terça-feira, dezembro 09, 2014

Uns dias em três atos

I. Você saiu e imediatamente eu percebi que deveria escrever pra guardar alguma coisa desse momento, do seu cheiro, do seu jeito de falar poesia logo de manhã, de abrir o jogo e ao mesmo tempo ser direto sobre os assuntos que não quer abordar. No fundo você é um pouco eu e eu só queria dizer ou ter dito o quanto adorei esse encontro que eu já nem esperava, e que talvez foi bom exatamente porque eu nem esperava. Eu vou levar um tempo até decifrar muitas referências e entender sobre as cidades; quem sabe eu até vou precisar de todo o tempo que você estiver fora domesticando umas cidades sob os seus pés. E vamos aprender a lidar com o impulso de falar o que pensamos sem que isso nos magoe. 

II. Justo hoje me chegam mais referências sobre o Boyhood e sua trilha sonora não-meramente-fictícia. O Black Album foi criação real do Ethan Hawke pro aniversário de 15 anos de sua filha. Assistir este filme se coloca pra mim como uma imposição, e urgente.

III. Eu li hoje Bruna Beber falando sobre o papel 40kg. Ela concluia: "diga a seus amigos, numa manhã comercial, que você está com saudades de algum item afetivo da sua infância e eles vão entender automaticamente que você tá com saudade deles". Fiquei pensando nesta ligação entre o material e o afetivo e é o tipo de coisa que faz muito sentido pra mim. A vitrola, os panos bordados, certas roupas de infância...E, mais que isso, o sensorial: o cheiro da vitrola, o cheiro da madeira do violão, o cheiro dos bancos do prédio de Letras, o cheiro da coberta velha, cheiro do pão francês com queijo e pepino na madrugada da viagem pro Rio.