sábado, fevereiro 06, 2016

Anos dourados

As fotos aleatórias contam uma história: no início eram felizes. Um terceiro documentava os passeios, num claro indício de uma família receptiva e com "amigos do casal". Numa das fotos, diversas felicitações pelo novo filho. Comemorações de aniversário, casamento, passeio no parque. Nas mais recentes poucos comentários, e vez ou outra uma tentativa de descrição retroativa: uma das partes afirma que ali acontecera tal coisa, observações que me soam uma busca pelo perdido, por resgatar o ambiente daquela época. "Éramos assim, fazíamos isso". Já agora surgem fotos da família fragmentada: os filhos nao aparecem mais juntos, menos ainda os pais.
Tenho uma sensação estranha nesta narrativa, porque me reconheço um pouco envolvida. Cheguei depois, mas ainda posso imaginar o efeito do verso: "me vejo ao teu lado; te amo? nao lembro". É possível esquecer o sentimento? Negá-lo, sim; superá-lo, talvez; mas esquecer algo grande, a construção de uma história, de uma família, de uma vida juntos - ainda que de mentira - nao me parece cabível.