sexta-feira, maio 27, 2016

A amiga genial

Escrever é fazer surgir.
Ler é existir em silêncio

Comecei a ler A amiga genial meio à toa. Andava - ainda ando, a bem dizer - dispersa, distraída, ansiosa e um pouco triste. É a hora de buscar refúgio numa existência silenciosa, pensei, e fui olhando todos os muitos livros até que algum me fisgasse. A amiga genial vez ou outra aparecia a mim mas eu desviava, até que topamos de vez e comecei a ler esperando mais inspiração que uma boa história. Mas encontrei os dois e no final não pude evitar o sonoro "caralho". É um livro muito bom. O melhor de minha vida? Com certeza não. Mas tem ritmo. Narra a infância como tempo de duras realidades, ainda incompreendidas, às quais se misturam as fantasias de um mundo melhor. Me lembrou alguma coisa de romances de formação, o crescimento das crianças, as famílias que se conhecem desde antes, os apelidos carinhosos. Me lembrou uma espécie de Boyhood com conflitos palpáveis, com aventura, reviravoltas, violência, pobreza. Mas ali estão também todas as coisas: a enunciação do "antes", a experiência de desmarginação, a descoberta da política, os conflitos teológicos, estas coisas do núcleo duro da vida. É um livro deveras rico.