quarta-feira, novembro 18, 2009

Planta e jardim.

É preciso cultivar.
É preciso cultivar: plantas e jardins.
Mas como é difícil semear, regar, esperar crescer,
ter cuidado e atenção aos detalhes
para não passar por cima de brotos ainda escondidos,
não evidentes.
E como é difícil vê-los crescer um pouco feios,
frustrando expectativas,
quando se queria tudo intenso e colorido
e arrebatador.
O verde seco não causa admiração
nem as folhas ruças, opacas,
sem vida apesar de água e carinho.
Quanta desilusão pela espera,
pela aposta no florescer, desabrochar;
é por isso que muito se esqueceu de jardins e plantas,
nessa selva de pedra e asfalto - não falta espaço, terra, mas coragem
para assumir a expectativa de uma empresa perigosa em seus riscos.

Andei plantando umas mudas,
que, de fato, tão mudas eram que nunca se expressaram a mim.
Abandonei-as quase completamente,
não as molhei mais, não preocupei com o alimento
nem com o sol em excesso ou falta,
embora soubesse que elas nunca me pediriam para voltar.
É estranho que possa haver coisas que,
por mais que nos doa perdê-las,
jamais sentem dor se as abandonamos.
É estranho que não sejamos insubstituíveis,
indispensavelmente necessários
para simples e frágeis plantas,
que preferem morrer a pedir ajuda.

Acho que eu precisava de algo que me fizesse sentir
mais importante, e me chamasse de volta pro mundo.
Esses jardins têm me feito duvidar até de mim mesmo.