domingo, setembro 29, 2013

Antes

Antes mesmo de começar a ler Os Sonhos de Bunker Hill meu coração estava pequenino, apertado, só com a apresentação do Caio Fernando Abreu, que prenunciava: as pessoas, de muitas maneiras estranhas, tortuosas, piradas, no fim das contas só querem amar e ser felizes. 

Olhando a cidade e as possibilidades, andando no sol até o pé doer para depois dormir um sono sem sonhos, pesado, que a chuva não acorda e o despertador não interrompe mas só a fome, me apaixono repetidamente pela cidade. Tudo está aqui ao mesmo tempo, eu quero morar no coração da cidade para consumir seus ecos, ruídos, suas fumaças, presenças, personagens anônimas dormindo na rua, nas praças, no viaduto 9 de julho, sob as árvores altas, embaixo do minhocão. Eu me acostumo com um mundo novo aos poucos, só aprendo devagar a entrar e sair dos prédios com sistemas próprios.
Só aprendo devagar a lidar com aquilo que tem funcionamento próprio:
seu egoísmo,
meu egoísmo,
nosso egoísmo,
as informações importantes que você oculta,
seu oportunismo.

Prefiro ficar com minhas coisas e comigo.

quinta-feira, setembro 26, 2013

Blackbird

Sinceramente,
as pessoas não são muito sinceras e já tô de saco cheio. Quero nada demais, só não quero me surpreender negativamente. 
Dá pra ser simples e franco ao mesmo tempo, não dá? 
Palavras gentis não fazem mais sentido

You were only waiting for this moment to arise.

quinta-feira, setembro 19, 2013

Plástico

A sua beleza, eu bem sei, não é de verdade. A pele firme e preta e trincada de desenhos não é de verdade, não é para mim, porque quando te olho e você me olha de volta - ou ao menos assim parece - e eu baixo os olhos com um tanto de vergonha, eu sei que você não está ali, não está nem aí pra mim. É das belezas que não são de verdade, porque eu nunca terei, experimentarei, vivenciarei a sensação de ter esta beleza toda ao meu lado. 
Você é cheio de detalhes, de nuances fascinantes, tem gostos que eu admiro, mas eu sei, não é para mim. Eu jamais daria conta de estar alguém tão, hm, superlativo ou algo que o valha, jamais daria conta de estar alguém tão plural, tão onipresente, com tantos amigos, tão amado, tão disputado. Eu talvez estivesse numa boa com quem assim o fosse na mesma medida que eu sou (ou seja, bem menos, bem mais mediano), mas compreendo que talvez seja só armadilha da mente, porque nas oportunidades reais e presentes eu não me vejo no entusiasmo e continuo cozinhando em banho-maria, fogo morno, apesar de reconhecer que, sim, é legal, sim, tem características que em abstrato sempre me excitaram, mas que unidas e personificadas não me movem a grandes feitos.
E assim ficamos: eu intimidada quando tenho de devolver sua moedinha que caiu nos meus pés na fila do mercado, encontrando você em todos, todos os lugares que frequento, desde o cinema ao lugar de fazer esporte ao restaurante à festa e etc, mas sem grandes interesses por quem me procura.

quarta-feira, setembro 18, 2013

Felicidade

Felicidade é ter tempo.

quarta-feira, setembro 11, 2013

De novo, Frances Ha

Você pode ter tido más experiências neste âmbito em especial na sua vida, desde pequena. Acredite, não só você. Eu também. Todas nós, talvez. Mas sério mesmo que você acha uma boa pensar que as mulheres ao seu redor estão competindo com você, quando poderiam - caso se baixe a guarda - compartilhar de tanta coisa legal?
As pessoas estão empenhadas em encontrar o amor da vida, alguém pra preencher os domingos, as camas, pra dar segurança e estabilidade e filhos e blablabla mas não percebem a felicidade que as várias pessoas da nossa vida proporcionam. Em cada momento é possível ter amigos cujos olhos se procurem nos extremos de uma sala, não por possessividade ou tensão sexual, dizia Frances. É só porque é um gostar genuíno, que não exclui outros gostares e quereres. 
Toda vez que alguém diz que não acredita em amizade feminina eu sofro um pouquinho, porque em muitos casos, é só o que tenho a oferecer. Suas (minhas, nossas) más experiências nada têm a ver com o fato de terem sido mulheres a te/me/nos decepcionar - foram pessoas, em alguma medida influenciadas por criações e estereótipos de gênero que levam a crer que mulheres não teriam amizades sinceras e simples como os homens.
Sobretudo, além de sofrer um pouquinho, eu tenho muita pena. Acreditar nessa bobagem é perder uma força incrível. 

quinta-feira, setembro 05, 2013

Epifanias contínuas após assistir Frances Ha

Tudo pode dar certo no final - o apartamento, os planos, o trabalho, os amigos, desde que se assuma que há erros. Talvez seja caso de incorporá-los à vida. E não necessariamente tem que ter parzinho no final, encontrar o amor que sempre esteve ali, porque de repente isso de ser inacessível e inatingível rola mesmo. 
Uma hora se deposita sua confiança em quem não está preparado - não te quer mal, só quer os próprios planos. E a partir disso se vai pulando de história em história, de casa em casa, amigos em amigos. Nem sempre se é tão bom naquilo que se quer ser naquele momento, e a vida vai passando, as pessoas se arranjam, mesmo nos arranjos mais improváveis e por fim se é jogado num nada, trabalhando só pelo dinheiro, e tudo parece acabado e cansativo. 
Mas tudo pode se arranjar quando se aceita um convite, ainda não o exato, o desejado, e se constroi aos poucos a vida até chegar ao fatídico dia de ter um canto em que caibam os braços abertos e um abraço.

Saí do cinema um pouco emocionada e com a sensação de descoberta de que tudo vai dar certo. A moça desajeitada é facilmente identificável conosco - nós, os deslocados, os que confiam demais, que parecem mais velhos, os sem dinheiro para o aluguel, os não-bagunceiros e sim ocupados, altamente inacessíveis, sem grandes talentos mas com uma calma inabalável. 

segunda-feira, setembro 02, 2013

Terapêutico

Escreve pra passar a dor, pra exorcisar a recusa, pra entender o que aconteceu no ponto em que as coisas não aconteceram mais, ouvindo Losing my Religion e lembrando a festa. Ninguém quer ir embora, nem mesmo quando o dia surge, se acendem as luzes e as pessoas fazem confissões confusas curiosas interessantes relevantes importantes...e dolorosas. 
Talvez no fundo seja todo mundo assim, meio sozinho, meio bêbado, meio carente, meio desorientado, meio indeciso, meio determinado a resolver pendências na hora errada. Me doeu porque o mundo anda tão complicado e é tão difícil encontrar alguém disposto, que responda na medida à timidez, à iniciativa, à falta de pressa mediante frente à conversa que flui, que tenha semelhanças de origem, que compartilhe de ideais legais. Uma parte desejou que fosse feliz, mas a outra desesperadamente queria que escolhesse o outro caminho, embora, muito embora, isso não resolvesse nada depois do que foi dito. 
Pensando bem, depois do dito, essa parte queria mesmo era que desse errado pra poder dizer "bem-feito".