segunda-feira, outubro 28, 2013

A cidade, mais uma vez

A cidade, mais uma vez. A entidade. Já não aquela da orla, do pôr-do-sol, mas a da garoa. Das pessoas que aqui vivem e dizem: "quero sair daqui, essa cidade ainda me mata".
A cidade não mata, porra. A cidade oferece estrutura - precária para a maioria - mas não é ela a causa da sua infelicidade. É especulação imobiliária, má-gestão, que aumentam o preço dos nossos ônibus, nos empurram para a periferia onde o aluguel dá pra ser pago, mas não se vive para além do trabalho-emprego. Mas veja bem, não é a cidade. É o sistema, são as pessoas.
A cidade tem nada com isso. Cresce não por conta própria, mas por aquilo que fazem dela. 
Às vezes ela responde aos abusos com a chuva, com o calor, mas não é ela a causa do seu mau-humor. Eu sei que praia é legal, mas São Paulo é e sempre será, afora Berlin, o refúgio dos esquisitões, dos solitários, dos que cultivam a própria companhia.
E só quem veio de uma cidade onde se sentia oprimido e deslocado compreende como é bom estar em casa.