sábado, dezembro 04, 2010

pelo avesso,

como se só fosse possível me ver assim, pelo avesso. Na calada da noite, quando nada há a ser esperado ou desesperado - eu só consigo me concentrar aí. Onde está, onde andará, não sei, nem ligo mais. Parecem momentos decisivos, mas o que são eles face à roda eterna da vida, em que nada pára nem é estático?
Olhei ao redor, tudo espalhado, tudo espalhado. Sem sentido, repito: preciso achar um sentido, todo esse papo que sempre achei tão demodè. Nunca achei que olharia pro próprio quarto e veria nele mais que eu. De instante em instante assaltam-me emoções, lembrando, assistindo aquele velho e belo filme. "Sem você, a emoção de hoje seria pele morta da emoção do passado". Estou passando por momentos novos, é isso; nem difíceis, nem fáceis, mas novos, coisa que nunca senti antes: pureza simples de gostar, o baque seco de saber o que não é, não deve ser. Talvez tenha me precipitado, nunca saberei: hoje, cochilando após o banho, o cabelo todo molhado escorrendo no lençol que ainda não lavei, tive um dejavù tão forte, de que enquanto a notícia era dada na TV, eu cogitaria se você ia ligar. Mas da outra vez que pensei isso eu agi e dei o primeiro passo. Dessa vez, nem que eu quisesse.

Vou ficar cheia de cicatrizes, penso. Preciso viajar, penso. Ir pra qualquer lugar, pôr a mim mesmo em ordem. Estes sentimentos todos escorrem e molham o peito, ressecam o rosto, e o resto. Descobri uma coisa que lhe é tão cara: e por esta coisa, lembrança que você insiste em mobilizar, foi que eu percebi o quanto somos diferentes, e que nada há a fazer. As dores da vida...me deixa assim quieta, comigo, não sei buscar ajuda pra esse gosto salgado, inchaços. O corpo responde uma hora, e vira um ciclo vicioso entre o psicológico e o corporal - tudo errado, tudo torto, desconexo, desconcentrado. Achei tão bonito teu ombro salpicado de sardas pequenininhas. E de repente tudo isso não é mais aqui: se não é, é porque nunca foi, dizem; mas será que o que não mais é não é exatamente porque um dia foi? E como algo que foi deixa de ser então? Mas como tentar esquecer algo que nunca existiu: pra esquecer tem que ter existido.

A roda da vida não pára, e isso me serve de inspiração pra escrever. Porém, o que escrevo está como eu: cheio de marcas, meio seco, ou transbordando emoção contida, parece choro de uma vida inteira. Mas na roda viva da vida, nada é eterno, e tudo vira do avesso, e o avesso do avesso.