casa, me refugiar com meus livros no pequeno apartamento e espantar qualquer possibilidade de cruzar com os velhos fantasmas que, algo me dizia, voltam a rondar. Indiretamente, warning sign; mas se há um mês e mais isso fazia sentido e preenchia expectativa, hoje me dá o impulso pra ir pra longe, onde não haja encontro, fora desta esfera na qual acho sinais o tempo todo.

Sabe, queria tanto um café, mas não tem água aqui hoje. Deveria eu dormir? Cheguei no limite do esgotamento mental e saí dele, mas estou prestes a retornar.
Pensando bem, estamos todos a buscar a excelência - tentando acertar o ponto exato. Há uma progressão nas tentativas, se isto consola....
E pensando mais ainda, esses tempos foram construtivos. Aprendi um bocado a me virar, segurando a barra mais sozinho. Caio F., venha a meu auxílio, porque o cansaço começa a impedir de pensar.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

um dia, e outro dia, e mais outro.

E essa São Paulo assim, no meio da chuva. Tão cinza, tão abafada, um calor no vento fresco. Absurdo um bicho voando no meio dessa chuva, sabe? Nunca parei pra pensar no que os insetos fazem durante a tempestade - onde se escondem, se abrigam. Eu, pequeno grande inseto, me abrigo no quarto do apartamento pequeno e quente e tão claro hoje. Tenho os ombros queimados e a cara de quem acaba de se livrar de umas lembranças amargas. Tá, elas vão se libertando aos poucos. Mas eu, sinceramente, não encontrei ainda coisa melhor que deixar que o acaso nos traga de volta as pessoas queridas. Risos, sinceridade, companheirismo, vontade de dividir uma vida assim, meio que pela metade, porque cada um a vive de um jeito, mas é sempre bom estar por perto.
"Tenho amigos tão bonitos. Ninguém suspeita, mas sou uma pessoa muito rica".

Às vezes a gente sofre, mas depois descobre que cada um passa um cortado por esses mesmos dias. E dá tanta vontade de ajudar, de tirar a dor do outro como que com a mão. Porque ninguém que a gente gosta merece sofrer - e eu sei aqui por dentro, internamente, que passa, fui aprendendo, mas quando vejo um amigo assim, a vontade é de parar o mundo e fazer tudo, qualquer coisa, que possa aliviar um pouco a dor. Paciência e tempo pra nós, eu peço, e espero, e confio.

sábado, dezembro 11, 2010

Dominique,

Tangerine, Freiheit. Palavras dispersas me vêm à cabeça. E se por um golpe de sorte se encontra aquilo que procura, mesmo sem saber o nome? Um nome, que podia ser mais simples. Olha, sei lá.
Chove fraco, como se o mundo fosse se esvair em água, correndo pro oceano e depois. E depois a gente nunca sabe, né? Se soubesse era até mais fácil, ou não, talvez.
Precisava mesmo disso, de andar por lugares que não conhecia, em que ninguém me conhecia. E lidar com coisas que me acalmam e que não pedem nada em troca, e de repente ver a chuva chegar e lavar o tempo quente, e ver a chuva ir embora e entender que era minha a hora também. E compartilhar de gostos doces, partir sem dizer o nome a ninguém. Quem sabe deu pra ajudar um pouco, vai saber. Uma vez lançada, a pedra é do diabo. Sei é que deixei coisas positivas.
E era um lugar com ruas tipo BH, mas eu era tão diferente um pouco mais de um mês atrás. Envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Tô precisando tanto viajar de novo, nesses tempos que deixam marcas em sua superação. Me diz, que blues você tá escutando agora? Me diz, será verdade a história do Robert Johnson, sabe, o pacto com o diabo na encruzilhada? Talvez eu devesse ir pra Chicago. Back to the land of California, to his sweet home Chicago. Durmo agora, e acordo enquanto todos dormem, escrevo meu livro e mil considerações, refaço minha vida, minha vida. E não quero mais saber de Outro por ora.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

It's over.

Eu sei, eu sei. Eu sei que na dificuldade de tirar algo que é substancial e interior, a gente acaba dando jeito no ser-aí exterior mesmo, mas já é uma primeira determinação.

"Estou desistindo de você, abrindo mão, renunciando, deixando pra lá, tentando esquecer".

Repito: "Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como 'estou contente outra vez'”. Me dizem isso, com ar entre deboche e é-assim-mesmo. E eu sei, porque a gente sempre sabe que alguma hora tem que fazer um esforço sobre-humano pra resolver o que não faz bem.

"Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais".

Hora de uma nova partida, então.

que chova pra carregar embora

o passado. "Declaramos o fim de uma era em que sempre sentimos as nossas vidas morrerem através das janelas". Dou passos à frente, poucos, aos poucos - essas são coisas que eu já disse, mas agora têm um significado tão especial. E é tão pouco - uma peça de teatro tão leve e tão densa, Édipo, Tebas, Destino, mas tão suficiente pra despertar o lirismo que eu precisava.

E como chove...a água despenca junto a Willie Dixon, boy, Caio F., todos estão aqui. Hegel. Todos estão aqui, tudo está aqui. Trago boas novas: de dentro. Decidi deixar de lado os velhos medos, as velhas lembranças, tudo ficará guardado com sabor de...sabor de "um dia", "when we were young, oh man, did we have fun...always". Mas agora é um novo tempo, a new brand start.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

é apenas um período

dentre vários: a dialética não é um método, é a própria ontologia, me disseram hoje. E eu fui aprendendo a ouvir; pensando em quantas coisas já me disseram tempos atrás. Hoje eu sei, mas nem sei se é vontade de rememorar isso.
"De tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa [...], uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros".

sábado, dezembro 04, 2010

pelo avesso,

como se só fosse possível me ver assim, pelo avesso. Na calada da noite, quando nada há a ser esperado ou desesperado - eu só consigo me concentrar aí. Onde está, onde andará, não sei, nem ligo mais. Parecem momentos decisivos, mas o que são eles face à roda eterna da vida, em que nada pára nem é estático?
Olhei ao redor, tudo espalhado, tudo espalhado. Sem sentido, repito: preciso achar um sentido, todo esse papo que sempre achei tão demodè. Nunca achei que olharia pro próprio quarto e veria nele mais que eu. De instante em instante assaltam-me emoções, lembrando, assistindo aquele velho e belo filme. "Sem você, a emoção de hoje seria pele morta da emoção do passado". Estou passando por momentos novos, é isso; nem difíceis, nem fáceis, mas novos, coisa que nunca senti antes: pureza simples de gostar, o baque seco de saber o que não é, não deve ser. Talvez tenha me precipitado, nunca saberei: hoje, cochilando após o banho, o cabelo todo molhado escorrendo no lençol que ainda não lavei, tive um dejavù tão forte, de que enquanto a notícia era dada na TV, eu cogitaria se você ia ligar. Mas da outra vez que pensei isso eu agi e dei o primeiro passo. Dessa vez, nem que eu quisesse.

Vou ficar cheia de cicatrizes, penso. Preciso viajar, penso. Ir pra qualquer lugar, pôr a mim mesmo em ordem. Estes sentimentos todos escorrem e molham o peito, ressecam o rosto, e o resto. Descobri uma coisa que lhe é tão cara: e por esta coisa, lembrança que você insiste em mobilizar, foi que eu percebi o quanto somos diferentes, e que nada há a fazer. As dores da vida...me deixa assim quieta, comigo, não sei buscar ajuda pra esse gosto salgado, inchaços. O corpo responde uma hora, e vira um ciclo vicioso entre o psicológico e o corporal - tudo errado, tudo torto, desconexo, desconcentrado. Achei tão bonito teu ombro salpicado de sardas pequenininhas. E de repente tudo isso não é mais aqui: se não é, é porque nunca foi, dizem; mas será que o que não mais é não é exatamente porque um dia foi? E como algo que foi deixa de ser então? Mas como tentar esquecer algo que nunca existiu: pra esquecer tem que ter existido.

A roda da vida não pára, e isso me serve de inspiração pra escrever. Porém, o que escrevo está como eu: cheio de marcas, meio seco, ou transbordando emoção contida, parece choro de uma vida inteira. Mas na roda viva da vida, nada é eterno, e tudo vira do avesso, e o avesso do avesso.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

when the truth is...

o que eu percebo é que tenho de aprender uma porção de coisas ainda. Uma porção mesmo. Eu nunca escolho resolver problemas quando percebo que vou sair perdendo, mas depois desperto: não é um jogo, não há de ser; é vida. Talvez por isso doa tanto, e os dias ficam meio vazios, momentaneamente preenchidos por coisas que a gente não imagina que possa: estímulos de onde menos se espera que dão uma força pra ficar tranquilo, um pouco ao menos.
Mas toda vez que eu volto pra casa, que eu chego em casa, revejo uma cena como nunca pensei que fosse acontecer. Como nas literaturas e ficções, aquilo tudo: a dor, uma saudade irracional como a de Caio F. Não é questão de voltar atrás - e nem se voltasse, não sei se aceitaria - mas a questão é como as coisas são. É como as coisas são, o indivíduo moderno dividido: entre o que quer o que pode, o que quer e o que deve querer. Parece bobagem-clichê, mas pra mim soava como insistir não no erro, porque nada é errado, mas em algo que dava sinais de não dar certo.
Tá tudo tão em graça, tão sem perspectiva agora. Eu sei que essa ausência é abertura, como nos dias em que nada há pra se esperar, de modo que tudo pode ser esperado. Não precisava de muita coisa, só do que não dá pra ser: que fosse um pouco diferente.