quarta-feira, novembro 25, 2015

As justificativas

Li um interessante artigo chamado "Orientalismo e guerra ao terror: uma biografia do fracasso", de Murilo Cleto. Eu, pouco entendida da situação atual mas cética em relação às justificativas correntes, achei esclarecedor acompanhar o processo de formação de uma imagem que embasa ações e a escolha de um lado da história.
É elucidadora a explicação do autor sobre o Oriente como invenção do Ocidente, em referência a Edward Said, bem como a transformação do termo "bárbaro" ao longo do tempo. No fundo se trata da insistência no processo de diferenciação entre "eles" e "nós", que dá abertura aos ataques e preconceitos contra "eles" a fim de proteger esta sagrada instituição que somos "nós". O orientalismo, afirma Cleto citando Said, é “'um estilo de pensamento baseado numa distinção ontológica e epistemológica feita entre o ‘Oriente’ e o ‘Ocidente'. E orientalista é, portanto, todo aquele que ensina, pesquisa, escreve sobre o Oriente e aceita a clivagem entre Leste e Oeste como ponto de partida para o mapeamento de suas caracterizações políticas, culturais e sociais". Com minhas palavras: a voz do "nós" ao falar sobre "eles", ao termos a pretensão de falar por "eles".
Um aluno da Síria frequentemente me alertava sobre como esta ideia de um "lá" que não é como "aqui" pontua as relações. E que na real ninguém se define exclusivamente por ser de "lá" ou "daqui". Me parece que falta isto: ouvir as pessoas, não enquanto alguém de "lá", mas como qualquer pessoa que tem algo a dizer. Falávamos hoje de profissões e brinquei a respeito do modo pessimista como ele descrevia as atividades dos pilotos. Ele se explicou: "é que no meu facebook vejo o tempo inteiro aviões caindo e destruindo cidades e pessoas..."

E por fim, um trecho que ficou na minha cabeça, martelando a ausência de artefatos e categorias para lidar e compreender o "eles": "Maomé não é odiado apenas por ser um profeta como qualquer outro, mas por representar uma espécie de anticristo diante da lógica maniqueísta de compreensão teocêntrica do mundo".