quinta-feira, junho 04, 2015

A softer world

Estou cansada.
C A N S A D A
Pedacinhos do meu corpo pedem descanso e algumas horas a mais para terminar os trabalhos, sentir a cidade, resgatar a lucidez. Estamos todos amedrontados mediante a possibilidade iminente de enlouquecer. É claro, há que se perguntar: que é a loucura? que é a razão? Desconfio cada vez mais de que existe um mundo fora do círculo burocrático, das relações diplomáticas, um mundo íntimo que só se compartilha consigo mesmo, mas vivido no externo. Não é um parque de diversões na cabeça, é ~real~. 
Hoje, enquanto descia de ônibus a rua movimentada, capturei a cena: no boteco-pé-sujo, homens se amontoavam na porta bebendo cerveja e olhando as garotas. Lá dentro, meio de costas pra rua, um senhorzinho tocava um violão como que fazendo uma serenata pra cachaça à sua frente, pousada sobre a mesa. Segurava o violão como os sertanejos antigos, era muito humilde, roupas simples, sem chapéu. Bebia cachaça. Com os fones de ouvido e de dentro do ônibus não pude ouvir sua música, nem os homens parados à porta, nem o garçom, nem os passantes. O violeiro nitidamente vivia a realidade dele, no mundo dele, inacessível a qualquer um que não fosse ele.