terça-feira, março 08, 2016

Mulher

A romantização da mulher forte, guerreira e determinada serve muito bem à sociedade que nega direitos, quase a ponto de justificar que a gente tenha mesmo que se desdobrar na vida porque naturalmente seríamos assim, feitas para suportar a dor e o peso do mundo. Tenho um orgulho absurdo das mulheres da minha vida: avós, mãe, irmãs, amigas, parceiras ou figuras longínquas que admiro, mas eu preferiria sentir orgulho só das conquistas e das histórias positivas e não porque sobreviveram a tentativas de assassinatos, abusos, assédios de toda sorte, ou porque criaram filhos sozinhas ou em guardas compartilhadas ilusórias, ou porque faziam três turnos pra dar conta das coisas, ou porque ilustram as estatísticas de uma denúncia a cada 7 minutos, ou porque abandonaram seus sonhos para ser o alicerce de alguém. Quero que sejam lembradas pelas escolhas e porque tiveram escolhas, porque foram o que quiseram e não o que tiveram de ser. Um ano inteiro de descaso para um viva às "super-mulheres" - e passada a data e as flores, há o retorno ao esquecimento, ao apagamento, à exclusão do mercado de trabalho ou aos subempregos, ao isolamento no exercício da maternidade, aos relacionamentos que minam a autoestima. Que a luta e a força sejam características nossas quando - e se - a gente quiser.