quinta-feira, julho 12, 2012

Uma época, eu ouvia Muddy Waters incessantemente,

mas agora, quando eu titubeio um pouco no Português, perdendo minha língua sem sequer saber de fato outra, ouço muita música brasileira sempre que bate a saudade; seus sons adquiriram outro significado. Só na paz interior e dos fatos é que consegui, como retrospectiva, perceber o tanto de mudanças dos últimos tempos. Mas devo confessar: eu fiquei inebriada foi com o vídeo da primeira vez que Neil Young tocou Heart of Gold; eu vi esse vídeo vezes seguidas e fechava os olhos e lembrava do modo de procurar a gaita nos bolsos. Tenho também procurado o essencial pra canção da minha vida em diversas formas de sustentar tudo isso ao mesmo tempo: o aqui, o lá, a desconfiança de que pessoas importantes se encontram duas vezes na vida... 
Mas se assim for, quantos personagens retornarão: talvez aquele que me decifrava veladamente, ao passo que acreditavam numa imagem tão ocasional, pondo a perder a descoberta de como eu realmente era. Eu me questiono hoje porque não deu certo, mas quem sabe eu encontre de novo por aí a figura daquele moleque meio revoltadinho com a vida, um pouco insatisfeito, com seu jeito vulgar, comum, que hoje eu percebo o quanto era legal e que me lembra o Robbie Williams nos vídeos ao vivo, sabe se lá porquê. 
A gente tinha até uma música e um lugar, me lembrei sem querer. 
Ou quem sabe algum dia retorne também o poeta louco e todo meu sortimento de "e se..." - continuo, porém, curiosa por saber sobre o que escreve uma pessoa que pega a inspiração ao andar sozinha pelas praças em dias de vento e neve. 
Ou quem sabe reencontre - num reencontro digno, não os banais encontros pelos corredores - uma espécie de reflexo, meu-eu-daqui-alguns-anos, evoluindo pra se tornar elegância, um pouco de mistério, inteligência e opiniões controversas.  
Acho que o tempo passa e faz mudar as prioridades, por isso deixei de desejar os (re)encontros para os quais me havia "programado", acreditando que aconteceriam como nos filmes em que a vida dos personagens se direcionava para o retorno no pós-guerra, para esse reencontro no qual desejo e interesse permaneceriam mesmo depois de tanto tempo, de tanta gente, de tanta experiência, de tanta mudança. Eu já tive o melhor. Agora é buscar o melhor depois desse melhor, e não o mesmo de antes.
Será mesmo que vale a pena rodar o mundo pra vir parar de novo na mesma instabilidade?