terça-feira, outubro 13, 2015

Reconciliação

Eu já não me lembrava de alguns apelidos, olhei para algumas pessoas com estranhamento - alguns mais gordos, mais velhos, com o rosto marcado pelo tempo. Mas eles, o centro da reconciliação, lembravam de tudo: olhavam as fotos, compartilhavam lembranças e sensações que nunca saberemos ao certo como eram. As casas antigas onde moraram, as roupas daquela época, a pobreza absurda, as baratas que pairavam à noite. Fiquei olhando minha mãe (re)construir sua história, como ela mesma disse, junto do irmão outrora afastado. As fotos rodaram de mão em mão, os filhos do meu primo conheceram imagens da avó e da bisavó em um tempo longínquo que habita recordações quase soterradas: mas alguém puxou as lembranças para fora, pra superfície do presente, e de repente estávamos todos num churrasco de domingo tentando superar os anos, as diferenças, pra ver se dá pra reatar os laços. Aí eu me toquei de que não só eles estão diferentes, nós somos outros - o tanto que nossa vida mudou desde então! Foi um bom domingo. Presenciei um momento como os que costumo ler: a família, sendo a última unidade política moderna, se representa de variadas formas no romances familiares, quiçá meus preferidos, sobretudo nos conflitos. E nas reconciliações.